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4 DE FEVEREIRO DE 1948 251

Porque nesse ano a importação maciça de aveia, centeio, cevada e fava desequilibrou de tal ânodo esta lavoura, que conheço, que só no concelho de Eivas levou à quebra, ou à liquidação e venda de propriedades para não quebrarem, mais de vinte lavradores, entre grandes e pequenos.
Há desde então situações periclitantes, que vão arrastando-se à custa de juros de mora, pagos com vários artifícios.
Mas vieram as colheitas de 1932, 1933 e 1934. Assustou-se muita gente com a crise da superabundância; os trigos estagnaram nos celeiros; avariou-se grande porção deles; exportou-se outra com prejuízo para o produtor, e para diminuir a área de cultura deste cereal, portanto as colheitas futuras, baixou-se o preço da tabela oficial.
Liquidações tardias e baixa de preço deram o resultado que trigos cultivados à tabela de 1$50 foram liquidados a menos de 1$!
Perda de um terço do valor da colheita e atrasos de liquidação levaram a lavoura trigueira a recorrer ao crédito.
Eu previ naquele tempo as consequências de semelhante política e até sustentei uma longa e acérrima campanha no Jornal do Meio-Dia, mas a minha voz foi voa clamans in deserto.
Ninguém me quis então ouvir, mas o tempo dá-me razão.
Aqui inicia a lavoura a sua via crucis; são as caixas de crédito a corda para nos enforcar.
E desde então a dívida da lavoura cresce e aumenta, segundo os números relatados.
Os anos seguintes foram todos maus, menos 1937, 1939 e 1943, em que o número de sementes chegou a dez, mas 1936, 1938, 1940, 1941, 1945 e 1947 foram tão maus que a média deste período é inferior à de toda a nossa produção trigueira nos últimos trinta anos! A média da nossa produção neste período é inferior à da Idade Média, a qual, pelo que sabemos, era de oito sementes sem adubo (e verdade que só em terras próprias para trigo).
Esta é a situação da cultura trigueira, actualmente cheia de dívidas e em ruína.
O Sr. Ministro da Economia disse que não podia, com a sua política de baixa, aumentar o preço da tabela oficial!
Mas convirá que a lavoura trigueira diminua num momento tão crítico como este por que está agora passando todo o Mundo?
Poderá ela manter-se na situação em que se encontra?
Eu afirmo que não.
Qual a solução? E isso o que o Governo deve estudar e resolver sem demora.
Todos queremos colaborar com o Governo; é nosso dever e nosso interesse, mas está chegado o momento em que isto para muitos deve ser já impossível.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.
Amanhã, antes da ordem do dia, será submetida à apreciação da Assembleia a situação parlamentar do Sr. Deputado Sá Viana Rebelo, sobre a qual já incidia parecer da Comissão de Legislação e Redacção, parecer que conclui por considerar que este Sr. Deputado não teria perdido o seu mandato. O parecer já foi publicado no Diário das Sessões.
Na ordem do dia continuará o debate sobre o aviso prévio em discussão e também será submetido à apreciação da Assembleia o texto aprovado pela Comissão de Legislação e Redacção para o projecto de lei do Sr. Deputado Melo Machado sobre reclamações em matéria de hidráulica agrícola.
Peço aos Srs. Deputados o favor de virem amanhã um pouco mais cedo, para que haja número à hora regimental, visto que é minha tenção que nessa sessão se conclua o debate acerca do pão e do trigo. Terei de prorrogar um pouco a sessão se isso for necessário.
Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 15 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Jorge Botelho Moniz.
José Alçada Guimarães.
José Teodoro dos Santos Formosinho Sanches.
Luís António de Carvalho Viegas.
Luís da Cunha Gonçalves.
Mário Correia Carvalho de Aguiar.
Querubim do Vale Guimarães.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Albano Camilo de Almeida Pereira Dias de Magalhães.
Álvaro Eugênio Neves da Fontoura.
António Augusto Esteves Mendes Correia.
António Júdice Bustorff da Silva.
Armando Cândido de Medeiros.
Artur Augusto Figueiroa Rego.
Artur Proença Duarte.
Augusto César Cerqueira Gomes.
Ernesto Amaro Lopes Subtil.
Eurico Pires de Morais Carrapatoso.
Fernão Couceiro da Costa.
Frederico Bagorro de Sequeira.
Gaspar Inácio Ferreira.
Henrique de Almeida.
Horácio José de Sá Viana Rebelo.
Jacinto Bicudo de Medeiros.
João Xavier Camarate de Campos.
Jorge Viterbo Ferreira.
José Gualberto de Sá Carneiro.
José Penalva Franco Frazão.
Luís Maria Lopes da Fonseca.
Luís Maria da Silva Lima Faleiro.
Manuel de Abranches Martins.
Manuel Beja Corte-Real.
Manuel de Magalhães Pessoa.
Mário Borges.
Mário Lampreia de Gusmão Madeira.
Pedro de Chaves Cymbron Borges de Sousa.
Rafael da Silva Neves Duque.

O REDACTOR - Leopoldo Nunes.

IMPRENSA NACIONAL DE LISBOA