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486 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 146

Este troço de linha está, como vamos procurar demonstrar, nas condições admitidas como mais importantes por S. Ex.ª o Ministro das Comunicações, por «fechar uma das malhas da rede existente».
E, como S. Ex.ª mandou rever pelo Conselho Superior dos Transportes Terrestres o plano das construções ferroviárias, julgo oportuno lembrar que o Alentejo é das regiões do País que menos quilometragem de linhas férreas possui em relação à sua superfície e certamente onde há mais ramais e troços de linha sem seguimento ou com falta de ligação, por incompletos, triste recordação da época das lutas de partidos, em que só se começavam estradas e linhas férreas nas vésperas de eleições, suspendendo-se quase sempre as obras depois destas.
Diste ainda S. Exa.:

O interesse imediato, como o futuro, impõe uma política dos transportes. O conhecimento das verdadeiras necessidades e dos meios que melhor as podem satisfazer, analisados à luz das exigências económicas, sociais e de defesa, indicará o caminho a seguir.
Eis o que o estudo em curso há-de dizer, e então o País saberá com o que, no aspecto da construção de novas linhas, tem a contar, salvo, evidentemente, os casos excepcionais de pequenos ramais destinados a fechar as malhas da rede existente ou a completá-la em pequenos percursos.

O projecto deste troço de linha foi estudado, se a memória não me falha, há cerca de uns vinte anos e destina-se a ligar o ramal de Ermidas-Sines com Beja, constituindo assim a linha férrea de Leste-aeste, no distrito de Beja, com ligação de Beja-Moura, por Mourão-Reguengos, com o ramal já há anos em exploração de Évora a Reguei) gos, no distrito de Évora, que tanto valorizou os vinhos e outros produtos do concelho de Reguengos.
Este troço entre Beja e Ermidas, para completar a linha do Baixo Alentejo-Moura-Sines, é de uma grande importância e necessidade para a região, não só para o transporte de passageiros do todo o distrito de Beja para a magnífica praia de Sines, trajecto de cerca de 100 quilómetros (de Beja a Sines), que agora é feito em dez horas, durante uma noite e parte de um dia (em caminho de ferro, bem entendido, com demora de quatro a cinco horas nalgumas estações o duas mudanças de comboio), como para o transporte de produtos agrícolas e industriais, de que toda esta região é rica.
Esta linha, principalmente de Ferreira a Sines, atravessa uma zona de opulentos montados de sobro e azinho, onde, por falta de vias aceleradas, e portanto por serem difíceis e caros os transportes, se queimam ainda, todos os anos, sobre o terreno, sem qualquer utilidade, grandes quantidades de lenha e mato, combustíveis que tanto escasseiam já nas outras zonas por onde deve passar o troço de linha em questão (e se encontram as linhas que com ele ficam ligadas), combustíveis que assim seriam utilizados e valorizados, porque pelo caminho de
ferro seriam fácil e económicamente transportados para as regiões deficitárias de lenhas para aquecimento de fornos de cozer pão, louça, tijolo, cal, etc., como são as de Ferreira, Peroguarda, Beringel, Beja, Cuoa e outras.
Basta dizer que os fornos de cozer pão em Beja são aquecidos com lenhas e matos transportados, a dorso de jumentos de 15 e 20 quilómetros de distância e os fornos de cal de Trigaxes vão buscar lenhas e matos em carros a 30 e 40 quilómetros. Assim, os produtos de primeira necessidade destas indústrias ficam caríssimos.
Êsta linha atravessará ainda ou passará próximo da zona a irrigar no vale do Sado com a água da barragem da ribeira de Campilhas e de outras zonas de pequenos regadios já em exploração, e, assim, melhor serão valorizados os produtos das culturas regadas, pelo seu fácil e económico escoamento para o interior do País, portos de embarque e grandes centros consumidores. E isto é muito importante, porque os transportes oneram por vezes tanto os produtos da terra, até chegarem aos centros de consumo, que tornam proibitiva a sua cultura.
Em contrapartida, os produtos da zona leste do Baixo Alentejo seriam, por esta via, rápida e económicamente transportados para a zona ocidental, que deles é deficitária, como azeite, legumes, cereais, cal, pedra, etc., e principalmente os produtos de exportação seriam, por esta via, rápida e económicamente transportados para o porto de Sines, também projectado, e que, depois de construído, constituirá o empório do Baixo Alentejo, como antigamente, em épocas remotas, o foi Mértola, graças ao seu porto fluvial e à sua posição interpeninsular, onde então escasseavam ou não existiam outras vias de comunicação.
Pois bem, Sr. Presidente, este troço de linha, de um tão grande interesse, parece que já foi considerado num plano ferroviário como sendo dos mais importantes na escala das futuras construções, mas, apesar disso, ainda não foram começadas as obras.
Eu sei, e a isso se referiu o Sr. Ministro das Comunicações no seu discurso já citado, que agora se alega que a escassez de materiais, e, principalmente, de travessas e carris, não permite a montagem de novas linhas, porque . a pequena disponibilidade de travessas, qualquer coisa como 10 por cento das necessárias (que é de 1 milhão, segundo o Sr. Ministro das Comunicações), mal chega para a reparação das linhas existentes.
Mas devo lembrar que tanto este troço de linha Beja-Ermidas, por Beringel-Ferreira, como o da estação de Salsa-Serpa-Quintos, incluindo uma nova ponte sobre o Guadiana (cuja construção e conclusão foram há pouco pedidas a S. Ex.ª o Ministro das Comunicações por uma numerosa comissão de representantes das Câmaras e das forças vivas de Serpa e Moura, de que também fiz parte como Deputado polo círculo de Beja), nada têm que ver com a falta actual de travessas e de carris, visto que os trabalhos de terraplenagem, pontes e outras obras de arte levam anos a construir, e nesse meio tempo há esperanças de que os pinhais se reconstituirão da enorme razia que tiveram de suportar durante a guerra para alimentarem as fornalhas das locomotivas, de forma a não pararem os comboios.
Durante esse tempo os pinheiros crescerão e engrossarão até darem travessas, e temos esperanças de que as condições de abastecimento de ferro melhorarão também, durante esse prazo, de forma que seja possível a aquisição dos carris necessários para a montagem da linha quando estiverem prontas e consolidadas as terraplenagens.
O que se pretende por agora é que os estudos que existem destes troços de linha sejam revistos e actualizados, feitos os que faltam, iniciados os trabalhos das terraplanagens que estão por fazer, como a de Beja-Ermidas e Serpa-Quintos, e construídas as pontes. Sem isso não são necessárias as travessas nem os carris, e portanto a sua falta actual não é razão para que não se comecem ou concluam as referidas terraplanagens, pois o troço de Serpa já tem prontas as terraplenagens de 7 quilómetros entre a estação de Salsa (Serpa-Brinches) e Serpa e respectivas obras de arte, feitas há muitos anos, construções que até se estão a deteriorar, por não serem utilizadas.
Este troço de linha foi iniciado nos primeiros anos da República, a instâncias do antigo senador de Serpa, Sr. Dr. Afonso de Lemos, mas os trabalhos arrastaram-se lentamente durante muitos anos, como engodo das eleições, e, se não estou em erro, foi iniciado como ramal entre a actual estação de Salsa (ou Serpa-Brinches)