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804 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 96

daquele jornal, o artigo ser de tal constituição que só poderia ser prejudicial à causa dos políticos antigos, mas, não querendo ou não convindo ao jornal fazer censura por conta própria em virtude de estar a ser assediado por correligionários para a sua publicação, nem tão-pouco que fosse divulgado nas esferas oficiais e na própria tipografia o conteúdo da entrevista, assim me pedia esse favor.

Julgo não haver necessidade de fazer quaisquer comentários.
Essa nota oficiosa é um notável documento histórico da vida da Revolução Nacional e o seu fecho surge sempre no meu espirito quando o céu azul da nossa terra se turba prenunciando tempestade.
Seja-me permitido relembrá-lo:

Notou-se bem? Três afirmações; pelo menos seis falsidades.
E em tudo mais é assim.

Estas palavras duras, incisivas, definem, de maneira iniludível, o norte da política de verdade que sempre tem animado os servidores da Revolução Nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E é nesse mesmo sentimento de luta pela verdade que procuro alicerçar as minhas considerações a propósito do que em redor da censura à imprensa se passa na nossa terra.
Não se julgue, todavia, que, ao relembrar o caso passado há já muitos anos com o Primeiro de Janeiro, tenho em mira afectar a imprensa, e, em particular, esse jornal.
Todos conhecem as insuperáveis dificuldades que a imprensa portuguesa se vê forçada a suportar e a vencer sem curvar a cerviz.
Dirigida por homens dignos da maior consideração, a alguns dos quais me prendem laços de velha e sólida amizade, a imprensa do País sabe melhor do que ninguém que há, por detrás da censura e dos jornais que dirigem, forças estranhas que nem sempre é possível esmagar.
E não é à censura ou aos jornalistas da nossa terra que alguém, honestamente, pode acusar de carcereiros da liberdade do povo.
Quantas, quantas vezes temos verificado a complacência com que a censura e os nossos jornais permitem a exibição de fantoches, envoltos em manto de duvidosa cultura e intelectualidade, contorcendo-se em atitudes impudicas e bolsando palavras que procuram exprimir ideias ou sentimentos, com que buscam envenenar o que há de sagrado na alma da gente portuguesa!
Mas pior do que estes «esguichos» de liberdade é o que se não diz abertamente, cara a cara, e se segreda nas encruzilhadas da vida, olhando em redor, com gestos de fingido receio, acompanhados da advertência cuidadosa de que há esbirros por toda a parte, ou de um encolher de hombros de vencidos e a frase gasta «de que nada há a fazer porque a censura é punhal apontado ao peito de quem quer erguer a cabeça».
E, assim, há hoje muita gente de boa fé que pensa não ser possível exteriorizar queixas ou críticas a medidas do Governo e a quaisquer serviços públicos, contra as grandes empresas ou magnates de qualquer coisa, enfim, que para se viver em paz é indispensável considerar e até proclamar que se vive no melhor dos mundos.
Mas, ao mesmo tempo, não deixam de se ouvir segredar as mais infames calúnias, espalham-se notícias de escândalos inconcebíveis, inventam-se casos estranhos passados nos mais remotos cantos do Império - tudo orientado no sentido de se fazer acreditar que se vive amordaçado e algemado, com mordaças que mais esmagam quanto mais se deseja respirar, com algemas que mais se cerram quanto mais procuram movimentar-se.
E, se há quem esboce dúvidas sobre tanta miséria posta a correr de lés a-lés, logo se afirma, com o maior desplante, que a censura não deixa que se faça luz sobre os casos apontados para que a verdade e a justiça triunfem.
Há que confessar lealmente, corajosamente, que, embora as tormentosas e incertas horas em que o Mundo se debate criem o especial clima de que todos sofremos, às estranhas monobras que acabo de referenciar, conseguindo exercer a sua acção deletéria, se deve atribuir fundamentalmente o facto de muito boa gente da nossa terra começar a viver como que esmagada por fatal destino, procurando alhear-se do que em redor se passa, num estranho estado de espírito em que o egoísmo e a indiferença imperam, conduzida assim para um materialismo sem freio, que não permite olhar para diante e para alto, segura do rumo, como foi sempre característica da raça portuguesa.
É preciso pôr cobro a este estado de coisas, de forma a que ninguém tenha dúvidas sobre a existência duma forte potência, estranha ao Governo e aos órgãos de que dispõe, à imprensa e aos que não enjeitam a sua quota-parte de responsabilidade na Revolução Nacional, cujas maquinações visam a ilaquear a vida da gente portuguesa, no que ela tem de mais digno e mais sagrado, manejando como arma principal a calúnia e erguendo como espantalho, para servir-lhe de escudo, a censura à imprensa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apelo para a União Nacional e para o Secretariado da Informação, cujo comando superior está confiado a homens que todos respeitam e admiram, para se erguerem frente a frente contra essas forças do mal, que tanto dano têm causado à nossa terra.
Os homens que estão à frente desses organismos, valores reais da Nação, de cujos sentimentos de verdadeiros soldados da Revolução Nacional ninguém tem o direito de duvidar (apoiados), com uma coragem sem limites, tantas vezes posta à prova, saberão certamente encontrar a melhor forma de fazer sentir ao País que não há «intocáveis» em Portugal e que depois de vinte e cinco anos de lutas e sacrifícios, fazendo o balanço do nosso «deve» e «haver», nós, os que sempre procurámos dar-nos todos ao bem comum, podemos olhar para trás, de cabeça erguida e sem ter de corar perante os nossos filhos, apesar dos muitos erros cometidos - que melhor do que ninguém sentimos e também mais do que ninguém tentaremos remediar, com a nossa insatisfação permanente e a nossa devoção sem limites.
Doa a quem doer, custe o que custar, urge encetar a luta.
As sombras e o silêncio não servem os da Revolução Nacional - só podem interessar a outrem.
Não se julgue que entendo haver necessidade de falar e actuar para a «galeria», como costuma dizer-se.
Desde o tempo dos comícios - que ainda sofri - que sinto o mais profundo desprezo pelo que, em linguagem marinheira, se chama «Deputado pela proa», mas sinto a urgente necessidade de actuar no sentido de que a boa gente da nossa terra se não desportugalize e saiba que o Governo da Nação e quem não enjeita responsabilidades que lhe cabem na Revolução Nacional desejam que se viva em Portugal na verdade e na justiça, que só merece os seus aplausos a luz lançada sobre as escuras manobras dos reis do açúcar ou das farinhas, sobre os desequilíbrios dos responsáveis da Administração, por