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246 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.° 131

O mesmo se verificou com o vinho, que, depois de ver discutidas e até negadas as suas flagrantes qualidades como bebida e alimento, foi acusado de perturbador da ordem e principal factor do alcoolismo, com seu cortejo de organismos inutilizados, descendências degeneradas e larga contribuição para u clientela dos manicómios.
Contudo, os que de perto conhecem a vida rural o têm presenciado a ânsia com que, a meio da faina esgotante da lavoura, quantas vexes sob um sol abrasador, é esporada a merenda, geralmente constituída por bom naco de broa, uma sardinha, ou algumas rodelas de chouriço e uma amostra de toucinho, com a indispensável regadela de um copo de vinho, ou alguns goles daquela saborosa bebida sorvidos de velha cabaça avinhada, ou de odre cuidadosamente curtido, devem ter opinião diversa.
Além de bem exteriorizado regalo, as calorias de um quarto de quilograma de broa, à volta de setecentas, as de um quartilho de vinho, aproximadamente trezentas, as correspondentes à sardinha assada, ou à lasca de bacalhau, ou às rodelas de chouriço e amostra de toucinho, no total cerca de um milhar, operam imediatamente uma bem manifesta restauração de forças acompanhada de evidentes mostras de «alegria, que se traduz na intensificação do trabalho rude ao ritmo de cantigas populares, o qual assim vai sendo aguentado até que o sol desaparece no horizonte.
A pelagra, determinadas dermatoses, a sua digestibilidade, por vezes o mau gosto - a bailo ou a azedo - e a insuficiência nutritiva não são culpa do cereal, mas resultado do pouco cuidado nas colheitas e do mau acondicionamento, de moenda insuficiente e pouco cautelosa, de leveduras mal seleccionadas e, por último, de má técnica de panificação e da prática de variadíssimas fraudes.
As broas, bem fabricadas, de milho, associado ao centeio ou também ao trigo (o chamado pão de mistura) e, em certas regiões, com ligeiros vestígios de ovos e as célebres bolas (muito conhecidas e apreciadas pelos caçadores) com presunto, sal picão e outros iguarias constituem alimentação de primeira ordem na opinião geral.
Afirmou o distinto Deputado Sr. Dr. Nunes Mexia que na América do Norte a produção de milho é tão larga e cuidadosamente conduzida que só por si «atinge valores que ultrapassam as produções reunidas do trigo, do algodão e da aveia, em que a lavoura daquele progressivo país atinge expoentes muito elevados».
S. Exa. aludiu às más sementes, especialmente de milho branco, utilizadas pelos nossos lavradores e a fundadas esperanças na adopção do milho híbrido, ao qual se devem no estrangeiro resultados muito compensadores, tendo sido coroadas também de êxito algumas experiências realizadas em Portugal, nas quais já se atingiram produções de 5:000 quilogramas por hectare, o que me parece, em face das cotações actuais, ser compensador dos gastos e esforços seguidos que aquela cultura demanda.
Tinha razão o meu ilustre conterrâneo e sábio agrónomo Dr. Mota Prego quando afirmava não ser utopia atingir-se na terra minhota produções daquela monta.
E para tanto não foi preciso recorrer-se ao milho híbrido, embora eu comungue na opinião do Sr. Dr. Mexia sobre a necessidade de se combinarem as experiências da sua cultura não só com sementes estrangeiras, mas também de origem nacional, que as nossas estações agrárias devem esforçar-se por obter.
Sr. Presidente: como representante do Governo, coube-me a honra, em 1929, se a memória não me atraiçoa, de visitar a Estação Agrária do Porto, quando ali se realizava o certâmen da «Maçaroca de milho», ao qual concorreram numerosos lavradores do Norte, Centro e Sul.
Ali apareceram exemplares admiráveis e registaram--se, com sementes nacionais, produções famosas.
Creio que o prémio da melhor produção do Sul coube ao falecido coronel Velhinho Correia. Do Norte foi classificado em primeiro lugar o conhecido proprietário rural Sr. Augusto Simões, que, além de lavrador, é um orador eloquente e devotado paladino da lavoura, o qual, como o grande Cincinato romano, eu fui encontrar, não com a rábica do arado na mão, mas de socos e manejando uma sachola, a guiar a água de rega que um motor eléctrico elevava do ribeirinho que atravessa o f arnoso campo de Pedrouços, no concelho da Maia, onde se registava a produção premiada de mais de 5:000 quilogramas de milho magnífico por hectare, e que no ano em que o visitei com minha família devia ter registado uma colheita tão abundante como a que fora premiada.
O torrão é ali magnífico, mas a semente é nacional e cuidadosamente seleccionada; alguma adubação química, mas sobretudo quantidade de estrume de curral bem curtido; as regas indispensáveis com água do aludido regato, para onde correm as águas residuais da fábrica de tecidos da Areosa, e ... a sombra do dono (dono inteligente, activo e sabedor), «que as plantas agradecem», como diz a velha e acertada máxima popular.
No aludido concelho da Maia, no de Vila do Conde e, de uma maneira geral, em toda a vasta região maiata, que a dois grandes apóstolos da lavoura, os falecidos Dr. Domingos Antunes de Azevedo e seu primo, o padre Agostinho Antunes de Azevedo, que o Estado Novo galardoou com o mérito agrícola, devem uma propaganda inteligente e perseverante da melhor técnica agrícola, registam-se em quase todas as freguesias grandes produções de cereais e legumes e a zootécnica é ali florescente; mas, no que respeita particularmente ao caso que agora me ocupa, o milho retribui compensadoramente o esforço tenaz dos lavradores.
Também a sul do rio Douro, e para o que muito tem contribuído outro apóstolo da lavoura, Waldemar Lôfgreen, maçagista distinto, que é também dos lavradores mais conhecedores dos múltiplos trabalhos daquela actividade, que longa e praticamente ensina a todos os que trabalham no campo, se verifica um perfeito aproveitamento do solo, expresso em altas produções de diferentes géneros, entre as quais a do milho.
De muitos técnicos distintos é de toda a justiça recordar o falecido engenheiro agrónomo, director da Estação Agrária do Porto, Ruela Ramos, que, além do outras inovações agrícolas, nos deixou um milho inteligentemente seleccionado, que muito tem contribuído para melhorar a economia regional, e úteis processos de combate à daninha «bicha» conhecida por «alfinete», que é um dos mais terríveis inimigos da cultura do milho.
Também merece uma citação especial, pelo muito que tem ensinado e defendido a lavoura e pelo cuidado tenaz e inteligente consagrado à gramínea preciosa que produz as maçarocas douradas, de milho que alimenta a população e tão largamente contribui para a criação do gado, trazida de países longínquos por nossos avoengos, a Gazeta das Aldeias e toda a plêiade de técnicos distintos que quinzenalmente enchem suas páginas com ensinamentos muito valiosos.
E já agora é-me grata uma merecida referência a tantos órgãos da imprensa que, periòdicamente e em secções especiais e sempre que as circunstâncias o indicam, vêm publicando artigos de propaganda com valiosos ensinamentos devidamente actualizados a pôr os nossos lavradores ao corrente do que de melhor se vai registando lá fora nas actividades agrárias, mas registando-se sem-