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27O DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 69

O Sr. Simões Crespo: - É que os recém-formados não estão inscritos na Ordem, e por isso a Ordem não tem conhecimento deles e não poderá dar explicações nesse sentido. Mas são muitos, de facto, os desempregados.

O Orador: - É uma explicação.
O meu ponto de vista fica, porém, de pé, porque a Ordem dos Engenheiros espera receber informações quando afinal ela é que devia procurá-las.

O Sr. Carlos Moreira: - É para isso mesmo que ela é Ordem.

O Orador: - Falta a todos estes organismos iniciativa, autoridade, personalidade. E as entidades colectivas aro, a este respeito, semelhantes às pessoas singulares: quando lhes faltam aquelas genialidades poderão ser sofríveis servidores, mas o que nunca se conseguirá fazer delas é colaboradores úteis, ou sequer medíocres.
Pode-se dizer, sem exagerar, que a legião do proletariado intelectual no nosso país deve comportar à roda de 2:000 "indivíduos".
E o que isto representa de perigoso, socialmente, não seria necessário dizê-lo a esta Assembleia. Mas não posso furtar-me a abordar este aspecto do problema porque desta tribuna se fala também para o País.
Sr. Presidente: poderia citar aqui opiniões de sociólogos o de políticos sobre o desemprego intelectual, mas, além de que isso nada acrescentava aos nossos conhecimentos sobro o problema, considero este sério em demasia para servir de pretexto a erudições fáceis ou a dissertações académicas sonoras e graves.
Profiro apreciá-lo na sua realidade crua, denunciar sem rodeios os motivos que, em meu entender, a ele tem conduzido, e procurar, à luz da noção que possuo, do justo e do conveniente, esclarecida pelo conhecimento das possibilidades nacionais, os remédios adequados à sua solução.
Todos os que não encontramos aqui sabemos o que representa a aquisição de um curso superior.
Para os encarregados da educação representa despesas, sacrifícios, que só uma grande esperança justifica, o que, a ficarem em vão, se transformam numa decepção inesquecível. Para os estudantes, trabalhos, privações às vezes, numa idade em que tudo convida à largueza e à generosidade; mas a sobrepor-se a tudo isso a ideia de ia poderem gozar de liberdade; nas regiões mais altas da hierarquia social.
E os anos passam. E quando se atinge o último do curso, a ansiedade pela libertação deixa pensar que dificilmente se poderia aguardar mais.
Espera-os o futuro cor-de-rosa, o vão confiadamente ao seu encontro. Mas eis que o futuro empalidece, à medida que o tempo passa, o torna-se cinzento, o torna-se mesmo negro.
Que fazer? Pela profissão em que se formaram não vislumbram possibilidades de ganhar o pão de cada dia ... Colocarem-se em qualquer lugar?
Mas poderá um doutor, um engenheiro, com 24 ou 28 anos, colocar-se dignamente, em qualquer lugar, desviando o rumo da sua vida?
Ainda que o faça, permanecerá num semidesemprego com que só excepcionalmente se conformará.
Emigrar? "Dezenas do nós - diz um engenheiro do Porto - queremos ir trabalhar para as colónias, mas mesmo para aí é difícil conseguir emprego, a avaliar pelos esforços que eu o outros temos feito".
"Eu e muitos colegas estamos prontos a ir para qualquer parte do Mundo trabalhar como engenheiros - diz outro - desde que nos seja facilitada a emigração em boas condições.
Desta maneira, a pessoa sente-se diminuída perante si própria, perante os amigos, perante a sociedade. E a família, que elo, naturalmente, aspira a constituir?
Estes homens, desempregados, revoltam-se, ainda que não conspirem. E revoltam-se contra tudo o contra todos, por maior que seja a sua formação moral e política. E não é grande, pode dizer-se, na maioria deles, porque há já muitos anos a educação política da juventude portuguesa tem sido incompreensivelmente contrariada com neutralizações, cujos efeitos vão sendo agora dolorosamente verificados.
Dizia há dias o padre Américo, na sua linguagem simples, toda feita de verdade: "O homem não vivo para comer, é certo. Mas sem alimentação suficiente é impossível ele estar quieto ou escutar a doutrina dos que têm mesa e talher".
"Aqui no Porto - escrevem-me ainda -, a qualquer hora a que se vá a um café, é sabido encontrar-se um grupo de doutores ou engenheiros a conversar sobre a crise". .
Em Maio de 1926 havia, além de tudo o mais, uma greve académica, com o fundamento de nos cursos superiores não serem dadas garantias quanto à colocação futura dos que os frequentavam. Não foram os estudantes que fizeram o 28 de Maio, mas ajudaram a criar o ambiente propício à sua eclosão, e nas horas futuras, em que foi necessário dar apoio, eles souberam estar sempre presentes com o seu entusiasmo o com a sua palavra calorosa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que saudados! Saudados, principalmente, porque esse espírito moço e combativo parece hoje inteiramente perdido.
A Nação não pode desinteressar-se de estarem no desemprego ou em semidesemprego, e, por consequência, no azedume e na animosidade, muitos dos que, no futuro, serão, apesar de tudo, designados para ocupar cargos dirigentes de qualquer grau.
O Estado não pode deixar entregue ao desespero, com todas as suas consequências, um número indeterminado de membros das camadas intelectuais.
Esta é a importância do problema Retocar em demasia o quadro seria, decerto, impertinência.
Sr. Presidente: é altura de começarmos a ver quais os motivos por que se manifesta este fenómeno.
Afastemos, primeiramente, uma possível causa - a de o desemprego deste grau ser motivado por restrições de ordem política. Não há desemprego político (apoiados) Bem ao contrário, verifica-se que muitos adversários da actual. ordem social se encontram, em abundância, bem colocados nas repartições públicas e nos organismos de coordenação económica, mesmo já nomeados pelo Estado Novo.
Não é segredo para ninguém que ainda há pouco foi Publicamente acusado de formação marxista um funcionário que exercia o cargo de director dos Serviços Médico-Sociais - Federação das Caixas de Previdência; e muitos dos superintendentes da previdência social eram tidos como, durante muito tempo pelo menos, de formação adversa no regime corporativo.
Para cúmulo, numa comissão há pouco nomeada para efeitos que me não ocorrem agora foi incluído um indivíduo expulso anteriormente de um estabelecimento de ensino militar por insinuar no espírito dos alunos a leitura de publicações subversivas.
Se eu tivesse na minha presença alguns daqueles que ardem em indignação contra as declarações de repúdio