564 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 196
de lei das sobrevalorizações dos produtos de exportação das províncias ultramarinas, de que foi relator; mas a doença que o fez sucumbir já o não deixou comparecer na sessão em que se deu por linda a elaboração do referido parecer.
Era Digno Procurador à Câmara Corporativa desde 1935 e fazia também parte do Conselho Ultramarino, onde exercia a alta função de vice-presidente.
Os seus pareceres foram sempre altamente considerados, e alguns houve de extraordinária importância, como aquele que elaborou sobre carburantes e petróleos, que os técnicos consultam e apreciam.
Como professor na Escola do Exército e no Instituto Superior Técnico granjeou a admiração e a simpatia dos professores e alunos.
Foi um engenheiro distinto de caminhos de ferro e naquele instituto superior regeu a cadeira de Portos o Caminhos de Ferro desde 1911 até 1944, ano em que foi aposentado, por ter atingido o limite de idade.
Nessa ocasião, quando foi jubilado, o Prof. Vicente Ferreira teve oportunidade de reconhecer quanto valia e quanto era estimado, pois foram bem significativas as homenagens que professores e alunos do Instituto Superior Técnico então lhe prestaram.
Vicente Ferreira foi político e nessa qualidade foi uma das figuras marcantes do partido unionista.
Quando este partido se fundiu com o partido liberal, resultando da fusão o partido nacionalista, Vicente Ferreira acompanhara o seu partido.
Como político partidário assumiu responsabilidades governativas, tendo sido Ministro das Finanças desde 15 de Junho de 1912 a 4 de Janeiro de 1913, e mais tarde, durante poucos meses, no ano de 1921; foi também Ministro das Colónias, mas apenas durante o curto espaço de tempo que decorreu desde 15 de Novembro de 1923 a 18 de Dezembro do mesmo ano.
No exercício destes altos cargos revelou-se um governante esclarecido e probo.
Foi pena que o ambiente político partidário não permitisse ao Ministro Vicente Ferreira actuar com tempo bastante e com plena liberdade para obter resultados à altura das suas faculdades intelectuais e de trabalho e da sua vasta cultura.
A situação financeira portuguesa dessa época exigia um Ministro das Finanças com a visão dos problemas que tinha o engenheiro Vicente Ferreira, com os seus profundos conhecimentos, a sua força de vontade, a sua clara e rápida inteligência, os seus hábitos de trabalho e a sua inconcussa probidade.
Mesmo assim, actuando num meio nada propício ao desenvolvimento prático das suas raras faculdades, podemos e devemos considerá-lo um precursor do ressurgimento financeiro pelas atitudes que tomou o pela orientação que quis imprimir à administração das finanças do País.
Porém, Sr. Presidente, foram baldados os seus esforços, porque tudo era entorpecido pelo sistema dos partidos, que então vigorava entre nós.
Como Ministro das Colónias apenas durante trinta o três escassos dias, o engenheiro Vicente Ferreira não podia, evidentemente, ter mostrado do que era capaz a sua capacidade de trabalho, o seu saber acerca dos problemas do ultramar, o seu poder de realização.
A instabilidade governativa foi a causa principal da derrocada que atingiu a administração pública no regime dos partidos políticos.
O engenheiro Vicente Ferreira fizera parte desse Ministério, de tão reduzida duração, que fora organizado e presidido pelo Dr. Ginestal Machado, na boa companhia do nosso querido e saudoso marechal Carmona, que então sobraçara a pasta da Guerra, mas sem filiação partidária.
Vicente Ferreira, como político partidário, exerceu também o mandato de Deputado da Nação.
Em 1913 foi eleito Deputado pelo círculo da Horta e, nove anos mais tarde, na Legislatura de 1922, foi de novo eleito Deputado, mas desta vez pelo círculo de Tomar.
Serviu o País nos cargos políticos que deixo enumerados e serviu-os com o brilho da sua inteligência, com a sua isenção e o seu carácter impoluto.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Mas, desgostoso com a marcha perigosa e inquietante que levava a administração pública do nosso país, resolveu, a partir de Janeiro de 1926, abandonar a sua filiação partidária e alhear-se da vida política.
Com o advento do Estado Novo, o engenheiro Vicente Ferreira, que sempre fora um fervoroso patriota e um verdadeiro entusiasta pelas grandes realizações, reconhece que o movimento militar de 28 de Maio de 1926 vem satisfazer os anseios gerais da Nação e fazer a Revolução Nacional que os Portugueses há anos ansiosamente ambicionavam.
E é assim que o engenheiro Vicente Ferreira de novo põe ao serviço do País a prestimosa colaboração da sua grande competência.
Sente a sua predilecção pelos, problemas do ultramar e, sobretudo, por aqueles que dizem respeito à grande província de Angola.
Realmente foi nos territórios ultramarinos que Vicente Ferreira começou a sua vida pública, no exercício de funções técnicas de engenheiro.
Em 1902, na província de Angola, exerceu o cargo de chefe das oficinas de Luanda, e em 1903 foi director das Obras Públicas da província de S. Tomé e Príncipe.
Não admira, pois, que o ultramar o tenha fascinado com os seus encantos e o seu valor progressivo, que mais se acentua com a boa e sã administração.
Os metropolitanos, quando no ultramar, sentem a grandeza da Nação e reconhecem que as províncias ultramarinas fazem de Portugal uma grande nação no Mundo, que foi e continua sendo a mesma propagadora da civilização e da fé cristã.
Fascinado pelas belezas naturais de Angola, pela obra de civilização e progresso que os Portugueses já ali realizaram, e entusiasmado pelo renascer de uma nova era nacional que o movimento militar de Braga fazia prever, o engenheiro Vicente Ferreira decide-se a servir a nova situação política como alto-comissário na província de Angola, onde veio a realizar uma obra que o fez enfileirar ao lado das grandes figuras nacionais, dos maiores construtores da Pátria nos territórios do além-mar.
Não quero, Sr. Presidente, que ao homenagear a memória de Vicente Ferreira, dando-lhe lugar entre os maiores do ultramar, se lhe diminua o seu significado pelo facto de serem minhas as palavras proferidas, palavras de quem apenas tem a recomendá-lo a lealdade no servir e o desejo sincero de ver a Pátria engrandecida.
Mas eu posso citar uma opinião revestida de toda a autoridade que colocou Vicente Ferreira no lugar de honra que lhe compete ao lado dos grandes do ultramar.
Sr. Presidente: no discurso do antigo Ministro das Colónias Dr. Armindo Monteiro proferido na Union Coloniale Française em 14 de Novembro de 1931, quando se instalou em Paris o Comité Franco-Portugais d'Études Coloniales, aquele professor e antigo Ministro descreveu magistralmente a nossa acção no descobrimento do Mundo, desde a abalada para o mar às primeiras colonizações, ao primeiro império africano, de Marrocos, ao império do Oriente, ao império do Brasil e ao actual