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14 DE JANEIRO DE 1948 139

tá-los à curiosidade, ao temperamento e às tradições da população, para que através deles se alcancem os fins designados.

É um programa e uma esperança.
Mas as Casas do Povo, com o auxílio do Secretariado Nacional da Informação, com o seu Teatro do Povo e o cinema ambulante, e da F. N. A. T., com os seus serões artísticos, podiam desde já desempenhar esse objectivo educativo e do atracção, como de resto já aqueles organismos o fazem, independentemente e com grande sucesso e resultado.
O que é necessário é disseminar mais as Casas do Povo e tornar mais frequentes as exibições daqueles organismos, dotando o Secretariado Nacional da Informação com mais teatros do povo e cinemas ambulantes, o que de resto já tem pedido.
Porque não experimentam também as Casas do Povo a leitura em comum, tão tradicional, feita, por exemplo, pelo professor?
Creio dê resultado, lembrando-me de que me contaram, que ainda hoje, em Vila Real de Trás-os-Montes, se reúne gente do povo para ouvir ler o Amor de Perdição ... e choram nas passagens mais dramáticas do romance!
Escolhida a leitura, sadia, de altos e elevados princípios e adequada à mentalidade dós ouvintes, parece seria um passatempo de resultados práticos.
Sr. Presidente: o trabalhador português, com os meios de divertimento que o Estado lhe oferece, não precisa hoje de se distrair nas tabernas.
A taberna era própria doutros tempos, em que a vida dele andava à mercê das contingências e o Estado não se preocupava em lhe encher de alegria as horas vagas.
Hoje não. Ele tem assegurado o seu presente e o seu futuro. Descansadamente pode procurar divertimentos sadios o honestos.
Não deixar que ele se degrade em locais impróprios da sua dignidade e comprometa os benefícios que para ele conquistámos - é um dever que se impõe.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Moura Relvas: - Sr. Presidente: não tencionava intervir neste debate, mas, desde, que se tem aqui por várias vezes feito referência a opiniões médias e desde que eu sou um médio, pareceu-me que deveria subir a esta tribuna para definir alguns aspectos da questão que julgo não terem sido ainda ventilados e que precisam, portanto, de ser esclarecidos.
O ilustre Deputado Sr. Mendes de Mattos afirmou no final das suas considerações do seu aviso prévio que o álcool, quer seja ingerido directamente, quer através do vinho - alcoolismo e vinismo à la longue -, produz os mesmos efeitos.
Ora nem a história antiga, nem a moderna, nem a contemporânea estão de acordo com esta afirmação, em que as bebidas espirituosas e o vinho aparecem lado a lado como irmãos gémeos.
E nem as próprias estatísticas, citadas por S. Exa., de Everestt e de Echeverria, foram devidamente interpretadas.
A história antiga, que o meu ilustre colega Sr. cónego Mendes de Matos conhece com certeza muito melhor do que eu, fala-nos de dois povos: o povo grego e o maometano.
O Alcorão proíbe absolutamente o consumo do álcool, seja sob que forma for. O maometano não toca em álcool. É-lhe expressamente proibido.
Na Grécia, pelo contrário, qual era a base da alimentação? A base da alimentação do povo grego era esta: pão e vinho, com alguma carne e alguns legumes verdes.
Devo dizer, por um dever de lealdade, que conheço a lenda do célebre atleta Milon de Crotona, vencedor, grande triunfador nos jogos olímpios, que se diz que era capaz de comer 10 quilogramas de carne, 10 quilogramas de pão e 10 litros de vinho e ainda não ficava cheio. É claro que isto é uma lenda.
A verdade é que os gregos eram de uma extrema frugalidade: simples no comer, como simples eram no vestir.
Todos os gregos bebiam vinho, porque consideravam a água só própria para navegar e para nadar.
E o que é curioso é que este povo em peso, consumidor de vinho, ao contrário do que seria para supor, nos dá, em matéria de educação física, os melhores exemplos. Os gregos são, em matéria de educação física, nossos modelos e nossos educadores.
A história moderna ensina-nos que o alcoolismo, de mãos dadas com a varíola, destruiu os índios brasileiros e, acompanhado pela sífilis, destruiu outra raça, a dos peles-vermelhas da América do Norte. O que é certo é que nem os índios brasileiros nem os peles-vermelhas sabiam o que era vinho.
Na nossa ilha da Madeira consumia-se 1.500:000 litros de aguardente antes da cultura da vinha. Com a cultura da vinha o consumo de aguardente baixou para 60:000 litros.

O Sr. Alberto de Araújo: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Alberto de Araújo: - É apenas para uma pequena rectificação. Realmente, na ilha da Madeira chegaram a consumir-se perto de 2 milhões de litros de aguardente ainda recentemente, paralelamente com a cultura e o consumo do vinho. Foi devido às medidas que acertadamente foram tomadas pelo nosso Governo já depois de 1928, mercê de um regime apertado no fabrico de aguardentes, que o consumo diminuiu.
Este facto foi um dos maiores benefícios que a Madeira ficou devendo ao Governo Nacional, pois hoje temos um consumo de aguardente que não deve chegar a 100:000 litros.

O Orador: - A cultura do vinho acompanha sempre a diminuição do alcoolismo.
Ainda há pouco, conversando com o nosso ilustre colega Sr. Henrique Galvão e tronado nós impressões acercado desbaste colossal da nossa raça negra colonial, eu soube concretamente por S. Ex.ª que as regiões do Sul do Save e Leste de Angola estão ameaçadas de extinção, devido ao alcoolismo, e os nossos negros não bebem vinho ...
O problema do alcoolismo surgiu nos países do Norte da Europa, onde não se consome vinho; e em França, num dado momento, o alcoolismo aparece como doença social, porque o custo do vinho aumentou e o operário passou a beber absinto, que era mais barato.
A lei seca nos Estados Unidos levou o fabrico do álcool dos bares para as casas particulares.
É claro que o vinho não contém só álcool; o vinho tem açúcar, tem fermentos, tem vitaminas.
O vinho deve ser consumido, evidentemente, em quantidade moderada.
O vinho deve ser consumido «à francesa», como dizia Montaigne, isto é, bebido as refeições e em dose não excessiva.
O que é que quer dizer isto de doses excessivas? já aqui o Sr. engenheiro Homem de Melo se referiu a este