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446 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132

Mas no que diz respeito à preparação do emigrante antes de deixar a sua terra e à assistência que lhe é devida depois de chegar à terra estranha é que não avançámos ainda o bastante.
Ao discutir-se o aviso prévio do Dr. Galiano Tavares - que versou os contratos colectivos de trabalho no Alentejo, Casa do Povo e salário familiar do trabalhador rural - na sessão de 26 de Janeiro de 1950 o Prof. Sousa da Câmara, depois de afirmar que não bastaria a esplêndida obra de colonização metropolitana para conseguirmos o nosso maior objectivo fixar o nosso excedente populacional -, perguntou, ansiosamente, como evitar as consequências catastróficas desse processo demográfico em curso, que nos traz um milhão de almas a mais em cada dez anos, e a seguir respondeu, com a energia e o acerto do seu costumado brilho, que não havia outra maneira senão a de se olhar de frente para o lado da colonização e da emigração.
Também foi sempre esta a minha ideia e, se recordo a posição do Prof. Sousa da Câmara no assunto, não é só para cumprimento de um gratíssimo dever de lealdade e de homenagem, é ainda para poder referir estas passagem do seu discurso:

Como a emigração tem de ser de qualidade, é indispensável promover a educação dos colonos e emigrantes. Escolas de emigração terão de surgir, onde os homens se eduquem e preparem para as tarefas que se espera possam executar ou no nosso ultramar ou nos países que os acolhem.
Assim, com mais garantias de triunfo, poderemos continuar a manter, e até melhorá-la, a posição galharda do emigrante português.

Tem-se exigido que os emigrantes saibam ler e escrever, e quanto à sua preparação nada mais se adiantou.
Precisamos, na verdade, de rever este ponto, melhorando e valorizando o emigrante como elemento activo da nossa representação, como espelho das nossas virtudes e retrato do nosso viver.
Também não fomos ainda até onde poderíamos, ter já chegado no que respeita à assistência devida ao emigrante depois de instalado no país de destino. Esse encargo está presentemente a ser desempenhado pelos nossos cônsules.
Não é bastante.
Nem sempre se podem deslocar para onde a sua presença é mais reclamada, muito menos se lhes for exigida assiduidade, e não é vulgar o dinamismo vibrante de um Teotónio Pereira, embaixador da consciência portuguesa, que tanto estava em Washington, ao leme dos altos interesses da política internacional, como na Califórnia, em Gloucester, onde houvesse portugueses, até nos bancos da Terra Nova e em Provincetown, no meio dos nossos pescadores do Cape Cod, falando-lhes na nossa língua, vestindo como eles.
Na sessão de 22 de Março de 1950 o major Sá Viana Rebelo, hoje Subsecretário de Estado do Exército, aludiu a certas notícias que um jornal português dos Estados Unidos da América publicara, visando a nossa actual situação política e envolvendo o deslustre da Pátria, que a mesma situação tornou maior e mais respeitada. A falsidade, a deturpação e a informação tendenciosa eram manejadas de modo a causar a impressão de que Portugal vive um dos mais negros períodos da sua história.
Em qualquer parte os problemas mostram os seus aspectos bons e os seus aspectos maus. Pois não temos o direito de tratar aqui uma questão, pondo-a como ela é. Se apresentamos os lados felizes, os forjadores da mentira cerram os olhos e os corações; se, com plena franqueza e pleno esforço construtivo, projectamos a necessária luz sobre as arestas difíceis, então os suicidas do seu próprio nome pegam nos fachos que erguemos e correm a deitar fogo ao berço em que nasceram.
A discussão do aviso prévio sobre os contratos colectivos de trabalho no Alentejo, a que já me referi, deu lugar a que se agitassem as crises resultantes da falta de trabalho em certas épocas do ano naquela província. Pois o que se disse aqui a propósito serviu para o Diário de Notícias de New-Bedford - a capital dos portugueses da América - generalizar, com foros de tragédia nacional e com as tintas mais espantosas, essas crises a todo o País.
Valha-me Erico Veríssimo e aquele seu comentário na Volta do Gato Preto:

Este não é os Estados Unidos de seus sonhos, o país que os magazines ilustrados sempre lhe pintaram moderno, limpo, belo, monumental - uma terra de conforto e facilidades, em que basta apertar um botão para...

Referi o excesso populacional micaelense como determinante da vida penosa da massa rural da ilha de S. Miguel e tive o cuidado de declarar que, embora o factor gente a mais esteja a dar sinal de si nas restantes ilhas do arquipélago, a situação só é aflitiva em S. Miguel.
Mas já em 3 de Junho de 1950 o New-York Times publicou uma carta onde, entre outras afirmações, se fazia a de que os 400:000 homens, mulheres e crianças de todo o arquipélago - de todo o arquipélago, note-se - se encontravam virtualmente prisioneiros de circunstâncias económicas, com todos os elementos da miséria humana em evidência, e o jornal português a que já aludi transcreveu gostosamente essa carta na sua edição daquele mesmo dia.
E eu não me admiro que o exagero de tais informadores da opinião pública me transforme as palavras em archotes de raio de acção total.
Que hei-de dizer então?
Perdoai-lhes, Senhor, o mal que fazem a si próprios, pois a Pátria, tanto quanto podem a grandeza e a benignidade humanas, perdoa-lhes também.
Isto não impede, antes obriga, a que se tomem medidas no sentido de manter as nossas colónias de emigrantes bem informadas sobre a Mãe-Pátria, por meio de uma convivência permanente e sã com as ideias e os factos que lhe recheiam a vida. Esta convivência terá de ser organizada oficialmente, criando-se escolas primárias da língua portuguesa dirigidas por professores competentes e bem orientados, facilitando-se a cooperação da igreja, ajudando-se as publicações periódicas já existentes, encarregando escritores, jornalistas, conferencistas de ensinarem as verdades da Pátria, utilizando a rádio, os documentários fotográficos, o cinema, o teatro, acarinhando as manifestações associativas, amparando, protegendo, desenvolvendo todas as iniciativas culturais, promovendo tudo o que for útil para avivar e manter o sentimento da Pátria, o apego, o amor à sua continuidade, à sobrevivência das suas virtudes e das suas glórias.
Penso que seria de grande proveito estimular e organizar romagens de saudade e observação de elementos representativos - e sempre renovados - dos mais importantes núcleos de emigrantes, para virem de tempos a tempos retemperar a consciência e a vontade no ar e no sol da sua terra, percorrendo os mesmos caminhos, ajoelhando diante dos mesmos altares, matando a sede nas mesmas fontes.