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14 DE NOVEMBRO DE 1952 1007

berdade nem me constrangeram a qualquer subserviência. E posso afirmar categoricamente que o brutal dilema «Crê ou morres» só me tem sido posto, até hoje, pelos inimigos da Igreja.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas, reatando, afirmam em Viseu, com prova testemunhal, que o ilustre romancista foi anal informado, porquanto «não existe em Sernancelhe igreja, capela, escola, fonte ou chafariz com tal inscrição e nào consta que qualquer presidente da Câmara tal mandasse, ou até pensasse. Há apenas um cruzeiro da Independência (o da Lapa) que tem essa inscrição, mas a ideia não partiu da Câmara» (textual).
São inexactidões a que estão sujeitos todos os temperamentos fogosos; e é lamentável que as mais brilhantes penas e até os mais belos espíritos nào possam fugir, por vezes, a estes desvios incongruentes. A psicose do boato dá sempre Lugar a precipitações infelizes. E, assim, o Sr. Aquilino Ribeiro ficou perdendo em força de razão o que podia ter ganho em potencial de sentimento. O mais curioso é que ele só é assim quando se deixa arrebatar pela paixão política. No resto acerta sempre. Haja em vista o seu último artigo de fundo em O Século de ontem sobre «Desnudamento vegetal e erosão», em que não se pode ser mais exacto, mais oportuno e mais edificante.
Thiers, o egrégio historiador do Consulado e do Império, escreveu em qualquer parte: «J'ai pour Ia mission de l'histoire un tel respect que la crainte d'alléguer un fait inexact me remplit d'une sorte de confusion». Neste caso a confusão generalizou-se e foi talvez porque de facto a estabeleceu o fluxo- emocional que o Sr. Aquilino Ribeiro desencadeou com o tabu excitante do seu estilo capitoso.
Estabeleceu-se a confusão, repito; urge portanto arrumar, esclarecer, repor as coisas no seu devido lugar. Quem tem razão?
Como se deve proceder? Que o diga o Sr. Ministro (ia 'Educação Nacional, a quem peço, desta tribuna, que seja constituída uma comissão encarregada de investigar a origem, o significado e o alcance das referidas legendas, de modo a habilitar o Governo a proceder de harmonia com a verdade e as conveniências. Julgo ser esta a melhor forma de acabar desde já com a especulação política dum e doutro lado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não quero terminar, Sr. Presidente, sem depor enternecidamente sobre
o pedestal da estátua de Alves Martins as últimas palavras do meu discurso.
Presto à sua memória as minhas homenagens, erguendo a toda a altura, acima destas discussões políticas e destas intrigas terrenas, a sua figura inconfundível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Curvo-me reverente ante o sacerdote desempoeirado que soube conciliar a observância com o desassombro; e afirmo a minha admiração e o meu respeito pela sua coragem moral, pelo seu portuguesismo castiço, pela sua humanidade palpitante e generosa, pelas suas virtudes de apóstolo e pela sua bravura de templário.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na especialidade a proposta de lei relativa à organização geral, recrutamento e serviço militar das forças terrestres do ultramar.
Está em discussão a base XI.
Sobre esta base não há qualquer proposta de alteração.

Pausa.

O Sr. Presidente: - Como nenhum Sr. Deputado pediu a palavra, vai proceder-se à votação.

Submetida à votando, foi aprovada a base XI tal como consta do texto da Câmara Corporativa.

O Sr. Presidente: - Está em discussão a base XII.
Sobre esta base há na Mesa uma proposta do Sr. Deputado Frederico Vilar para que as palavras «das forças metropolitanas» sejam substituídas por «do exército metropolitano».

Pausa.

O Sr. Presidente: - Como nenhum Sr. Deputado deseja lazer uso da palavra, vai votar-se.

Submetida à votação, foi aprovada a base XII do texto da Câmara Corporativa, com a emenda proposta pelo Sr. Deputado Frederico Vilar.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se agora à discussão do capítulo II (Recrutamento).
Está em discussão a base XIII.
Sobre esta base há na Mesa uma proposta, do Sr. Deputado Frederico Vilar para substituição do texto proposto para esta base pela Câmara Corporativa pelo correspondente da proposta de lei.

O Sr. Pinto Barriga: - É a primeira vez que falo, na ordem do dia, depois do meu desastre, e não podia deixar de nesta tribuna renovar o testemunho da minha gratidão a todos os ilustres colegas desta Casa que tiveram a bondade de se interessar pelas minhas melhoras, que, embora não completas, me permitem já ter a honra de usar da palavra.
É com orgulho legítimo de português que contemplo toda a nossa obra de colonização, que nos permite, em tempos tão duros para os povos colonizadores, usufruir uma tranquilidade, uma paz política e social que diz muito, que depõe tudo a favor do realizado.
Para Portugal o problema negro não foi um problema em... branco; tem e teve uma solução caracteristicamente portuguesa.
Não os quisemos fazer... brancos; desejámos, carinhosamente, acima de tudo, torná-los bem portugueses, assimilando-os em valor humano muito para além da diferença de pigmentação, da diversidade de raça. Não os quisemos fazer negros com mascarilhas de branco; procurámos dar-lhe uma alma cristã.
Fizemos clamorosamente a denúncia objectiva do mito rácico em face das nossas crenças religiosas e da continuidade da nossa história de colonizadores.
Apresentamos ao Mundo o nosso esforço assimilador de civilização sem que a pigmentação tivesse um significado social e moral pesado, mesmo insuportável, sem que ela representasse uma autêntica e inapagável maldição.
Na nossa missão civilizadora trouxemos a melhor arma do cristão: a caridade, que permite libertar o negro do ciclo infernal rácico.