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140 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 123

ponto. Considera-se dose moderada 1 grama a 1 gr,5 de álcool por 1 quilograma de peso.
O vinho vende-se em garrafas de 7 decilitros e de 1 litro, o que dá a quantidade que os clínicos indicam para um adulto de 70 quilogramas.
Se a capacidade das garrafas foi estabelecida empiricamente, ela está de acordo com a ciência clássica.
A dose moderada harmoniza-se com o trabalho moderado.
Assim, quanto a calorias, um funcionário, um intelectual ou um empregado de comércio, com trabalho moderado, gasta cerca de 2:300 calorias; um indivíduo de trabalho médio, marceneiro, sapateiro ou alfaiate, tem necessidade de 2:500 a 2:800 calorias; num trabalho intenso, como o dos cavadores, dos mineiros e talvez dos da ceifa, 3:000 a 3:300 calorias. E quando o trabalho e excessivo, isto é, o dos rachadores de lenha e ferreiros, o número exigido de calorias vai até 5:000 e mais.
Em homens, em trabalhadores como os nossos do Centro o Norte do País, que se alimentam com um bocado de broa, uma sardinha e alguns legumes verdes, eles vão buscar ao vinho o complemento da sua ração, o assim o vinho é necessàriamente um alimento.

O Sr. Querubim Guimarães:- V. Ex.ª é um médico muito distinto, mas se eles vão buscar ao vinho tudo isso não necessitavam talvez de pão ...

O Orador: - O vinho é um alimento de poupança, embora não seja um alimento propriamente dito.

O Sr. Querubim Guimarães: - Talvez mesmo assim o vinho seja melhor que um bife com batatas.

O Orador: - V. Ex.ª parte do princípio de que os homens são manejáveis como manequins e que a fisiologia das pessoas é coisa a não ter em conta. Vou citar um caso de que um médio que esteve na Flandres na outra guerra foi testemunha.
Nós estávamos enquadradas na divisão inglesa, lutávamos com os ingleses e a certa altura comíamos com os ingleses.
Os nossos soldados achavam repugnante o corned-beef. Foi necessário arranjar hortaliças e legumes para lhes dar.
Esse meu colega, que aliás é distintíssimo - cruz de guerra, de 1.ª classe -, verificou então que os nossos soldados vomitavam o corned-beef e conservavam as couves no estômago.
A fisiologia do nosso trabalhador é esta, e, como é tradicional e secular, é preciso não lhe mexer muito para não a estragar.

O Sr. Quelhas Lima: - V. Ex.ª dá-me licença?
Desejo felicitar-me com a opinião de V. Ex.ª, mas duvido um pouco do caso das calorias, porque sobre esse assunto ainda imo estou bem esclarecido.
Afãs, como V. Ex.ª acaba de citar um facto da Grande Guerra, eu, se V. Ex.ª me desse licença, citaria um outro que também acho precioso e que serve para elucidar o assunto da chamada fisiologia.
Depois da sacudidela do 9 de Abril houve um regimento que recebeu ordem para retirar para a retaguarda e acantonou em determinada ponto. Era comandante um jovem tenente, hoje ilustre oficial.
Tratou-se de estabelecer o acampamento e fazer a respectiva comida. O cozinheiro promoveu o necessário e, quando tudo estava pronto, os soldados dirigiam-se em bicho para receber a sua alimentação. O comandante viu que em cada tachinho ia apenas uma pequena batatinha e um bocadito de carne, e pediu esclarecimentos ao cozinheiro. Este respondeu que era a tabela.
O comandante mandou deitar mais em cada tachinho, e, é claro, em certa altura, a comida esgotou-se, tendo de se lançar mão de conservas e outros alimentos para abastecer o resto do regimento.
Da base chegam imediatamente médios e oficiais, dos técnicos das calorias -, que fazem o estudo in loco e depois fazem esta advertência ao jovem tenente: «Você não tem razão e sujeita-se às consequências. A nação para cada uma das praças é inteiramente rigorosa; tem tantas calorias».
Ele respondeu dizendo: «Não, mas é que o almoço não era de calorias, era de carne guisada com batatas».
Isto significa, corroborando a opinião de V. Ex.ª, que esta coisa de fisiologia do homem não é coisa aritmèticamente definida.

O Orador: - Portanto, verifica-se que o alcoolismo se não observa como doença social nos povos que têm vinho a sua disposição e o bebem.
Quanto aos casos referidos pelo Sr. Deputado Mendes de Matos, que resultam do mau convívio nas tabernas, é claro que têm de ser resolvidos pela educação do povo e parece-nos de desejar a limitação da venda de bebidas espirituosas porque, essas sim são fontes de alcoolismo e conduzem, de facto, a doenças sociais de que tenho vindo a tratar.
Como afirmou o ilustre Deputado engenheiro Homem de Melo, uma das fornias de combater o alcoolismo está exactamente no vinismo.
As interdições conduzem inevitavelmente às fraudes. Fecham-se as tabernas, os operários não têm distracção, vão para essa fabricar produtos alcoólicos impuros, altamente nefastos à saúde. O resultado será contraproducente.
Quer dizer, teremos um um maior, teremos unia situação pior.

O Sr. Mendes de Matos: - Não é isso que está demonstrado com a experiência em Portugal; é exactamente o contrário.

O Orador: - Para mim, e com isto vou terminar as minhas considerações, o maior inimigo do alcoolismo é o vinismo.
Apoiados.
Os casos de degenerescência apontados por V. Ex.ª e por diferentes estatísticas não nos elucidam sobre o que bebem os criminosos que foram encontrados nas penitenciárias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E vou mais longe: um indivíduo que quer praticar um crime bebe de facto uma bebida alcoólica, geralmente forte, porque o álcool é excitante, para lhe dar coragem para cometer o crime, mas a concepção do crime está antes da bebida alcoólica.
Realiza o crime com premeditação e bebe para criar em si as condições de aspereza de carácter próprias para o poder realizar.

O Sr. Mendes de Matos: - Como expila V. Ex.ª que tantos daqueles pobres homens vão para a taberna sem a intenção de crime e se encontrem criminosos quase que inconscientemente?

O Orador: - Eu não apresentei aviso prévio nenhum. V. Ex.ª é que tem de me esclarecer; e eu não estou elucidado sobre as estatísticas que V. Ex.ª nos trouxe e sobre os dados do Sr. Prof. Pr. Mendes Correia.
Eu preciso de saber que qualidade de bebida alcoólica esses criminosos ingerem.