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5 DE MARÇO DE 1952 447

No que respeita aos portugueses fixados na América do Norte a execução deste programa ou de outro mais eficiente torna-se urgentíssima.
Não é porque o campo se mostre raso. Curvo-me nesta tribuna da Assembleia Nacional diante do esforço desses homens que fundaram escolas, associações e igrejas para continuarem a falar e a rezar em português.
Desde que nos começos do ano de 1869 -a seguir ao padre António Felisberto Dias, que faleceu em 1866, e ao padre Nóia, que não conseguiu adaptar-se - chegou a New-Bedford o padre João Inácio de Azevedo, da ilha do Pico, dos Açores, e em 1875 - segundo afirma o tenente coronel Luís Câmara Pina na sua (magnífica tese, apresentada no Congresso da União Nacional e publicada em 1945, com o título Dever &c Portugal para com as com as comunidades Lusíadas da América do Norte- se inaugurou naquele país a primeira igreja portuguesa - a igreja de S. João Baptista -, quantas mais ergueram o dinheiro e a fé dos emigrantes, de Portugal?
Em 1944 tínhamos trinta e duas igrejas em toda a América do Norte. Outras têm sido construídas e sagradas, como a do Santo Cristo, em Fall River, e a de Nossa Senhora de Fátima, em Ludlow. São gerais os louvores feitos ao clero português, que na poderosa nação americana não só tem cumprido elevadamente as suas obrigações religiosas, mas praticado nobremente os seus deveres patrióticos. Também eu quero, com toda a sinceridade e vibração, juntar a minha voz a esse coro impressionante.
Na Nova Inglaterra as escolas portuguesas são todas paroquiais. Foram eles, os sacerdotes, que por sua iniciativa as fundaram, entregando-as, em grande parte, à direcção de irmãs de caridade, algumas luso-americanas, que nelas leccionam com vontade e abnegação.
Néon só na Nova Inglaterra. Não se pode ver, por exemplo, a Escola de Nossa Senhora do Monte do Canino, em New-Bedford, sem se sentir uma funda comoção - disse o embaixador Teotónio Pereira, de regresso a Lisboa, na sua passagem por S. Miguel, em Fevereiro de 1950.
Há que legalizar os exames feitos nessas escolas, equiparando-os nos exames idênticos feitos em Portugal; há que enviar livros, mapas, programas portugueses; há que conceder subsídios na medida do possível e nos casos para que se mostrem indicados.

A epopeia que os portugueses vêm continuando na América do Norte é quase ignorada em Portugal; contudo, eles são, naquela grande e poderosa nação, uma pujante presença de Portugal.
Salvaram-nos de se afogarem nesse mar imenso de raças, línguas e costumes diferentes principalmente as igrejas portuguesas, verdadeiros larários da fé e da tradição nacional.

Estas palavras são de S. E. o Cardeal Cerejeira e eu não posso dizer melhor nem traduzir melhor a verdade.
Ainda não há muitos anos o director do Correio dos Açores, jornal diário que se publica em Ponta Delgada, foi à América em viagem patrocinada pelo Instituto para a Alta Cultura. Falando com o reitor da Barkley High School, este disse-lhe que mantinha ali uma cadeira de Português anais por atenção ao Brasil, visto que de Portugal não lhe tinham manifestado qualquer interesse.
A Universidade de Barkley também mantém um curso com leitores de Português e os nossos emigrantes ofereceram um busto de Camões, de bronze, que está colocado na sala da biblioteca, junto do busto de Dante; mas na satã do «periodismo», onde havia jornais de todo o Mundo, não havia um único de Portugal. Em muitas outras Universidades americanas funcionam cursos iguais, mas os leitores são todos, ou quase todos, estrangeiros.
Porque não remetemos para a biblioteca do Congresso, em Washington, e para outros centros culturais de importância os nossos melhores livros? Porque não mandamos para a América portugueses leitores de Português?
O México, por exemplo, subsidia o ensino da língua, tem um departamento de expansão que leva revistas, livros, publicações às casas dos seus emigrantes, proporcionando-lhes sessões cinematográficas, conferências, festas regionais.
O Brasil mantém no Uruguai, Paraguai e Argentina cursos regulares de Português. No Uruguai subvenciona até um curso de formação de professores da língua portuguesa e, em tempos, subvencionou em Londres, no King's College, o curso de Camões.
Temos de nos associar com o Brasil na defesa da nossa língua.
O tenente-coronel Luís de Pina, na tese que já citei, apela para o Estado -Instituto para a Alta Cultura, Secretariado Nacional da Informação, Ministério da Educação e Ministério dos Negócios Estrangeiros - para que mandem imediatamente para a América professores capazes de ensinar a língua portuguesa com amor e devoção. Cumpre-nos apoiar e renovar este apelo e lembrar mais uma vez que «se ainda vamos a tempo, se ainda tudo não está perdido e é possível reanimar o brilho da chama, devemo-lo ao clero português», pois se até no próprio Brasil os espanhóis andam a fomentar a expansão fortemente organizada da sua língua e da sua cultura...
Diz o padre Teófilo de Oliveira, com mais de vinte anos de permanência na América:

Actualmente, nas três missas dominicais faço duas das minhas prédicas em português e uma em inglês (porque assim me exigem jovens paroquianos que não compreendem o português).
Parece-me que com o andar dos tempos terei de acabar por falar sómente e sempre inglês.

Referindo-se depois à boa fibra patriótica, que luta com a esmagadora maioria, faz este aviso:

Mas tudo se gasta, o tempo e as tempestades da vida desfazem até os mais fortes granitos. E não temos tempo a perder.

O incitamento legal à naturalização e a falta de uma regular corrente emigratória são dois grandes agentes destruidores.
Em fins de 1950 reuniu-se em Washington, na biblioteca do Congresso, com a cooperação da Universidade Vanderbilt, o Coloquium Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Finda a reunião, os nossos delegados dirigiram-se aos centros onde vivem os mais importantes núcleos portugueses e fizeram ali notáveis conferências, algumas delas acompanhadas com projecções cinematográficas.
Na mesma altura o nosso grémio de livreiros realizou uma exposição bibliográfica na Biblioteca Pública de Nova Iorque, repetindo-a depois em New-Bedford.
Este bálsamo vivifica dor produziu os seus resultados. Tem é de ser derramado amiudadas vezes.
Também não temos acordos sobre a emigração nem sequer com os países tradicionais para a emigração portuguesa. As diligências feitas neste sentido com o Brasil e a Argentina - as únicas diligências que conheço - não foram coroadas de êxito. Mas não se deve desistir.