1 DE MARÇO DE 1951 447
a que estas se confirmem plenamente nos méritos próprios e na superioridade sobre usos anteriores. Recordemos como se têm espalhado depressa e longo as máquinas o instalações mecânicas: debulhadoras, tractores o mais alfaias, lagares aperfeiçoados de azeite e de vinho, moinhos de rações - que sei eu! -, os adubos químicos; todos os insecticidas e mesmo as mais recentes fito-hormonas que vêm no mercado; as modernas variedades de árvores, de pães e de postos, cortas culturas de interesse industrial, e tantas mais inovações, o reconheçamos que há interesse, mesmo avidez, em experimentar o adoptar os progressos úteis e proveitosos.
Por todo esse País, aos cantos mais discretos de pátios, no fundo de palheiros e armazéns, de as copas de velhas árvores ou simplesmente desprezadas às bordas de terras munidas, há muitas máquinas, adquiridas bastantes talvez com sacrifício, enferrujando lentamente ao abandono da inutilidade, a demonstrarem como simples imagens atraentes, ou reclamos hábeis, têm levado os nossos lavradores de bom grado a ensaiar todas as castas de novidades com que os tentem, ainda que hajam de ser à sua custa as experiências da adaptabilidade às condições.
Também não faltam lembranças de searas erradas, de pomares perdidos, de animais de raça degenerados, tudo com grandes perdas de dinheiro e de tempo, mas quase nunca de coragem, a contarem por outras palavras a mesma história.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E por fim ainda o acolhimento dado à lei de melhoramentos agrícolas confirma irrefragavelmente a verdade que venho procurando demonstrar. Para melhorarem as suas culturas, aumentarem os rendimentos das terras, os lavradores responderam entusiasticamente, como já disse, a oferta de auxílios feita: logo no primeiro ano, e sempre depois a seguir, as disponibilizados do Fundo praticamente se esgotaram.
A dotação orçamental nesse ano de 1947 foi de 32:000 contos; pois bem, os créditos concedidos somaram 31:168, em três anos, a 1:780 agricultores, apenas para cobras reprodutivas, tecnicamente bem concebidas e de seguros resultados económicos, assistidas e fiscalizadas, o Fundo de melhoramentos agrícolas, que realizou o total de 79:000 contos, concedeu mais do que tinha em empréstimos e entregou por conta destes 73:907.769640. Se mais dinheiro houvera, certamente mais se aplicam.
0 agricultor português não é, pois, rotineiro. É pobre o pouco informado. E porque é pobre experimenta à cautela, e porque anda mal informado sabe de pouco.
Apenas às técnicas tradicionais, afeiçoaste ao clima e ao terreno por séculos de experiência e de observação, domina com segurança, com a precária segurança das lides do campo, e por isso só nelas confia: é prudente.
Pobre e mal informado, pobre porque, mal informado, não sabe tirar mais das suas terras; e mal informado porque, pobre, não lhe têm chegado os meios de se [...]. Um [...]clatério recentissimo de peritos estrangeiros que nos visitaram em oficial diz textualmente que:
Portugal oferece um extremo contraste de adiantado, conhecimentos entre os investigadores agronómicos - e métodos antiquados entre os agricultores, com excepção de [...] proprietários e administradores de grandes explorações.
E, mais adiante.
Nunca se insistirá demasiado quanto à importância de informações sobre melhores processos naturais. Agora a grande necessidade é começar a introduzir métodos de divulgar conhecimentos entre os agricultores. Há de facto um consenso larguíssimo de que a agricultura nacional pode e necessita progredir no sentido de mais fartas e rendosas produções, por aperfeiçoamento dos seus métodos de trabalho; mas é claro que tal aperfeiçoamento, tem de ser geral, só por geral divulgação de melhores conhecimentos poderá conseguir-se, riremos, pois, uma massa agrícola com espírito e [...] de progresso, e necessidade de a educar largamente para realizar este progresso, produzindo mais e melhor onde quer que seja possível.
Para isto precisa-se tanto de conhecer ainda melhor a terra o as suas possibilidades como de espalhar as noções que se ganhem com este conhecimento.
Faz-se mister observar, experimentar, concluir e depois comunicar e ensinar: para os primeiros fins serviço estações agrárias; os segundos constituam propriamente o objecto do que entro nós se tem chamado assistência técnica e agricultura e vai ganhando o nome mais simpático de extensão agronómica, que não dá tanto a ideia de esmola, aliás substanciada pela parcimónia do que se tem feito até hoje.
A assistência técnica à agricultura não mereceu ser englobada nos objectivos da Lei de Reconstituição Económica.
Custa a compreender que esta forma, quando bem utilizada, das mais proveitosas de fomento directo da produção agrícola, não tivesse sido incluída, e em lugar de destaque, para receber os mais vigorosos impulsos no quadro da reconstituição; mas assim aconteceu, excepção feita do limitado âmbito das colónias agrícolas. Estas, sim, consta que beneficiam de uma assistência completa, mas não passam de [...] centos (se tantos) de casais, em poucos milhares de hectares.
0 demais do País depende principalmente das brigadas das regiões agrícolas, dotadas por verbas de despesa ordinária, já se vê que sem fartura, e que não têm mãos a medir para tenderem, áreas enormes, por vezes de distritos inteiros.
Gostaria muito de poder dar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e à Assembleia alguns informes precisos sobre o que se tem podido fazer nesta matéria de assistência técnica e demonstrações práticas de agricultura, mas infelizmente ainda não recebi os elementos que para tanto desta - mesma sala requero há dez isenta já. Oxalá me pudesse convencer de que a demora resulta somente da própria magnitude da actividade a descrever.
Creio não fazer, porém, grande injustiça dizendo que a acção se dilui tanto que a pouco alcança. A mais simples informação que se peça sobre a adulação ou análise dama terra, sobre uma doença, sobre o valor alimentar dum penso, pode levar meses a receber; a assistência pessoal dos técnicos obtém-se sem dificuldades, é certo, porque a sua dedicação conhece limites, mas só pode ser fugaz; os campos de demonstração, se há, são poucos e dispersa, - de modo que raros os vêem.
Dispõem de peritos de primeira ordem, em zelo e saber, que produzem trabalhos valiosos, mas são poucos e conseguem por isto a verdadeira e indispensável divulgação.
Há ainda estabelecimentos e serviços de ordem superior, prestantissímos também nos seus níveis o domínios, mas tão-pouco fazem divulgação realmente penetrante.
De modo que hoje em dia é o agricultor que tem de buscar instruir-se, e para isto há, na verdade, disponível, além daquela assistência, razoável cópia de livros e folhetos, que se têm distribuído com certa facilidade.
Mas quem, salvos alguns raros mais curiosos ou bem preparados, busca o aproveita esses livros e folhetos, o agricultor tem dificuldade em os utilizar: os casos que descrevem, as terras a que se referem, os pormenores que esmiuçam, não são bem os seus; os resultados que prometem não há quem lhos garanta; as técnicas que