253 11 DE DEZEMBRO DE 1952
clusão do cais acostável para barcos de comércio, a necessidade de o apetrechar convenientemente para o serviço da pesca e mandou estudar a localização da respectiva doca.
Em 1943 foi, finalmente, elaborado pelo engenheiro Coutinho de Lima «o plano geral do arranjo do porto de Vila Real», onde se previa a construção de uma doca de pesca com 20 000 ma de superfície molhada, ao norte do cais acostável e com fácil acesso â rede ferroviária.
Simultaneamente, o plano previa a regularização da margem até à zona sul da vila, possibilitando, conjuntamente, a urbanização dos terrenos marginais, pela construção de uma ampla avenida paralela ao Guadiana.
Só em 1940 o projecto da «variantes é submetido à apreciação do Conselho Superior de Obras Públicas, que na sua sessão de 27 de Maio de 1940 lhe deu aprovação unânime, decisão que foi imediatamente homologada por despacho de S. Ex.ª o Subsecretário de Estado das Obras Públicas de 7 de Junho do mesmo ano.
A estimativa, recentemente feita, prevê o custo da construção da doca em 8:000 contos, pelo que se infere que 10:000 contos serão suficientes, não só para a construção da doca de pesca, mas, simultaneamente, para os trabalhos de regularização da margem, permitindo-se a conclusão das obras da avenida marginal, já em fase adiantada, que a tornarão num dos mais belos arruamentos de todas as vilas do Pais.
Dirijo um apelo ao ilustre Ministro das Obras Públicas, engenheiro José Frederico Ulrich, a quem todo o Pais respeita e admira pela sua devoção à função e pela forma como tão brilhantemente a desempenha (apoiados), para que tome nas suas mãos o problema e mande concluir o projecto da doca; e, se tal acontecer, não demorará muito tempo para que Vila Real de Santo António veja realizadas as suas legitimas aspirações e o seu porto possa corresponder inteiramente aos objectivos que presidiram à sua construção.
Vinho do Porto e conservas de peixe. Porque o Plano que estamos apreciando não é apenas um plano de obras, mas é essencialmente um grande Plano de Fomento, visando principalmente ao equilíbrio da nossa balança de pagamentos, à melhoria das condições de vida das populações e ao aumento dos rendimentos individuais, suponho que não será demasiada impertinência dizer umas palavras sobre duas das nossas principais e mais tradicionais actividades de exportação e que presentemente se debatem em graves dificuldades.
Embora não exijam grandes investimentos de capital, precisam do amparo, da orientação e da ajuda do Estado, para que possam manter a posição de relevo que sempre ocuparam no nosso comércio de exportação.
Referir-me-ei aos vinhos do Porto e às conservas de peixe.
Uma e outra destas actividades viviam há uns vinte anos numa crise de negócios que as ia arrastando para a ruína.
Ambas exportavam normalmente e até em quantidades que excediam as médias normais. Debatiam-se, porém, na maior desorganização comercial, realizando uma concorrência desregrada entre os seus componentes, do que resultara o aviltamento progressivo dos preços de venda nos mercados consumidores, gerador da confusão e causa de perturbações na marcha normal dos negócios.
As qualidades, que se impuseram através de uma longa tradição, iam enfraquecendo de dia para dia, provocando o descrédito das respectivas marcas.
A organização corporativa, que dava então os seus primeiros e incertos passos, conseguiu amortecer a marcha para o desastre, através de um começo de disciplina e de uma melhor consciência comercial. Com elas veio o restabelecimento da confiança quase perdida nos principais centros importadores e a valorização das qualidades dos produtos e dos respectivos preços.
Se a organização não conseguiu a prosperidade que todos ambicionavam, salvou, entretanto, aquelas duas actividades da ruína em que se debatiam e acautelou valiosíssimos capitais, que quase se consideravam irremediavelmente perdidos.
Vão decorados vinte anos, cheios de perturbações, do dúvidas e de incertezas, e durante eles muita coisa se modificou no mundo das ideias e no mundo dos negócios.
Mercados que durante decénios foram os nossos principais clientes passam a ocupar lugares modestos, e a sua posição não foi substituída por outros.
A limitação às liberdades nas trocas, imposta pela penúria dos meios de pagamento, afecta fundamento aquelas duas grandes actividades da exportação nacional: os vinhos do Porto e as conservas de peixe.
Vinho do Porto.- A exportação do vinho do Porto para a Europa, que em 1936-1939 era superior a 40,6 milhões de litros em média, desce para pouco mais de metade em 1946-1950 (20,6 milhões de litros}, pela forte diminuição no comércio dos três principais mercados consumidores de vinho do Porto: Inglaterra, França e Noruega, que em 1946-1950 compraram, respectivamente, 44,62, 11,72 e 35,52 por cento das quantidades importadas em 1936-1939.
Estes números logo demonstram, na sua fria expressão, u necessidade de procurai' a conquista de novos mercados, com o objectivo de absorverem a diminuição do poder de compra nos mercados que tradicionalmente eram os melhores clientes do vinho do Porto. Se tal não se conseguir, haverá que remodelar fundamentalmente os princípios que tradicionalmente dominam a sua produção e o seu comércio.
Supõe-se, entretanto, que há qualquer coisa a tentar de novo e que será possível atenuar as desastrosas consequências das duras realidades do momento em que vivemos.
É necessário conquistar para os vinhos do Porto uma posição, embora modesta, no grande mercado que suo os Estados Unidos.
Depois da abolição da lei seca, em fins de 1933, o consumo de vinhos nos Estados Unidos aumenta em cada ano, tendo duplicado de 1942 para 1950.
Contrariamente ao que acontece na Europa, nos Estados Unidos é maior o consumo de vinhos licorosos do que o de vinhos comuns, na proporção de, respectivamente, mais de 70 por cento para os primeiros e menos de 30 por cento para os segundos.
O consumo de vinhos licorosos passou de 265 milhões de litros em 1947 para 373 milhões de litros em 1950, com o aumento de 40 por cento, e o aumento acentua-se de ano para ano.
O mercado americano tem marcada preferência para vinhos de alta graduação e, de entre eles, para os comercialmente conhecidos como Port-Wine, naturalmente pelo alto prestígio alcançado pêlos nossos vinhos, designadamente nos mercados de língua inglesa, e também por serem os vinhos deste tipo os preferidos para os aperitivos.
Consequentemente, se conseguíssemos vender nos mercados dos Estados Unidos da América apenas 5 por cento do que foi o consumo efectivo dos vinhos licorosos do tipo Porl-Wine em 1950, ou o correspondente a 34 000 pipas de vinho do Porto, veríamos resolvidas quase inteiramente as dificuldades graves com que presentemente se debatem os produtores do Douro e os comerciantes de Gaia.
Há, portanto, que dedicar aos mercados dos Estados Unidos da América especiais cuidados e realizar, sem