13 DE MARÇO DE 1948 341
particularidades locais e cuja doutrina corresponde inteiramente aos anseios da cidade do Porto.
Foi, consequentemente, com viva satisfação que a cidade viu, finalmente, iniciar-se o vultuoso desaterro da área do terreno do futuro edifício, desaterro que está, por sinal, sendo feito com tal celeridade que incute a esperança de que, após tantos anos de protelamento, a obra prossiga agora sem mais interrupções. De resto, estou informado de que, embora o alçado do futuro Palácio dos Correios possa sofrer ainda alguns retoques ou alterações, já há vasto trabalho estrutural pronto a ser desde já executado, uma vez que o desaterro da área fique concluído.
Sr. Presidente: referi-me ao atraso que para a conclusão da zona do topo da Avenida dos Aliados tinha resultado da lamentável demora da construção do edifício dos correios. Dentro da mesma ordem de ideias desejo chamar a atenção do Governo, e nomeadamente de SS. Exas. os Ministros das Obras Públicas e das Comunicações, para a não menor urgência em ser iniciada a construção da projectada ponte da Arrábida, sobre o Douro.
Na verdade, a demora em se iniciarem estas duas obras - Palácio dos Correios e ponte da Arrábida - tem sido a causa mais directa da lentidão que tem caracterizado as obras de urbanização da cidade do Porto, porque ambas elas constituem pedras fundamentais do respectivo plano.
Por isso, embora, ao contrário do que a crítica superficial ou derrotista habitualmente faz, eu registe com p devido reconhecimento tudo o que o Governo em matéria de obras tem mais recentemente feito pelo Porto, como sejam as do porto de Leixões, tánel e estrada marginal, via rápida de Leixões, grande quota-parte no aeródromo, bairros económicos, hospital escolar, liceu feminino, quartéis, etc:, venho, ainda dentro daquilo que reputo justo e equitativo, insistir na urgente necessidade de solucionar definitivamente o caso da ponte da Arrábida, com os seus importantes problemas conexos dos traçados da via férrea e concordâncias rodoviárias, porquanto, sem isso feito, não se poderá dar um passo decisivo na realização do grande plano da urbanização da área do Campo Alegre e, de uma maneira geral, de toda a zona ocidental da cidade.
Fico inteiramente certo de que a clarividência dos dois ilustres titulares das pastas das Obras Publicas e das Comunicações os levará a solucionar este problema com a devida celeridade, porque ninguém melhor do que SS. Exas. compreenderá quanto dessa solução depende a expansão urbanística e o progresso da cidade do Porto.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Manuel Lourinho:- Sr. Presidente: cumpro o grato dever de neste momento e deste lugar, apresentar ao Governo os meus agradecimentos pela publicação de um decreto concedendo à Câmara Municipal de Portalegre uma comparticipação para construção de casas económicas.
Parece assim que ao Governo interessam os problemas gerais e os problemas locais, interessam os problemas que dizem respeito às altas preocupações da política internacional, da política nacional e até da política das autarquias locais.
Sr. Presidente: volto a repetir: é-me muito grato apresentar ao Governo as minhas felicitações e os meus agradecimentos, não só em nome pessoal, como também no da população da cidade de Portalegre. - O distrito de Portalegre não tem recebido, infelizmente, da actual situação, benefícios como a outras regiões - aliás com justiça - têm sido dados.
A sua dedicação à causa nacionalista, o seu amor ao trabalho, a sua confiança no futuro progressivo da comunidade não têm sido suficientes para chamar sobre ele a benevolência dos Poderes Públicos.
Faço esta afirmação, Sr. Presidente, com a mais profunda mágoa, mas ela é inteiramente verdadeira.
Não sei a que atribuir o curso de tais factos; apenas os faço ressaltar, estranhando profundamente que assim seja.
Acontece, talvez, que ultimamente as coisas parecem tomar um rumo mais favorável, mas a morosidade é tamanha nas realizações que traz o desalento às pessoas e o desinteresse às colectividades.
Não quero enumerar o que faz falta a Portalegre - Portalegre distrito. Tanto ele é! Não quero referir os desejos justos dos seus concelhos e das suas freguesias porque seria um nunca acabar; mas não posso deixar de falar num deles, cuja não resolução representa uma larguíssima injustiça a estes povos.
Não é de admitir, Sr. Presidente, que haja direito de assim proceder para com uma região que bem merece ao Governo do País e que acorre sempre ao chamamento nacionalista, apesar de relegadas para uma inutilidade sistemática todas as suas pretensões.
Não irei falar das reclamações do distrito, concelho por concelho. Irei referir-me apenas a uma delas, que sobreleva todas as outras e que desde há muito tem arrastado o seu calvário doloroso, trágico e cómico, numa progressão que mais se parece com uma agonia.
Refiro-me, Sr. Presidente, à construção da linha férrea de Estremoz a Vila Velha de Ródão, com passagem pela cidade de Portalegre.
Vale a pena fazer uma breve história, porque ela, ridícula às vezes, mesmo grotesca, é, apesar disso, um anseio contínuo, sendo certamente a aspiração máxima dos povos da cidade.
Eu conto, Sr. Presidente.
Em tempos recuados procedeu-se ao estudo do traçado e, depois de ouvido o parecer dos competentes, fez-se a adjudicação a José Pedro de Matos, com a obrigação de construir o novo ramal, com direito à sua exploração. Agora começa o cómico!
Um engraçado expediu de Lisboa para Portalegre um telegrama, falsamente assinado pelo concessionário, comunicando a sua chegada a esta cidade para aquele dia, ao anoitecer.
Foi o fim do mundo!
Reuniram-se o governador civil, o juiz, a Câmara, as juntas de paróquia, todas as associações, as pessoas de maior relevo político e social e até, por mal meu, os alunos das escolas e, entre eles, os do liceu, que eu então frequentava. E durante as horas infindas de uma gelada noite de inverno alentejano, a tiritar, armados os escolares de balões de papel e empunhando os respectivos estandartes os dirigentes dos organismos locais, esperou-se, ora a pé firme, ora em rotação de uma avenida da cidade, a chegada do novo D. Sebastião, que tardava em aparecer e que nunca mais apareceu.
Deram-se, Sr. Presidente, as cenas mais grotescas que se poderão imaginar. E começou desde então, com travo amargo para a região e especialmente para a cidade, uma infinita paixão, misturada com o desejo ardente, não manifestado publicamente, de que a linha fosse construída. E não houve partido, grupo ou corrente política que o não prometesse. Diga-se de passagem que não era prudente fazer tal promessa em reuniões públicas; isso traria dissabor, tal dose de achincalhamento para todo o bom portalegrense ela traduzia.
Pois bem, Sr. Presidente, coube também ao Estado Novo prometer a construção da linha e também até hoje não cumpriu a promessa.