O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

11 DE DEZEMBRO DE 1952 251

Segundo estudos recentes e cuidadosos, os custos de recuperação dos terrenos são relativamente baixos e, incorporando-lhes as despesas com a abertura e construção de poços ou noras e as respectivas estações de bombagem, oscilarão entre 9 e l5 contos por hectare, ou sensìvelmente menores do que a quase totalidade de terrenos adaptáveis ao regadio através das obras realizadas pela hidráulica agrícola.
É certo que o plano apresentado em 1938 pela Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, que mereceu a aprovação do Governo, prevê a rega dos campos de Vila Real de Santo António, Castro Marim, Tavira, Olhão e Faro pelo aproveitamento e utilização das bacias hidrográficas das ribeiras de Odeleite e Beliche e mais tarde pelas do Almagem e do Alportel.
Estas obras não têm, porém, qualquer projecto concluído, e nem se encontram incluídos no Plano, e por isso creio dispensável fazer-lhe demorada referência.
Mas a recuperação e o enxugo dos terrenos não bastará, só por si, para realizar a obra de colonização prevista e há que fazer outras despesas, quase tão volumosas como as do custo dos terrenos. Calcula-se portanto que cada hectare, para ser entregue aos colonos, custará entre 20 e 35 contos.
Ora, segundo os elementos recolhidos pelos técnicos do plano de fomento agrário, que aliás têm trabalhado com a maior devoção e a maior competência, o valor dos terrenos de sequeiro no Algarve varia, naturalmente segundo a qualidade da terra e a densidade da arborização, entre o mínimo de 10 contos e o máximo de 28 por hectare, não considerando, como é lógico, os terrenos de mato e muito pedregosos.
Os terrenos de regadio têm um valor variável, segundo as rendas actuais, entre 40 e 50 contos para os terrenos pobres e 80 e 100 para os férteis, por hectare.
Não será exagero alinhar os sapais, depois de aptos para a cultura, ao lado dos terrenos férteis de sequeiro ou aos pobres de regadio, pelo menos nos primeiros anos da sua exploração.
Supondo os terrenos ocupados com uma plantação de batata, que é uma cultura com tradições na região, e em terrenos de fertilidade média, determinaram-se os custos da cultura, com água elevada a gado ou mecanicamente, e com uma produção média de 225 arrobas de batata por cada courela de l 500 m, ou o correspondente a l 500 arrobas de batata por hectare; os rendimentos líquidos, por hectare, seriam de 4.742$ com água elevada a gado e de 6.863$33 quando se tratasse de elevação mecânica.
Admitiu-se uma única cultura, quando na realidade a uma cultura de batata se poderá seguir outra de milho.
Com salários de 20$ para os homens e 10$ para as mulheres, os encargos para o agricultor por cada hectare seriam:

Jornais (homens) 73,5 x 20;5 ............ = 1.470$00
Jornais (mulheres) 180,5 X10$ ........... = 1.865$00
3.335$00

consequentemente o cultivo dos 4 730 hectares absorverão 15:774 contos de mão-de-obra tratando-se de uma só cultura e, lògicamente, exigirá sensìvelmente mais quando em cultura intensiva.
A obra de recuperação dos sapais é fundamentalmente uma obra de colonização.
Os trabalhos de enxugo não exigem grande complexidade técnica, mas parece lógico que fiquem a cargo da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos.
Reconhecer-se-á a conveniência de o estudo sobre a colonização preceder as obras, e parece aconselhável que se dê a preferência nos trabalhos da recuperação dos sapais ao maior número possível dos futuros colonos. Desta forma iriam adquirindo instintivamente conhecimentos sobre nivelamento de terras, trabalhos de drenagem, de enxugo e de defesa contra a invasão das águas, bem como da dessalga, que muito úteis lhes seriam para a futura exploração quando lhes fosse adjudicada.
A recuperação dos sapais representará consequentemente uma obra do mais alto alcance social, a maior que tem sido projectada até hoje para colonização e com indiscutíveis benefícios económicos.
Por isso se escreve no relatório do Governo:

Convém promover o enxugo de alguns terrenos sujeitos ao afluxo das marés, nomeadamente os do litoral algarvio, que constituem uma vasta área, a aproveitar para a cultura agrícola.

No grupo das grandes realizações previstas no Plano para obras de carácter agrícola inscrevem-se 240:000 contos para "obras de colonização nas áreas beneficiadas pelas obras de fomento hidroagrícola e enxugo de terrenos".
Com a natural reserva sobre esta redacção, para a qual me permito chamar a atenção da nossa ilustre Comissão de Redacção, a fim de se evitarem possíveis confusões, suponho que as importâncias destinadas à colonização interna permitirão realizar integralmente a recuperação para a cultura agrícola dos 4750 ha de sapais que se estendem desde o sul de Loulé até Tavira.
O problema mereceu a inteira concordância da Câmara Corporativa, que num dos pareceres subsidiários emite a seguinte opinião:

Uma parte importante a beneficiar é constituída pelos característicos sapais, que se estendem por todo o litoral algarvio ... Só os sapais de Faro, Olhão e Tavira atingem uma área de cerca de 5 000 ha.
A eles se refere especialmente uma circunstanciada exposição dirigida à Câmara Corporativa pelo governador civil de Faro e que foi objecto de atento exame na preparação deste parecer.

Serra do Algarve. - Mas, além do seu valor social e económico, a recuperação de aproximadamente 5000 ha de sapais deveria ajudar a resolver outro problema, e porventura o mais grave, da economia algarvia, cuja resolução não admite delongas.
Ao norte da província, constituindo fronteira com a província do Baixo Alentejo, estende-se uma extensa zona da serra com cerca de 350 000 ha de terrenos que se encontram presentemente quase desaproveitáveis para a cultura.
Se lhe somarmos mais de 100 000 ha do Baixo Alentejo, de idêntica formação geológica e que igualmente se encontram esgotados e devastados pela erosão, teremos mais de 450 000 ha de terras que pouco produzem e que nada produzirão dentro de poucos anos.
Segundo um inquérito directo e recente às condições de produtividade de uma zona da serra de Tavira, apurou-se o seguinte:

1934:
Produção média de trigo ......... 750 kg/ha

1947:
Produção média de trigo ......... 190 kg/ha

1952:
Produção média de trigo ......... 130 kg/ha