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20 DE MARÇO DE 1948 381

Para eles a insatisfação não é crítica destrutiva ou maledicência sistemática.
E, sim, a ânsia perene do «mais e melhor», na síntese luminosa do Chefe do Governo, que é, com certeza, o maior insatisfeito de todos nós.
Entre os grandes insatisfeitos figura também - disso estou certo- o ilustre Ministro das Obras Públicas, engenheiro José Frederico Ulrich, que no ano findo, em jornadas que seriam exaustivas se não fossem impulsionadas por um grande amor pátrio, percorreu o País de lês a lês, para directamente se inteirar das suas mais instantes necessidades e providenciar por que elas sejam satisfeitas o melhor e o mais depressa possível.
E, assim, temos visto dia a dia aparecerem planos de obras a realizar seguidamente pelos diferentes departamentos do seu Ministério.
Que alegria por vermos a continuação da marcha progressiva da Nação, cada vez a ritmo mais acelerado desde a arrancada gloriosa de Braga.
E nem o Nordeste trasmontano, que tenho a honra de representar nesta Assembleia, tem sido esquecido, desde que o Estado Novo o descobriu, para a ânsia do progresso, de que tão afastado andava anteriormente a 28 de Maio e em que só era conhecido para o pagamento dos tributos e para cenário de pugnas políticas inglórias.
Por lá muitos e muitos melhoramentos se têm realizado e continuam a ser levados a cabo.
E creio que na consciência dos seus habitantes não pesará o negro pecado da ingratidão.
Mas a nossa insatisfação leva-me a pedir ao Governo, e muito especialmente aos Srs. Presidente do Conselho e Ministro das Obras Públicas, o aumento do ritmo progressivo daquela região, e nomeadamente dos seus melhoramentos rurais e do aproveitamento hidroeléctrico do rio Sabor, obra cujo projecto se encontra completo e pronto a ser executado pela Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola e que será factor de enorme valorização económica, não só daquela região, mas de todo o País, afigurando-se-me até que em muito virá facilitar a efectivação do aproveitamento do rio Douro, quer no troço internacional, quer no nacional.
E confio em que assim será.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Querubim Guimarães: -Sr. Presidente: na sessão de 5 de Fevereiro mandei para a Mesa um aviso prévio no qual pretendo ocupar-me do grave problema da exibição de filmes e expansão das projecções cinematográficas que levam a todos os pontos do País os malefícios do mau cinema, na sua quase totalidade provindo do estrangeiro, portadores da corrosiva orientação que preside em alguns países produtores, nomeadamente na América do Norte, à apresentação dos temas e à sua exibição.
Numa sessão de Dezembro pedi elementos de informação, alguns sobre o número de filmes censurados no 1.º semestre de 1947, sua proveniência e indicação dos membros, da Comissão do Censura, que ontem me foram mandados pela Mesa, o que agradeço.
Estes elementos de que carecia, agora em meu poder, habilitam-me já a tratar do aviso prévio logo que V. Ex.ª o marque para ordem do dia.
Nesse aviso prévio, tal como o anunciei, procurarei pôr a Assembleia em face dos perigos sérios que correremos, sobretudo quanto à educação das futuras gerações, se continuarmos deixando correr as coisas como até aqui, num ritmo assustador e que denuncia uma das mais graves crises de moral que a História regista.
Perigos de desnacionalização porque enraízam em espíritos incultos ou insuficientemente preparados tendências para adoptar como moderno e civilizado o que lá por fora se exibe de mórbido e contrário ou inadequado às nossas tradições e educação cristã.
As exibições de uma técnica em que o nu predomina ou as cenas escabrosas e condenáveis têm preferente papel são o pior veículo hoje conhecido -muito pior que o teatro, com as suas liberdades reprováveis - para suscitar, pela sobreexcitação dos sentidos, atitudes que vão tristemente influir na moralidade do povo, nos costumes sociais, na vida da família, na paz dos lares.
Se queremos manter um padrão de vida de harmonia com as nossas tradições cristãs, em que tanto se fala mas que tão pouco se respeitam, não podemos tolerar esta licenciosidade triunfante, arma admirável para comunizar o Mundo, mas que o mundo ocidental, tão temeroso, aliás, do comunismo, deixa assestar contra o seu próprio interesse, na ignorância de muitos mas também no propósito de tantos e na indiferença do maior número.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - O que se passa nas exibições cinematográficas que por aí campeiam livremente, sem uma censura séria que ponha cobro a tais abusos, excede em proporções tudo o que seria permitido admitir em país de tão honrosas tradições como o nosso.
Como se consente tal?
Como se compreende que se tenha tolerado o que para aí vai, havendo uma censura oficialmente organizada que tem por obrigação velar cuidadosamente pela nossa defesa, pondo-nos a coberto de tão graves perigos?
Urge que nos ocupemos aqui dum assunto que, como se vê, é da maior importância e se lhe procure dar uma solução que satisfaça as legítimas reclamações da consciência nacional, que, pela própria reacção da imprensa, manifestada contra certos filmes, se sente agravada pela indiferença das entidades a quem cabe o dever de velar pela nossa saúde física e moral.
Ainda não há muito o próprio órgão do Governo censurava asperamente, na sua critica, uma estreia no Cinema Odéon, em que, no dizer dessa apreciação, se passava o seguinte e tremendo diálogo. Transcrevo o trecho:

Num diálogo de amor, mais ou menos cínico, a heroína diz ao galã, a propósito de corridas de cavalos, que também apostou nele. Ele afirmou que calcula igualmente que ela seja uma boa égua. Ele diz-lhe que talvez tenha pouco fôlego. Ela fecha o diálogo, dizendo: «Depende do jóquei».

E o crítico comenta:

Não ha exagero nosso: é espantoso, mas é assim. Está lá escrito com as letras todas! Como concessão com o que há de mais grosseiro não conhecemos nada melhor.

E qual é o ambiente em que se desenvolve a torpe acção do filme?
O galã incarna o tipo do herói ordinário, impassível diante de todas as pistolas e que desdenhosamente ouve os convites das várias mulheres que aparecem sempre a entregar, depois de dois olhares, um cartão com a indicação da morada, a convidá-lo a passar por sua casa. Tudo se passa entre dúzias de tiros e mortes de meia dúzia de facínoras, com duas «meninas» tipo americano, filhas de um respeitável general, metidas em casas de jogo, em negócios de chantagem, crimes e outras «pequenas coisas» no género. Nem mais nem menos!
É extraordinário que isto se tolere, mas é assim mesmo.