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168 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 126

quem conversei. Depois cie reconhecerem as doçuras da vida portuguesa, depois de elogiarem os seus padrões, pelos quais testemunham grande entusiasmo, é fatal rematarem: a Mas não é certo que vocês mostram o mais baixo standard de vida europeia?».
Esta e outras afirmativas não sei ainda confirmá-las, mas não as impugno.
Outro exemplo:
De Julho de 1924 em diante houve um inquérito do Bureau International du Travail ao nível relativo da vida operária nalgumas capitais, abrangendo Lisboa.
Dispense-me, Sr. Presidente, os detalhes de ordem técnica.
Com base no salário real, semanal, dessas cidades e o custo do «cabaz de compras» que lhe correspondia, o citado Bureau pôde chegar à seguinte estatística indiciaria, que desce do mais alto escalão alimentar para o mais baixo, com referência a 1928:

Filadélfia .............. 180
Otava ................... 160
Copenhague .............. 108
Londres ................. 100
Estocolmo ............... 85
Amesterdão .............. 82
Berlim .................. 70
Paris ................... 56
Madrid .................. 54
Bruxelas ................ 53
Praga ................... 45
Viena ................... 43
Varsóvia ................ 42
Lisboa .................. 28

Menos do que uma sexta parte de uma cidade americana; metade de Paris; quase metade de Madrid, e ainda distante de Varsóvia!
Trabalhando com estes e outros números do Bureau em Outubro de 1933 o falecido professor Lima Bastos chegava a uma conclusão: a nossa situação era lamentável e, apesar de os géneros poderem ser aqui adquiridos mais baratos, encontrávamo-nos, tanto em Lisboa como no Porto, em situação bastante inferior à maioria dos países europeus.
Agora outro exemplo, em que a paisagem começa a mudar.
O mais famoso e surpreendente técnico estatístico da actualidade é Colin Clark e é ele que vai calcular o nosso rendimento real por habitante, com base numa remuneração em dólares, correspondente a 2:500 horas anuais de trabalho, e que nos dá:

1909-1913 ............. 115
1921-1924 ............. 100
1925-1929 ............. 110
1930-1934 ............. 120
1935-1938 ............. 125

Em 1960, daqui a doze anos, estaremos, porém, nuns 390, mais do triplo daquele último período.
Nessa altura, entre os países que são objecto de cálculo - e nem sequer são a maioria - deixaremos, para trás o Japão, a U. R. R. S., a índia e a China, estaremos em pé de igualdade com a Espanha e muito próximos da França e Noruega.
Já em 1935-1938 suplantávamos os Estados Bálticos, a Polónia e os Estados Balcânicos.
Podia repetir, acrescer e melhorar os exemplos, mas estes bastam.
Eu acredito que alguns dados, como sejam os de um país fracamente industrializado, a ausência de combustíveis, a existência de recursos naturais limitados e não de todo aproveitados, nos conduza a uma fotografia de debilidade económica.
Mas penso que o trabalho português, a sua organização e inteligência também pesam na balança em sentido inverso, aqui, nas colónias, no Brasil e na Califórnia.
Anemia congénita, mas existência de reconstituintes!
Interessa, pois, uma investigação dinâmica, destinada a avaliar o rendimento dos portugueses e a fazer o inventário do capital nacional que nos dê a verdadeira cinematografia do País.
Encontraremos assim no meio de complexidades alguns marcos de referência fundamentais.
Cada vez mais a política económica das nações adiantadas tende para o científico e se afasta dos tradicionais empirismos.
Interessa, pois, a determinação rigorosa do capitai e do rendimento nacional para facilitar a direcção superior da economia, melhorar a acção estadual e até privada, demarcando o seu mais largo campo de acção. Podemos depois estudar os padrões e planos de vida, tirar confrontos e saber dos progressos realizados na técnica e na ordem do bem-estar geral.
Embora detestando citações em intervenções parlamentares, desejo hoje fazer algumas referências que promoverão a defesa do meu alvitre.
Lavergne e Paul Henry mostram que a intervenção incessante do Estado na cidade futura, os aumentos orçamentais que a reflectem, o incremento dos valores mobiliários e a sociedade anónima, bem como as alterações de juro, levam-nos para um inquérito estatístico ao rendimento e à fortuna que ponha termo à ignorância dos recursos nacionais. Nitti entendia que para uma Itália melhor e mais rica, mas despida de ilusões e para dissipar os erros, era urgente investigar fastidiosamente e inventariar a riqueza complexa do país e a sua distribuição.
Foram já realizados trabalhos apreciáveis deste género - e até repetidos - na Inglaterra, Suécia, Alemanha, Estados. Unidos, Japão, Canadá, Nova Zelândia, Bélgica, índia, Austrália, etc. No país vizinho procedeu-se há dois anos a um trabalho oficial sobre La venta nacional de Espana. Por ordem da Presidência do Governo de 20 de Abril de 1944 criou-se uma comissão encarregada do estudo do rendimento nacional. Logo em 13 de Maio foi convertida em lei. Deste trabalho está publicado o 1.º volume, que contém dados muito curiosos, embora sujeitos a discussão.
Não tenho de referir agora as dificuldades de definição, as dificuldades de ordem teórica e técnica de um tal empreendimento, por serem em demasia reconhecidas e que não fizeram recuar aqueles Governos.
Digo novamente: é indispensável pôr termo a um estado de ignorância e incerteza que gera confusões e perplexidades e, sobretudo, interpretações apressadas lá fora.
Trata-se de uma tarefa pública de muita delicadeza, complexidade e imparcialidade. Há-de entregar-se a técnicos de visão serena. Nem estes pessimismos que confundem o País com um pedinte, clamando e apontando para as suas maselas, nem um optimismo panglóssico que faz da nossa casa o melhor dos mundos possíveis.
Se nestes assuntos não fôssemos verdadeiros, até a nós próprios mentiríamos. Mas mal faremos se continuarmos a deixar, estranhamente, os nossos créditos em mãos alheias. Não podemos titubear perante as flutuações de valores do momento ou a ameaça de tempestades que se avizinham. Keynes mostrou que hoje em dia dominam as preocupações a curto prazo, e não vale a pena estabelecer raciocínios para períodos muito dilatados.