13 DE DEZEMBRO DE 1952 339
aspectos económico-sociais da energia atómica, que se preocupa em mostrar ao Mundo o auxílio poderoso que este poderá vir a ter na utilização judiciosa da energia nuclear.
A muitos poderá parecer um erro, portanto, tal descuido no Plano, dado, por um lado, que quaisquer instalações que, porventura, se fizessem exigiriam potências e energias volumosíssimas; e pensam assim, talvez, atendendo não só às possibilidades enormes que a energia atómica está amplamente demonstrando num campo estranho ao da guerra, mas ainda por saberem que em Oak Ridge, por exemplo, se consideram como entre os melhores os nossos minérios da Urgeiriça.
E até que ponto se poderá perguntar, também, se a montagem de uma pilha de potência não poderia substituir vantajosamente alguns empreendimentos termo ou hidroeléctricos que se prevêem para futuro?
Recordam decerto os primeiros as instalações de Hauford e de Oak Ridge, nos Estados Unidos da América, cujos reactores desenvolvem uma potência superior a 1 milhão de kilowatts e que se destinam à produção de plutónio: previstos para um funcionamento a temperaturas relativamente baixas, exigem quantidades
enormíssimas de água de refrigerarão e, consequentemente, uma potência eléctrica elevada para o accionamento das bombas.
Segundo mesmo as previsões da Atomic Energy Commission, será esta talvez, no ano próximo, o mais importante comprador da energia dos Estados Unidos da América do Norte.
Lembrar-se-ão os segundos que um reactor instalado em Idaho alimentou já, nos fins de 1951, e durante algumas horas, um turbo-grupo de 100 kW, fazendo funcionar um certo número de bombas e de outros órgãos essenciais da instalarão; e que o Canadá, por seu lado, espera ter devidamente afinado, e dentro de meia dúzia de anos, um reactor de potência cuja construção se poderá comercializar dentro de dez. Sob este aspecto, portanto, devemos ter ainda largo tempo à nossa frente.
Segundo fonte de maior confiança, que desejei consultar sobre este assunto, não parece porém que em Portugal seja viável, para já, a instalação de um grande reactor, exigindo um consumo de energia considerável para a sua refrigeração: é, aliás, a mediania dos nossos próprios meios que o interditariam, por não se coadunarem, decerto, com um dispêndio de milhões de contos ...
Quando muito, a vantagem de um pequeno reactor de investigação constituirá, talvez, um dos imediatos problemas que a situação portuguesa pode, na realidade, aconselhar; com ele ou por ele, e a par do preparo de pessoal técnico e científico, de trabalhos metódicos de prospecção de jazigos de minérios no continente e no ultramar (dando assim cumprimento a uma determinação expressa no Plano), da valorização dos produtos extraídos do nosso solo por meio de oficinas de concentração de minérios e de purificação de concentrados, estaremos realizando bom trabalho para podermos tomar, daqui a uns anos, outra orientação que mais convenha.
Pode ser que entretanto - e parece ser razoável esperá-lo - o problema delicado da troca de calor no reactor se resolva satisfatoriamente, de forma a que quando mais tarde, então, construíssemos igualmente a nossa «pilha», ela servisse não só para a produção de plutónio, mas, ainda, para um fornecimento apreciável de energia à rede eléctrica nacional.
Mas creio que entretanto podemos descansadamente ir aplicando, sem perigo, os capitais portugueses à obtenção de energia que os nossos rios garantem.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:- Mas retomemos o Ho da meada que, por pouco, ia perdendo.
Como se torna evidente, não poderia ser num pronto que o consumo de electricidade pudesse vir a subir, mas o ritmo em que tal aumento se poderá vir a dar deponde, naturalmente, das facilidades que se criem: em qualquer caso é mais lógico, com certeza - como, aliás, o propõe a Câmara Corporativa-, admitir um ritmo mais intendo para daqui a uns três ou quatro anos, do que para o período imediatamente a seguir-se no início do Plano.
É sempre um pouco arriscado, portanto, aventar números a definir previsões sem só terem devidamente ponderado todas as circunstâncias neles influentes, e rias quais procurei deixar, aqui, ligeiríssimo apontamento; o que é certo é que não interessará, com certeza, pugnar pelo rigor duns 15 ou 20 por cento, quando o erro da própria previsão pode exceder esses valores muito mais.
Por outro lado, os suplementos da energia admissíveis e as reduções nos custos provenientes do novos escalões regularizadores, a distribuição previsível dos consumos de energia, não só pelas possibilidades permanentes e temporárias, mas em consequência, também, dum fomento em larga escala e duma política tarifária mais encorajante o cuidada, definem dados preciosos para o problema da produção da electricidade, que levam a orientar os responsáveis pelos caminhos que melhor convêm.
Não dispomos, aqui, desses elementos basilares o não podemos também, pelo texto da proposta, depreender com segurança se eles pesaram, ou não, no espírito do quem a fez; de desejar é, portanto, que o Governo os tenha ponderado com cuidado, para poder ajustar, à sombra deles, uma evolução justificada para os consumos nacionais.
A forma de os suprir há-de depender, como é evidente, de circunstâncias variadas, de condições técnicas de realizações e de projectos, dos prazos e das despesas, das relações benefício-custo; não temos tais elementos para os poder discutir e pode ser, também, que o Governo não disponha ainda deles para assentar, com segurança, no que convém fazer.
Por isso mesmo, afirmo a minha convicção, Sr. Presidente, de que terá sempre maior lógica a Assembleia Nacional pronunciar-se por uma verba em globo - destinada a garantir cobertura de consumos previsíveis por razões bem demonstradas - do que tomar posições bom discutíveis sobre a materialização de soluções para problemas técnicos, a optar por elas e a marcar possibilidades, que aos serviços responsáveis compete definir e ao Governo escolher.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:- Como pronunciar-se esta Câmara, olhando unicamente às previsões apresentadas, sobre a prioridade do Douro em relação a outros aproveitamentos, tais como os escalões restantes do Cávado ou do Zêzere? A certeza das suas entradas em serviço, numa determinada data, pode ser - e é neste caso - uma razão dominante para a escolha a promover.
Se o Governo a tem, a posição é uma, se a não tem, a posição é outra; o que a Assembleia Nacional não poderá, quanto a mini, é ir muito além de desejar que o Governo a adquira francamente para poder assentar na directriz a seguir.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:-Em compensação, o que a Assembleia Nacional já não poderá aceitar, com certeza, é a lacuna grave quanto às previsões a formular para os períodos seguintes a 1958.