O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

17 DE JANEIRO DE 1952 191

das diversas actividades directa ou indirectamente relacionadas com as indústrias existentes;
2) Que se estudem os limites dentro dos quais as actividades agrícolas deverão exercer uma acção complementar industrial, facilitando a criação de cooperativas e fixando, nos outros casos, para cada modalidade, um limite que, sem ocasionar a multiplicação excessiva de pequenas unidades preparadoras ou transformadoras da matéria-prima, não reduza também demasiadamente o seu número;
3) Que na instalação de novas unidades se tenha sempre em consideração o aumento da população e a necessidade de proporcionar às novas gerações uma adequada proporção quantitativa no exercício das actividades nacionais.

Prestando assim o nosso modesto contributo no estudo de uma proposta de lei que poderá exercer a mais salutar acção sobre a economia do País, estruturando adequadamente as suas actividades e legítimos interesses e anseios, aproveitamos esta oportunidade para solicitar de V. Ex.ª que seja presente à Assembleia Nacional esta nossa exposição e ainda para que V. Ex.ª seja o intérprete do nosso reconhecimento junto do Governo pelos altos e justos objectivos que informam a referida proposta de lei.
A V. Ex.ª, apresentando os protestos da nossa maior consideração, nos subscrevemos muito respeitosamente.

Lisboa, Associação Central da Agricultura Portuguesa, 16 de Janeiro de 1952. - Pela Associação da Agricultura, o Presidente da Direcção, Rui de Andrade.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Mendes Correia.

O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: já na anterior legislatura chamei, mais duma vez, a atenção das entidades competentes para um assunto que reputo de subido interesse cultural e ao qual está também de certo modo ligado o nosso brio patriótico. Refiro-me à preferência quase exclusiva dada no Teatro Nacional de S. Carlos, nas sucessivas épocas de ópera lírica, aos cantores estrangeiros sobre os cantores nacionais. Nos elencos artísticos os últimos figuram numa minoria desoladora e em papéis geralmente de reduzida categoria.
Os jornais trouxeram nos últimos dias os anúncios para assinatura na próxima temporada de S. Carlos, e, quando o desejável seria que este possuísse, além dos coros próprios, dum corpo de baile seu e duma orquestra sua, um elenco predominantemente português de artistas líricos, decerto apenas com as suas lacunas ou deficiências preenchidas por estrangeiros e enriquecido uma ou outra vez com artistas estrangeiros isolados duma alta categoria, verifica-se o contrário. Compreendo que essa fórmula ideal não seja atingível de repente, mas para termos uma companhia alemã e outra italiana, como acaba de se anunciar, mais valeria arrendar o teatro ou deixar à iniciativa tantas vezes valiosa duma empresa como a do Coliseu o fornecimento de espectáculos de ópera aos amadores portugueses, com a vantagem, como no Coliseu, de não haver exigências de toilette, incompreensíveis normalmente no nosso tempo, e de preços que afugentam tantas pessoas de bom gosto mas de modestos recursos.
O Teatro Nacional de S. Carlos é um teatro normal de ópera, um teatro do Estado. Embora o snobismo de uma parte do público se manifeste antipatriòticamente em favor dos cantores estrangeiros, tantas vezes de categorias inferiores às de muitos cantores portugueses, deveria às preocupações de bilheteira ou à satisfação daquela lamentável preferência sobrepor-se, da parte das entidades responsáveis, o desejo de enquadrar o teatro na sua verdadeira função, na sua função pedagógica e nacional. Não vemos nada disso, o que dá como resultado desviarem-se para outras actividades muito diversas verdadeiras vocações líricas e criar-se a falsa lenda da incapacidade dos portugueses para cantores de ópera, deixando-se-lhes apenas o fado como triste título de aptidão musical...
Ao passo que noutros países cultos da Europa e da América se dá a preferência oficial na ópera lírica aos artistas da respectiva nacionalidade, abrindo-se raras excepções justificadas, em Portugal há sectores em que o patriotismo e o espírito de justiça são tão pouco vivos que se postergam artistas nacionais em favor de estrangeiros de categoria igual ou interior, atribuindo-se como que por esmola meia dúzia de papéis de inferior categoria a artistas nacionais. Não cito nomes, mas não é justo que artistas nacionais de valor não façam parte do elenco de S. Carlos ou ali tenham papéis mais modestos do que artistas estrangeiros da sua ou de inferior categoria. Aliás, aqueles mesmo que foram contratados não têm em regra uma participação que lhes assegure proventos suficientes. Ganham em duas ou três récitas o suficiente para morrerem de fome, se não tiverem outros recursos senão da sua arte e não resolverem em legítima defesa abandonar a ópera pelo teatro ligeiro... ou pelo fado. Não, Sr. Presidente, isto não. pode ser.
O Estado Português gastou somas consideráveis com a restauração do Teatro de S. Carlos, existem cursos de canto nos conservatórios portugueses, têm sido concedidas bolsas de estudo a artistas líricos portugueses para aperfeiçoamento no estrangeiro. Tudo isso muito bem. Mas que se não inutilizem tão louváveis e inteligentes sacrifícios transformando S. Carlos numa simples dependência de organizações artísticas estrangeiras. Não precisamos de aceitar imposições daqueles que pretendem o monopólio mundial de certas formas de arte. Não devemos gastar um vintém para, em satisfação eventual dessas imposições, trazermos a Portugal, de avião e com todas as comodidades, colaboradores cuja função em cena a pouco mais se limita do que a abrir ou a fechar uma porta.
Não basta que se execute nesta temporada uma ópera dum ilustre maestro português, não basta que na companhia chamada, com bastante propriedade, italiana figurem, em pequena minoria, alguns nomes portugueses de várias categorias. Torna-se necessário um esforço mais contínuo e eficiente no sentido de conseguir uma organização predominantemente nacional de ópera. Não se pretende excluir totalmente elementos estrangeiros. Há mesmo entre estes valores indispensáveis, profundamente desejáveis. Seria mesmo interessante recorrer por vezes a artistas de outras nacionalidades além das representadas no elenco da próxima temporada, a espanhóis por exemplo. Mas se a organização sugerida é reconhecida como impossível, se temos de reconhecer a inviabilidade da fórmula ideal preconizada, então arrende-se o Teatro de S. Carlos, destitua-se este da sua função normal ou feche-se mesmo e deixe-se ao Coliseu ou a outro teatro privado a tarefa de facultar espectáculos de ópera aos Portugueses.
Nenhuma dúvida tenho de que as minhas palavras encontram eco no espirito esclarecido e patriótico do Sr. Ministro da Educação Nacional. Ao renovar o meu apelo ao Governo na matéria exposta não duvido de que os desejos por mim enunciados são também os seus. Oxalá venham a efectivar-se tais aspirações.
Para o Sr. Ministro da Educação Nacional vai também um outro apelo meu, que aproveito o ensejo para formular. No ano lectivo findo perderam o ano quase todos