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370 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 183

Porventura, não houve mesmo durante a maior parte deste quarto de século despesa mais reprodutiva e, portanto, dinheiro mais bom empregado, apesar do muito que se tem feito noutros sectores. E empregado honestamente, escrupulosamente, sem que se tenham verificado fraudes, favores ou esbanjamentos. E empregado com técnica cada vez mais aperfeiçoada, especialmente depois dos primeiros seis anos que precederam o Decreto n.º 23 239 e que, na expressão do relatório deste, constituíram um fecundo período de estágio em que a Junta atingiu a maturidade da sua acção, ficando apta a exercer a sua função técnica e económica, como um dos melhores instrumentos de que dispõe a governação pública.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E, além da assistência financeira do Estado e da cooperação preciosa dos Ministros, isto deve-se à competência e à dedicação do primeiro presidente da Junta, general Teófilo da Trindade, seguido depois brilhantemente pelos brigadeiro Silveira e Castro e general D. Luís Mesquitela, sempre dedicadamente auxiliados por todo o pessoal superior e subalterno, no total de 5 000 funcionários, não esquecendo os zelosos cantoneiros, sentinelas da estrada, e cerca de 20 000 trabalhadores em média diária.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É muito, é imenso, embora oficialmente se diga que, segundo o plano rodoviário, ainda se projecta elevar a 20597 os 16884 km de estradas nacionais actualmente existentes.
Por elas transitavam em 1927 cerca de 13 000 automóveis e no ano de 1950, como no corrente, transitaram mais de 100 000; e isto, é claro, origina enorme desgaste nos pavimentos, desgaste que se tem sabido combater com os revestimentos de pedra ou asfalto, cada vez mais sólido e resistente.
Só os mais novos não sabem avaliar o que representa o esforço despendido nem fazer o confronto exacto entre o que eram as estradas antes de 1926 e o que são hoje.
O estado de ruína foi tal que muitas estradas eram barrancos e, por vozes, só se podia transitar por campos marginais, como sucedia mesmo aqui à porta, entre Lisboa e Sintra. Ir de Lisboa ao Porto, transitar fosse por onde fosse, era uma verdadeira tragédia, repetidamente posta em e audiência nesta Câmara, com vivos protestos o reclamações de Deputados monárquicos e republicanos, na legislatura de que fiz parte e noutras.
Não se nega a alguns homens públicos do regime que antecedeu o 28 de Maio o desejo de pôr cobro a tamanha calamidade; mas não puderam fazê-lo devido à miséria do Tesouro e às lutas políticas e rivalidades pessoais, em que soçobravam todas as boas intenções e iniciativas.
A construção e reparação do estradas têm, como é natural, originado um notável aumento de trânsito de veículos motorizados ligeiros e pesados. Os números que referi são bem expressivos a este respeito. E, a propósito, é justo mencionar o modo como gradualmente se vai aperfeiçoando o nosso serviço de polícia nas estradas, graças aos esforços da Polícia do Viação e Trânsito e do seu ilustre e competentíssimo comandante, major Figueiredo Gaspar. Isto tem permitido que - embora mais elevado do que seria para desejar - o número de acidentes graves não tenha progredido proporcionalmente ao dos veículos em circulação. Depois, trata-se de um mal que só será possível remediar apreciavelmente quando no manicómio tenham entrada os loucos do volante e haja repressão rigorosa contra os imprudentes ou ineptos.
A verdade é que se podem considerar também francamente bons os nossos serviços de viação e trânsito, e é também justo registar, a propósito, a relevante colaboração que lhe tem dado sempre o Automóvel Clube de Portugal, bem digna instituição de utilidade pública.
Cumpre-me assinalar tudo isto, visto que aqui me ocupei, mediante aviso prévio, daqueles importantes problemas.
É-me profundamente grato proferir estas palavras de merecido louvor a propósito do 25.º aniversário da Junta Autónoma de Estradas, que neste ano se comemora. Estou certo de que a Assembleia Nacional, sempre atenta aos grandes problemas do País, compartilha nelas. E, Sr. Presidente, como ó bom, como ó agradável proferi-las!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Abrantes Tavares: - Sr. Presidente: o escritor que, através da investigação e da síntese, refaz a vida dum povo ou duma instituição tem de ser escrupuloso no apuramento dos factos e nos juízos do valor que sobro eles emite.
Neste julgar do acontecer histórico não há, nem pode haver, liberdade contra a verdade, mas apenas e sempre sujeição absoluta às suas evidências.
De outro modo a História deixaria de ser uma ciência servida pela arte, para se tornar literatura de ficção, com o valor dos contos da carochinha.
Já o probo Fernão Lopes, mestre incontestado de cronistas e o maior do seu tempo, advertia, na Crónica de D. João I, qual a atitude espiritual do historiador na recriação dos acontecimentos, escrevendo estas palavras de censura aos que transportam para a História os turbados juízos de suas parcialidades: «ca o autor da estoria nom deve de seer emmigo, mas escprivam da verdade».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vem isto a propósito do recente livro de Aquilino Ribeiro Príncipes de Portugal - Suas Grandezas e Misérias, onde os factos e os homens são distorcidos, amesquinhados e julgados sem espírito isento, mas dir-se-ia que com a intenção de esvaziar a história nacional do conteúdo perene que a informa e lhe confere unidade, para a transformar num estranho acontecer de acasos felizes e infelizes, numa sociedade de lorpas bestificados pela igreja o regidos por ignorantes larvados.
Ora o que Aquilino Ribeiro nos veio contar não é a História, mas «chalaças» do Pátio das Comadres. Há-de importar muito à história do reinado do Luís XIV e da França apurar e registar só ele tomou, em toda a sua vida, apenas vinte banhos ou se a sua higiene era mais exigente.
Tomar este facto para caracterizar o homem e o governante é fazer reportagem anedótica, mas não fazer História.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todavia, foi este o método seguido por Aquilino Ribeiro no livro do que vou ocupar-me.
Com que mágoa, vejo o lídimo talento literário de Aquilino Ribeiro descer das alturas a que a sua arte, tão rica o sugestiva, o guindara a estas farfalharias,