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5 DE MARÇO DE 1952 451

formação. No Brasil é preciso dar vida e conteúdo à delegação que lá tem vegetado. Nos Estados Unidos a Casa de Portugal em Nova Iorque, aliás, sem qualquer dependência do Secretariado, não serve, não tem servido, a sua acção é praticamente nula.

19) Tratando-se finalmente de realizar uma verdadeira e grande política demográfica, não faz sentido que os esforços se não conjuguem e apurem dentro da mais perfeita unidade de visão:

a) Ou se cria, em paralelo com a Junta de Colonização Interna, que passaria a denominar-se Junta do Povoamento da Metrópole, a Junta do Povoamento do Ultramar - competindo-lhe promover, assistir e subsidiar directamente, pela forma mais própria, a ocupação étnica pelo método da qualidade, estudar o regime coordenado da produção e o seu comando, e animar, por meio de facilidade de créditos reembolsáveis, o povoamento em quantidade, devendo as duas juntas, mais a da Emigração, fazer-se representar num organismo superior de contrôle e coordenação das respectivas actividades;
b) Ou então se fundem as três juntas sob a designação de Junta do Povoamento e da Emigração, afecta à Presidência do Conselho, com os respectivos serviços distribuídos por secções distintas e o seu Fundo de fomento assegurado pelas disponibilidades financeiras da metrópole e do ultramar.

20) A síntese dos recursos financeiros seria então:

a) O povoamento da metrópole confiado às receitas públicas da metrópole e à compreensão, efectiva dos particulares;
b) O povoamento do ultramar à custa do Estado no que respeita aos vastos
empreendimentos preparatórios; mas demais obras e iniciativas de fomento, a cargo do Estado, dos orçamentos próprios de cada província ultramarina, das facilidades de crédito e dos capitais privados levados a colaborar por meios indirectos, como o da restrição da transferência dos lucros obtidos no próprio ultramar, exercendo-se a contribuição do Estado e aos orçamentos de cada província através da Junta do Povoamento, e admitindo-se o gradual decréscimo das dotações do Estado à medida que as receitas ultramarinas fossem prosperando e dispensando aquelas dotações;
c) Política de emigração financiada por um Fundo de emigração a criar com taxas deduzidas do próprio movimento emigratório.

Sr. Presidente: na ilha de S. Jorge, nos Açores, em certa causa cível, tive de me deslocar à residência de uma testemunha, mulher idosa desse bom povo que por
lá trabalha e morre na paz do Senhor. Comecei a inquirição e já me dispunha a ouvir um depoimento hesitante quando aqueles oitenta e tantos anos, ainda lúcidos, me preveniram com voz segura:
«Há novelos que se não lhes puxa pela ponta».
Antes de anunciar este aviso prévio previ todas as dificuldades para a sua efectivação. Pensei mesmo, por várias vezes, desistir. Com uma vida profissional bastante activa e responsável, não teria vagar para estudo tão vasto e melindroso. Mesmo com tempo não deixaria de me afligir a consciência o temor de não poder cumprir os seus propósitos.
Depois, quando me vi então a levantar as questões, a atacá-las, para as conhecer, a dar-lhes vida para lhes subjugar a força, pensei nos novelos que se não lhes puxa pela ponta.
Não posso dizer que estou cansado, mas penso que cansei os outros; não posso dizer que o assunto não era de agitar, mas reconheço que todos, o agitariam melhor do que eu.
Porque puxei pela ponta do novelo?
Hei-de deixar um dia de ser Deputado, com o orgulho de ter servido sem faltar à coragem e à obrigação de ser verdadeiro com as pessoas e com as coisas.
Conveniências, só as do interesse comum; razões, só as da Pátria.
Nunca conheci, nem conhecerei, estradas sem luz. Cheguei aqui para lutar às claras e tenho lutado o mais que posso.
Se feri alguém é porque lhe feri intenções menos justas.
Nunca me desempenhei de recados, de favores, de habilidades.
Gosto de cortar a direito, para não perder o tempo e a razão.
Defendo também a terra em que nasci.
Mas quem é que não defende o berço com a ânsia de o ver bem cuidado?
Sou de gente que lavrou o chão pela graça de o possuir; sou de gente que sulcou o mar pela graça de o descobrir.
Nos dois campos tenho avós sepultados e é com as palavras amassadas com a água das marés e a terra das searas que me vejo a falar pelos mortos e pelos vivos.
Atrás de mim e para a frente há uma força que me leva. Nunca atraiçoei essa força nem quero fugir a ela.
Aceito as auroras como luzeiros de esperança e os poentes como colapsos de luz para às ressurreições do esforço.
E termino, Sr. Presidente, reafirmando, ao deixar esta tribuna, a minha fé neste Portugal vitorioso de todas as crises, a minha crença nos seus extraordinários milagres de recuperação, a minha plena confiança nos destinos desta nossa grande Pátria, que nunca deixou de ser heróica e sublime sempre que teve de suportar a dor com a glória de a sofrer.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Suspendo a sessão por alguns minutos.

Eram 18 horas e 6 minutos.

O Sr. Presidente: - Está reaberta a sessão.
Eram 18 horas e 20 minutos.

O Sr. Vaz Monteiro: - Peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra.