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1 DE MAIO DE 1948 675

Isto quer dizer que o vinho verde tem seu consumo garantido, mesmo nos anos de maiores colheitas, não havendo portanto indicação para restrições do plantio nem razões que justifiquem o preço baixíssimo pago aos produtores pelos intermediários, preço que se distancia muito do que por eles é depois cobrado aos consumidores.
Sr. Presidente: tem sido, e continua a ser, aflitiva a situação da lavoura de uma maneira geral, e muito especialmente da região nortenha, porque a baixa que alarmadamente afecta a generalidade dos géneros transformou-se, no respeitante ao vinho verde, em autêntica derrocada.
Para que a Assembleia forme um juízo aproximado da preocupação que domina o nosso mais importante sector de trabalho permita V. Ex.ª, Sr. Presidente, que eu relate uma troca de impressões que ontem, pelo telefone, realizei com um muito considerado lavrador minhoto:

Sobre vinhos. A derrocada continua?
Não, parece ter parado.
Mercê das providências anunciadas na reunião dos viticultores no Porto pelo Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria?
Estou convencido que não. Toda a gente atribui a paragem da derrocada às chuvas e ao frio que nas últimas semanas parece terem prejudicado a nascença das uvas.
A lavoura deve estar desolada!
Engana-se. Até parece ter estimado o cataclismo, por dele poderem vir a resultar preços, nunca compensadores, mas menos aviltantes, para o vinho que ainda armazena nas adegas, o que lhe permitiria atenuar a trágica, situação financeira em que vive.
Sr. Presidente: em vez dos clamores com que tais contratempos eram invariavelmente recebidos pela lavoura, os prenúncios de má colheita são agora ou recebidos com indiferença, ou até com manifestações de júbilo, pela esperança de que a derrocada suspenda a sua marcha de ruína e os preços se firmem.
Tristes sinais dos tempos difíceis que a lavoura atravessa!
Na referida reunião dos viticultores nortenhos o Sr. Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria, que é um simpático portuense, conhecedor dos problemas vitivinicolas, ao aludir ao pânico que se produzira na lavoura, no que respeita ao vinho, filiou-o, segundo referiu a imprensa, na especulação.
Sim, a especulação não deve ter sido alheia àquele pânico e correspondente aviltamento dos preços.
Mas trata-se, sobretudo, duma parcela do pânico geral que afectara principalmente a lavoura e sem poupar a quase totalidade das suas produções agrícolas ou zootécnicas.
Na realidade, repito, não houve sobreprodução, e o vinho, pelo menos o verde, mal chega para as exigências normais do seu mercado de consumo.
O vinho verde continua a beber-se, mas é ridiculamente pago, atirando os produtores para a ruína.
E, repito também, os consumidores, na sua maior parte da classe operária, bem podiam pagá-lo por um preço remunerador, uma vez que os respectivos salários, e portanto seu poder de compra, longe de estarem diminuídos, mostram-se reforçados, merco do embaratecimento da vida, notoriamente no que respeita a géneros agrícolas.
Sr. Presidente: para valer à lavoura dos vinhos verdes o Governo autorizou a sua queima até 30:000 pipas e à razão de $15 o grau-litro.
Este preço, se é aceitável para vinho doente, nunca poderia contribuir para manter cotações razoáveis ao vinho verde são e de categoria, geralmente de pequena graduação alcoólica, as quais resultam sobretudo de outras qualidades características e muito apreciáveis daquelas excelentes e inconfundíveis massas vínicas.
Uma vez que a chamada psicose da baixa envolveu também aquele género agrícola, que constituía talvez a melhor defesa da lavoura minhota, a única maneira eficaz de lhe garantir, agora preço razoável seria o Governo habilitar a Comissão dos Vinhos Verdes, ou outro organismo, a adquiri-lo numa média de 1.000$ por pipa, desde que possua as qualidades de um bom vinho verde típico.
Isso bastaria para que a respectiva cotação se elevasse desde logo acima daquele preço, porque os armazenistas teriam de comprá-lo para fornecimento dos respectivos clientes.
É convencido estou de que o organismo oficial encarregado daquela operação reguladora poucas pipas conseguiria comprar, porque, repito, o vinho verde da última colheita mal chega para abastecer os seus consumidores habituais.
Sr. Presidente: no relato, publicado pela imprensa, daquela importante reunião de produtores de vinho verde pude então ler que o distinto Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria afirmara que o Governo, por necessidade de defesa da lavoura, ia comprando algum vinho (claro está que se referia a vinhos de pasto maduros), mas que não conseguia depois vendê-lo, sobretudo porque os mercados externos não o absorvem, em consequência das dificuldades com que lutam.
Infelizmente tem-se verificado retraimento daqueles mercados, mas tão difícil situação acabará por modificar-se (a história repete-se), e os bons vinhos portugueses voltarão a exportar-se.
Caso é que os financiamentos do Estado se concentrem num produto que não sòmente se não deteriore, mas que vá melhorando com os anos e possa desta forma esperar a restauração do poder de compra dos aludidos mercados estrangeiros.
É o que se verifica com as autênticas massas vínicas da região duriense, uma vez convertidas em magnífico vinho do Porto.
Isso consegue-se, além de outras operações de certa transcendência, com o adicionamento de apreciável percentagem de aguardente vínica.
O ilustre membro do Governo referiu-se aos inconvenientes de se recorrer para isso à destilação de vinho do Douro, porque resultaria cara, havendo toda a vantagem em se aproveitar a aguardente vínica do Sul, destinando-se os vinhos de pasto do Douro ao mercado portuense e aos concelhos limítrofes.
Trata-se da fórmula clássica para atenuação das crises vinícolas:
O vinho excelente dos socalcos durienses, e só esse, seria totalmente beneficiado com aguardente do Sul, e aguardaria assim e sem receio de desvalorização, pois suas qualidades generosas ir-se-iam afinando com a idade, oportunidade de colocação vantajosa.
Os excessos de aguardente do Sul também poderiam aguardar, sem prejuízo de maior, oportunidade de venda.
Os vinhos de certas regiões, como os do Dão, de Colares e, sobretudo, os verdes, esses terão sempre consumo garantido, desde que intervenções inoportunas e especulações inadmissíveis, umas e outras fáceis de evitar, lhes não dificultem a livre circulação e venda compensadora nos seus mercados tradicionais, nem perturbem a formação natural dos respectivos preços.
Aludiu o Sr. Subsecretário de Estado ao plantio de videiras, citando os numerosos pedidos que de muitos pontos chegam ao Terreiro do Paço para alargamento daquela cultura e afirmando que só a custo o Governo vai deferindo tais pretensões.