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21 DE JANEIRO DE 1948 175

Será puro erro ver nessa agitação qualquer fundo ideológico de carácter sistemàticamente oposicionista.
Tem sido este o erro que tem alimentado o equívoco a que há pouco me referi - o erro que conduziu a tentar transplantar-se para as colónias, sem atenção nem adaptação às realidades morais, espirituais e sociais, métodos de organização, propaganda e atracção políticas que haviam de falhar por falta de clima. O erro dos que não entenderam - tão-pouco conheciam as sociedades coloniais! - que os êxitos políticos que na metrópole alcançam certas palavras que suam das ideologias nas colónias só os obtêm as obras, realizações, ideias precisas, que correspondem às ansiedades económicas da maioria. Erro tanto maior quanto é certo que foram, por vezes, admitidos a colaborar nele alguns dos tais profissionais da baixa política, importados à pressa da metrópole, também por insubsistentes, razões políticas, e cujos fracassos aparatosos os conduziram para as atitudes irritantes e para os juízos sem conteúdo sério. Não perceberam muitos desses agentes que prestavam péssimo serviço ao regime com os seus figurinos excessivamente metropolitanos. E só não o comprometeram porque a colónia também os não tomou a sério.
Poderia citar, em abono do que afirmo, numerosos factos, bem mais claros e visíveis que os estafados argumentos de uma intriga com que alguns indesejáveis pretendem envenenar o bom entendimento entre o Governo Central e os colonos - porventura entre a própria Nação e a colónia, iludindo aquela e caluniando este.
Cito apenas três dos mais impressionantes e que bastam, na sua eloquência espontânea, para reduzir a nada quaisquer boatos e calúnias.
Primeiro: as nossas populações indígenas de Angola e Moçambique vivem em paz social tão invejável e perfeita que os nossos trabalhadores são activamente procurados e atraídos por todos os meios de propaganda pró-emigração pelas organizações patronais das colónias vizinhas, nas quais as perturbações sociais causam aos governos respectivos as maiores preocupações. Grande parte desses trabalhadores - hoje os melhores de toda a África Central - vai e não volta contaminada.
Poderá alguém que conheça um pouco o que a este respeito se está passando em África e a sensibilidade das populações indígenas ao comportamento político e social das populações brancas negar que esta situação seria impossível se os colonos de Angola se encontrassem, visível ou encapotadamente, em oposição ideológica ao Governo do seu País?
Que excelente clima para oposicionistas só Angola produzisse oposicionistas deste género!
Segundo: poderá alguém negar que a colónia tenha deixado de aplaudir - e por vezes com particular entusiasmo - as obras do regime que contribuíram para o seu progresso e, em especial, o seu ressurgimento financeiro? Onde viu alguém em Angola, como se vê todos os dias na metrópole e em tantos países da Europa, a oposição sistemática a unia medida sem outra consideração que não seja a da chancela política ou ideológica que traz? E quem distinguiu em tantas e tão calorosas manifestações feitas por Angola a governantes do regime - ainda recentemente o facto impressionante da despedida ao governador Lopes Alves -, quem distinguiu na massa entusiástica ou simplesmente polida outra coisa que não fossem colonos animados de puros e vivos sentimentos portugueses? E onde seria possível na metrópole, em meios políticos, verificar a normalidade de boas relações pessoais, por vezes muito íntimas, entre indivíduos separados por ideologias diferentes, como correntemente se verifica em Angola?
Finalmente: invoco o testemunho, sobre todos insuspeito, de S. Ex.ª o Presidente da República e de quantos o acompanharam nas suas viagens às colónias.
Onde, senão em Angola, atingiu S. Ex.ª o momento de culminância triunfal destas viagens? E tão triunfal que a população indígena e não indígena, em massas cerradas, em bloco único e impecàvelmente homogéneo de portugueses, rompeu todos os obstáculos da organização oficial, quebrou a rigidez do protocolo, esfrangalhou os cordões da polícia, transpôs, enfim, todas essas forças que se organizam para conter as torrentes do povo e que só não são frágeis quando os entusiasmos não são escaldantes.
S. Exa. poderá dizer que viu, de facto, uma colónia inteira, irrequieta, insubordinada, lutando com a polícia - mas apenas para o abraçar.
Sr. Presidente: cuido que não é necessário ir mais além. E cuido também que não foi descabido, a primeira vez que nesta Assembleia se faz uma referência à data próxima do terceiro centenário da reconquista de Angola, procurar esclarecer um equívoco grave e irritante, maldosamente tecido, em vez de colher a oportunidade para pronunciar acerca do acontecimento as palavras de exaltação patriótica que os sentimentos portugueses e a inteligência dos meus ilustres colegas teriam por redundantes.
E acabarei como principiei: Angola desejaria que este ano de 1948 ficasse assinalado menos por palavras e actos simbólicos do que por obras e medidas comemorativas.
A escassez de tempo paia a necessária preparação já não consente que se realize o programa que melhor corresponderia às aspirações da colónia.
Mas é talvez possível ainda satisfazer estoutro desejo: fazer visitar a colónia por um grupo de portugueses de escol, estudiosos e observadores - altos valores da Nação que, ao mesmo tempo que auscultariam os seus problemas mais palpitantes e dariam o concurso da sua presença muito útil e significativa às festas comemorativas, poderiam no regresso vir assegurar à metrópole, contra todas as intrigas e todos os equívocos, que Angola continua a ser a mais portuguesa da todas as colónias, um exemplo confortante de trabalho e de ordem e também uma província com espírito, personalidade e ideias próprias, que mais não pretende senão ser bem governada e bem conduzida.
E verifiquem aqueles que dizem que o Estado Novo não chegou a Angola se eles próprios são bastante fiéis e bastante puros para o poderem avaliar!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão, na generalidade, o projecto de lei n.º 177, sobre alterações ao artigo 29.º do decreto n.º 28:652 (julgamento de reclamações em matéria de hidráulica agrícola).
Tem a palavra o Sr. Deputado Melo Machado.

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: as minhas primeiras palavras de hoje são para apresentar a VV. Ex.ªs as minhas desculpas pela minha falta na última sessão. Já as apresentei, com as razões que a explicavam, ao Sr. Presidente; todavia, não quis escusar-me de as apresentar a VV. Ex.ªs, na certeza de que a muita benevolência e simpatia que me têm dis-