O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

170 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 126

signe vianense, hábil e ousado, animado pela ideia de alargar até onde pudesse as fronteiras da Pátria, projecta e realiza uma emocionante aventura: comunica o seu entusiasmo à família, amigos e vizinhos, vende os avultados bens e com o produto destes arma uma flotilha, provê-a do necessário, a que não faltam sementes nem alfaias agrícolas, nela embarca todos os que o quiseram seguir, «mulheres e filhos, e muitos moradores casados com parentes e amigos e muita outra gente», faz rumo ao Brasil e aí, como donatário, edifica a cidade de Porto Seguro e as vilas de Santa Cruz e Santo Amaro.
A prosperidade de Viana após a era dos Descobrimentos era tão avultada que D. Sebastião concede à vila o título de «notável», por «ser uma das mais nobres e principais de meus reinos e de maior rendimento e a principal de Entre Douro e Minho».
E Frei Luís de Sousa, na Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, também testemunha ser:

Viana, vila das mais insignes deste reino, terra cheia de gente rica e muito nobre, de grande trato e comércio, por uma parte com as conquistas de Portugal, ilhas e terras novas do Brasil; por outra com a França e Flandres, Inglaterra e Alemanha, de onde e para onde recebia de ordinário muitos géneros de mercadorias e despedia outros; para os quais tratos traziam os moradores no mar grande número de naus e caravelas, com grossas despesas, a que respondiam iguais retornos e proveitos que tinham a vila florescentíssima.

Do mar aberto como uma estrada ao arrojo dos portugueses verifica-se que os vianenses preferiram os rumos da América setentrional e meridional.
Viana sofre então as vicissitudes da «apagada e vil tristeza» em que caiu a Nação, mas em 1640 expulsa o estrangeiro e aclama com delírio D. João IV, O Restaurador. E, prosseguindo o seu destino, continua tenazmente a mourejar na terra e no mar, arando, navegando e comerciando, sobretudo com o Brasil, do que resulta um novo período de prosperidade, atestado por inúmeros edifícios, entre os quais existem para regalo de nossos olhos preciosas jóias de arquitectura civil.
Se João Álvares Fagundes contribui com as suas viagens para intensificar e radicar a tradição da pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova, para onde, segundo Pimentel em Arte de Navegar, entre 1613 e 1676, «iam todos os anos de Viana e Aveiro e outros portos de Portugal mais de cem caravelas», Pedro Tourinho ensinou aos vianenses o caminho do Brasil, onde já no século XVII, como afirma Fernão Cardim, «os habitantes mais ricos de Pernambuco eram oriundos de Viana».
Mas, passados que foram quase sete séculos de esplêndida unidade nacional, apenas interrompida por duas infelizes guerras civis, depois de 1820, Viana começa a sofrer as consequências inglórias e mesquinhas da sobreposição ao espírito da Nação de um sistema estrangeiro, que, embora imposto com intenções generosas, provocou a permanente divisão dos portugueses em bandos irredutíveis e, devido à forma de ser arrebatada destes, gerou desacatos, perseguições, pilhagens, morticínios, motins, golpes de estado e revoluções - enfim, desvairo das inteligências, arrebatamento das paixões, demagogia infrene, anarquia espontânea, guerras civis e até a humilhação de intervenções estrangeiras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E neste triste ambiente de lutas fratricidas, pouco depois de a Convenção de (Bramido ter tentado pôr termo à guerra civil patuleia, que D. Maria II eleva Viana à categoria de cidade e a designa «do Castelo» - daquele castelo que eu não posso evocar sem sentir pena do que nele se passou.
Eu não quero concluir este rápido e fragmentário escorço da história da minha cidade sem deixar de aproveitar o acontecimento que celebro nesta Assembleia para verberar o procedimento de um fulgurante panfletário que, animado pelo espírito negativista e denegridor que maculou o Oliveira Martins da História, de Portugal e influenciado pelas efémeras novidades e erradas perspectivas de Michelet e Edgar Quinet, depois de no prefácio da sua obra ter considerado os cronistas criados dos reis e mistifica d ores dos acontecimentos, vituperado a conduta de D. João I, negado o saber e as virtudes do Infante D. Henrique e coberto de insultos os Braganças para tentar atingir - ó desvairo da época! - o grande e cada vez maior Rei D. Carlos, interpretou alguns documentos relativos a Viana segundo o apaixonado objectivo proposto de provar que as aristocracias traíram sempre o interesse dos povos e que só estes tinham sido os autênticos obreiros dos sublimes e decisivos acontecimentos históricos.
Como se fosse possível vincular na História qualquer acontecimento fecundo e transcendente para a vida nacional que, à semelhança da união corporal do cérebro e do coração, do pensamento e sentimento do homem, não resultasse da esplêndida unidade de uma aristocracia dedicada ao serviço do bem comum com o povo, adivinhando e sentindo os mais, profundos motivos da sua vida histórica!
Viana deve já muito ao Estado Novo e a alguns dos seus Ministros, que a acarinharam como se fosse a própria terra.
Mas, além dos benefícios de ordem espiritual e material que são comuns a toda a Nação, como os da tranquilidade pública, os do incansável prosseguimento da união moral dos portugueses e da paz social entre os factores humanos da produção, os da reconstituição económica do País e do prestígio internacional; além dos benefícios de interesse local, como estradas, porto, novas escolas e edifícios públicos, restauração de monumentos e tantos melhoramentos rurais, canalizações de água, marcos fontanários, estradas e caminhos vicinais, Viana deve ao Estado Novo, como possibilidade de projecção em todo o País e no Mundo, o ter criado as condições necessárias ao redescobrimento da sua vocação marítima.
Como nos séculos XVI e XVII, os vianenses partem todos os anos para a pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova, com frotas cada vez maiores, navios mais adequados e rápidos e pessoal mais adestrado e socialmente mais bem protegido.
Como nos primeiros séculos da Monarquia, devido à arrojada iniciativa de alguns de seus filhos e ajuda de estranhos, Viana possui o seu magnífico estaleiro e nele constrói já e repara barcos modernos.
Qual o vianense que não viu com alvoroço, como realização milagrosa do que há anos pareceria sonho inacessível, em duas docas secas, ao lado de espaçosas oficinas, as quilhas, querenas e cascas de navios de ferro, à volta dos quais formigam e labutam centenas de trabalhadores?
Mas Viana espera dever muito mais ao Estado Novo. Espera, porque sabe que pode confiar. Viana receberá do Governo da Nação o que legìtimamente ambiciona.
E, para terminar, não vou cair no desacerto de exortar os meus conterrâneos ao amor dedicado da Pátria, porque sei que eles a amam entranhadamente e se orgulham de ser portugueses como os melhores. Mas posso, desta Assembleia, como seu humilde representante, exortá-los à união de todos, esquecidos mesquinhos dissídios e ridículas questiúnculas perante o irresistível impulso dos valores permanentes da nossa Civilização