O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE ABRIL DE 1951 807

por sentir que, como mulher, também tenho a minha palavra a dizer neste momento em que voltou a ser discutido, ou se revê,, o estatuto fundamental da vida política du Nação.
Também eu notei - ou, melhor, me surpreendi - que nos textos que estão para ser revistos não tivesse aparecido o nome de Deus. E talvez tenha um motivo a mais para tal estranheza: é que, se «Portugal foi sempre cristão», como o dizia aquela legenda que alguém colocou, lá em baixo, num ângulo de um dos pavilhões da exposição - documentário riquíssimo e vivo dos nossos oito séculos de vida nacional -, repito, se «Portugal foi sempre cristão», foi ao colo das mulheres portuguesas que ele o aprendeu a ser; é no regaço das mães portuguesas que ele continua a ser educado. O primeiro nome que elas ensinaram a todos nós foi o grande e doce nome de Deus.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Pergunto mesmo, Sr. Presidente, ao reconhecermos o milagre da Providência a respeito e a favor de Portugal sempre, e mormente durante estes últimos anos, como já aqui foi dito, as mães portuguesas, que souberam pôr-se de joelhos, ensinaram os seus pequeninos a pedir a paz e prepararam e formaram os homens desta geração, não foram também cooperadoras neste milagre.
Quem sabe, Sr. Presidente, quantas heroínas se encontram ao lado e nas entrelinhas da lista dos heróis das horas grandes que temos vivido e estamos vivendo?

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Lembremo-nos da decisão com que elas se ergueram, como se fossem uma só - que contaram as que não nos acompanharam? - quando em certo momento da vida política, ainda há bem pouco tempo, foi posta em foco a causa de Deus e da Igreja, que é, afinal, a mesma causa da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Foi um brado a pedir Deus e a paz! Foi uma corrida às urnas a dizerem que sim, que «Portugal é cristão», isto é, a dizerem que «Deus não se discute», que queriam Deus nos seus lares, nas escolas dos seus filhos, nas oficinas dos seus maridos, nas suas aldeias, nas cidades de Portugal, numa palavra, foi um grito de alerta perante o perigo de lhes ser tirado o melhor dos seus bens.
Então posso perguntar: ainda haverá que ter receios ou que pôr em dúvida a Voz da consciência, o desejo das mulheres de Portugal?

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Dir-se-á que não vale a pena confessar Deus, uma vez que pelo artigo 45.º ficam no texto constitucional consignados os direitos da sua Igreja. Mas pergunto então: se se consignam os direitos da religião católica, se se está decidido a dar a esta religião o lugar que lhe pertence por direito e de facto na vida da Nação Portuguesa, porque se oculta o nome do seu Autor?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Sr. Presidente: as mulheres de Portugal pedem que o nome de Deus entre nos textos da reforma constitucional, que entre no seu lugar; mais, que tenha o lugar que lhe compete, que é afinal o lugar que todos nós lhe damos na nossa vida, no nosso coração, no coração da nossa gente, que se habituou a ver a sua história, a nossa história, trabalhada em feitos e glórias sob o signo de Deus.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Sr. Presidente: queria ainda e apenas dizer duas palavras acerca da família e do trabalho feminino, dois problemas que se entrelaçam profundamente nas causas e consequências da vida social dos povos.
Já aqui foram abordadas mais do que uma vez e agora, já a propósito das alterações a introduzir na Constituição, o assunto voltou a ser tratado com inteira oportunidade.
Não é demais que se insista, que se atenda à situação, ao problema do «ser familiar», como já lhe chamou alguém - expressão que tão bem traduz a unidade desta totalidade viva e vivida que é a família, verdadeira síntese bio-espiritual, irredutível, com direitos e deveres que também não podem alhear-se desta realidade unitária - mas, dizia eu, não é demais que nos debrucemos sobre a família, tanto ela representa a base fundamental e essencial da vida humana, tanto ela é o melhor tesouro nacional, que havemos de defender custe o que custar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - A este propósito seja-me permitido um parêntese para um testemunho vivo desta identificação Portugal-família, que tanto nos deve orgulhar e que tantas responsabilidades nos traz.
Nos vários congressos internacionais de serviço social a que tive ocasião de assistir e em que tomei parte sempre que se tratava de assuntos respeitantes à família Portugal era chamado a dizer a sua palavra, porque ouvi-lo era escutar uma autoridade em doutrina e experiência da vida familiar.
Le Portugal de la famille, me disseram algumas vezes no decorrer desses congressos, onde, graças a Deus, pelos testemunhos que levámos e pela fé familiar que comunicámos, deixámos a certeza da nossa doutrina familiar, social e cristã.
Perdoe-me V. Ex.ª, Sr. Presidente, mas eu, que ainda não havia tido ocasião para esto desabafo, gostei de que me tivesse sido dado fazê-lo desta tribuna.
Sei, portanto, Sr. Presidente, que a realidade «família» é uma convicção bem enraizada em todos nós, mas sei também que para muitos portugueses ela é ainda e apenas uma figura de retórica.
E, Sr. Presidente, nós, as assistente* sociais, que amassamos as nossas vidas com as realidades, com duras realidades da vila social das famílias, sabemos bem que elas ainda não têm, e reclamam com justiça, aquilo a que têm direito.
Sei que a Câmara está convencida da urgência deste assunto, sei que VV. Ex.ªs, como nós, as trabalhadoras sociais, não desejam ficar-se na manifestação de anseios platónicos e que querem para as famílias portuguesas a execução dos decretos e das disposições constitucionais que dizem respeito à melhoria de todas as suas condições de vida.
Apoiados.
Temos de levar então à família, e quanto antes, os meios materiais e morais que pela Constituição o Estado lhe promete, para que ela possa ser de facto «fonte de conservação e desenvolvimento da raça, base primária da educação política e administrativa», como diz o artigo 12.º da nossa Constituição.

Vozes: - Muito bem!