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12 DE ABRIL DE 1951 805

mais alto que estejam, sobre as maquinações tortuosas das grandes empresas, enfim, sobre tudo o que ao bem comum possa interessar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A verdade e a dignidade, traves mestras da Revolução Nacional, dão-nos a garantia da vitória. Por minha parte farei tudo quanto em minhas poucas forças caiba para que a gente portuguesa não perca as características da nossa raça, ou mesmo as esconda com simples maquillage, para que resista às pressões que sobre ela tentem exercer, no sentido de fazê-la marchar a olhar para os pés, para que o fantasma do medo a não domine, para que o manto real do materialismo, em que o egoísmo, a indiferença, o marasmo, brilham como gemas preciosas, não esmague o seu sentido de intemperança de confiança, que lhe garante rumo certo.
E porque me parece oportuno, vou começar, desde já, a trabalhar neste sentido, tratando, com a serena verticalidade com que sempre tenho procurado servir, dum assunto que poucos ignoram e se apresenta, por aí, com foros de grande escândalo.
Trata se da nomeação para o Banco Nacional Ultramarino de alguns homens públicos que desempenharam elevadas funções na orgânica do Estado.
Em volta deste assunto, sem dúvida alguma o caso ultimamente mais discutido, desde a rua aos salões, ouvem-se as críticas mais acerbas, os mais cruéis sarcasmos e até a graça rasteira, a que não faltam, por vezes, laivos de rancor.
Porque não se discute abertamente, de olhos nos olhos, esse passo da vida do Governo, que se ouve classificar de grande escândalo?
Porquê? Por causa da censura?
Haverá alguém de tão boa fé que acredite nisso?
Portugal deve ser dos poucos, se não o único, países do Mundo em que os homens chamados ao desempenho de altas funções regressam à sua vida anterior, terminado esse serviço, quando não apedrejados por infamantes calúnias, pelo menos acompanhados pela indiferença geral em tudo o que respeita à sua situação económica.
Apoiados.
Num puritanismo duvidoso de comício, na ausência de respeito pela função do Poder, motivada pela falta de escrúpulos no seu exercício, no miserável nível de vida da nossa terra, se deve, talvez, filiar o procedimento até agora adoptado.
Legislar no sentido de modificar este estado de coisas não seria aconselhável, sobretudo agora, que anda tão acesa a campanha da indiferença e do marasmo perante tudo o que, respeita à coisa pública.
Talvez tenha sido por et>se motivo que houve o propósito, embora correndo o risco do desencadeamento de rasteiras explorações, de fazer vibrar a narcotizada opinião pública, de forma a conseguir o seu interesse por assuntos da Administração que o decoro e os mais elementares princípios de justiça impunham que fossem revistos.
Na verdade, isto de convocar homens para altos cargos de direcção, onde a vida se pasta mais do que noutra qualquer parte, homens que foram forçados a andar pelos salões das embaixadas, representando o País aqui ou no estrangeiro, honrando e acrescentando o nome de Portugal, para, terminado o serviço, serem vistos nas bichas dos reformados, chamados por um número, como se tudo o mais tivessem perdido, ou vivendo como pobres envergonhados, no labor para que orientaram a sua vida, mas com a cruz sobrecarregada com o peso de obrigações que lhe foram criadas - apontados a dedo por aqueles cujos interesses não serviram, odiados por outros cujas ambições não satisfizeram -, isto, senhores, é de fazer corar de vergonha pela ingratidão que representa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ingratidão e falta de senso também, pois esquecia-se que muitos desses homens poderiam ainda servir o bem comum, até pela simples acção de presença, em determinados planos de vida que as relações sociais lhes abriram.
Por vezes tem sucedido mesmo que, ao regressarem da alta função para que foram convocados, não têm sequer assegurado o pão de cada dia, pois para acorrerem ao chamamento que lhes fora feito se impuseram logo a obrigação de considerarem a incompatibilidade do lugar que desempenhavam com a missão que lhes era confiada, num elevado sentido do dever, que as leis não definem, mas que está gravado nas almas de eleição.
Trata-se de verdadeiros soldados da Revolução Nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - De chefes a que rendo as minhas homenagens.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Bem haja o Governo por ter, corajosamente, arrostado com a maledicência dos que vivem para denegrir tudo e todos, por ter despertado o interesse público para um caso que, há muito tempo, urgia que tosse encarado devidamente, por ser superior às atitudes dos que, hipòcritamente, se envolvem no manto de suspeito puritanismo.
O Governo alcançaria, é certo, o mesmo fim, seguindo outro caminho, camuflando, de qualquer forma, a sua decisão. Mas foi melhor assim.
Convém continuar e ir ainda mais adiante.
É preciso que os homens considerados como reais valores da nossa terra sintam da parte de todos, e especialmente do Governo, o respeito e o carinho a que têm direito.
É verdade que a Nação espera que o seu Governo saiba distinguir os verdadeiros valores e não os confunda com aqueles que a si próprios se classificam de génios e sempre conseguem palco e público para habilidosas exibições intelectuais ou culturais, quantas vezes pouco respeitáveis, pela falta de qualquer coisa de sério que as alicerce.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Peço a V. Ex.ª para limitar as suas considerações, visto já ter excedido a prazo regimental.

O Orador: - Vou já terminar.
Mas, prosseguindo:
Convém acima de tudo ter sempre presente que, apesar do desvairo em que o Mundo de hoje se debate, embora o metro da vida seja definido para muitos por simples fiada de dólares, ao povo português não escapa a verdadeira grandeza das coisas, sobretudo das que se erguem acima da planície, não respeitando assim os homens, seja qual for o manto que enverguem ou o plano em que se evidenciem, se os vêem como simples fantoches, sem valor para honrar o lugar que ocupam, subindo à custa da diminuição dos outros, enfim, sem os sólidos alicerces morais que dignificam a vida humana e que perderam, dementados pela vaidade, pela ambição, por paixões inconfessáveis.