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13 DE MARÇO DE 1953 845

Parece que uma solução mista de contribuição ou comparticipação do Estado, câmaras e empresas ajudaria a desfazer o encanto que inibe ou atrasa a real e ampla electrificação rural do País.
2.º Sabe-se que no Alentejo os núcleos populacionais distam uns dos outros entre 20 e 40 km.
Poucos se aconchegam aquém destas distâncias.
Mesmo para aqueles que, como eu, são leigos em matéria de electrificação, é fácil de conjecturar que qualquer ramal para as localidades assim distanciadas orça pela ordem dos milhares de contos.
Mas as nossas belas estradas, onde as há -e são por quase toda a parte -, não custaram outro tanto ou mais.
O obstáculo das distâncias e dos volumosos orçamentos não pode ser removido apenas pelas câmaras, mesmo comparticipadas, nem pelas empresas distribuidoras no domínio rural sem a intervenção, em simbiose, dos recursos do Estado.
3.º Até há pouco era evidente a escassez das fontes de energia eléctrica, e por isso as empresas se retraíam no alargamento das suas redes. Mas agora, graças a várias novas e antigas empresas, com o impulso do Estado, a produção, já substancialmente aumentada, anima a mais ambiciosos empreendimentos, que por seu turno irão preparando o campo consumidor para um próximo futuro de maiores possibilidades de aplicação de energia eléctrica em iniciativas fomentadoras de riqueza pública.
Sr. Presidente: poderia citar várias localidades do distrito de Évora, tais como Alandroal, Redondo, Mora, Pavia, Cabeção, Évora Monte, S. Mancos, Azaruja, Vimieiro, Montoito, Cabrela, etc., onde a electrificação ou não existe de todo ou se encontra numa fase primária de qualidade, tempo reduzido de iluminação e elevado e quase proibitivo custo.
Citarei, em pormenor, se V. Ex.ª, Sr. Presidente, me permite, a risonha, importante e próspera vila de Vendas Novas, sem dúvida uma das povoações alentejanas mais conhecidas, de passagem, por turistas e viajantes.
O percurso de 3 km ao longo da rua principal, que é ao mesmo tempo um troço da estrada internacional Lisboa-Caia, dá implicitamente uma noção da extensão e valor deste activo núcleo populacional.
Possuía, pelo censo de 1940, 5 500 habitantes na vila e 12 000 na freguesia, não contando 1 000 a 1 500 oficiais, sargentos e praças da Escola Prática de Artilharia.
Da simples estalagem para a mala-posta, instituída por D. João III em 1526, rapidamente evoluiu para a aldeia das Vendas Novas, que se transformou nas últimas décadas na vasta e próspera vila de Vendas Novas.
Bastava a Escola Prática de Artilharia - ali fundada em 1831 por D. Pedro V e instalada no formoso palácio mandado construir em 1729 por D. João V para albergar na passagem o cortejo nupcial dos príncipes - para Vendas Novas se ufanar de ser uma terra de importância.
Mas a actividade e engenho dos seus numerosos habitantes aditaram-lhe valiosas indústrias, além do seu intenso labor agrícola.
Fábricas de preparação de cortiça são simplesmente catorze, além de uma fábrica do moagem e massas, três de cerâmica, uma de mosaicos, três de refrigerantes, três lagares e uma tipografia.
Isto o mais importante, afora quatro oficinas de reparação de automóveis e outras oficinas de vária ordem.
Para se aquilatar do seu elevado movimento comercial é suficiente referir que existem vinte mercearias e sete cafés, alguns de certo aparato.
Ainda para se ajuizar do movimento adicional que os próximos arredores lhe emprestam, é curioso verificar que os 5 500 habitantes que moram nas redondezas da freguesia se espalham, melhor, se aglomeram nas pequenas propriedades que resultaram principalmente dos aforamentos feitos pela Câmara de Montemor de terras da Casa de Bragança, outros pela Casa do Monte Branco e ainda outros pela Misericórdia.
É de notar que em volta da vila se fez larga e fecunda colonização interna, de formação espontânea e local.
Quem, como eu, conheceu há trinta anos aquele quase deserto de vagos pinhais e observa e admira aquele luzir de próximas casas brancas, emergindo de pomares, hortas e vinhedos, fica-se a pensar na poderosa força do querer e saber querer.
Ora, Sr. Presidente, é esta boa gente de Vendas Novas, exemplo de iniciativa e labor honrado, que deambula pelas suas longas e mal andamosas ruas - com excepção da lisa estrada de asfalto e cubos que a atravessa-, nas soturnas e agrestes noites de Inverno, em plena escuridão medieval.
Por mais estranho que pareça, só o quartel da Escola Prática possui central eléctrica privativa e precária e fornece luz a alguns, bem poucos, particulares. Os 5 500 habitantes só conseguem ter a fugidia iluminação ocasional dos faróis dos automóveis que passam ...
Nem o azeite que iluminava Lisboa no tempo de Pina Manique, nem o petróleo em uso em terras sertanejas! Os candeeiros de petróleo, que chegou a ter, foram arrancados há uns anos por falsa euforia de que a instalação eléctrica seria efectuada sem demora. Mas os anos passaram sobre a falaz esperança e a escuridão continua ...
É agora o momento exacto de se resolver, alfim, o magno problema da electrificação da industriosa e industrial vila de Vendas Novas.
Sabe-se que dentro de um mós estará construída e a funcionar a linha-ramal de Aguas de Moura à Emissora Nacional Ultramarina -julgo ser este o nome -, na estrada Pegões-Cabo, com passagem pelo cruzamento de Pegões, a 12 km de Vendas Novas.
Sei, e julgo não ser inconfidente, que a União Eléctrica Portuguesa e a Câmara de Montemor estão em negociações para a construção desse ramal de 12 km.
Mas sei também de fonte segura que há certas dificuldades para um rápido e completo entendimento entre as entidades em questão, dificuldades que, a complicarem-se, podem protelar o empreendimento por largo tempo.
Confio na inteligência e compreensão da Câmara de Montemor, à frente da qual se encontram pessoas ilustres, que altos serviços tom prestado ao Município na sua. espinhosa missão.
Estou certo do dinamismo dos distintos administradores da União Eléctrica Portuguesa, que envidarão todos os esforços para arredar todos os obstáculos que impeçam a construção desse ramal.
E, se tanto for necessário, também confio em que o Sr. Ministro da Economia fará aquela sábia e oportuna arbitragem solucionante que tem sido seu nobre timbre no momento das grandes e necessárias decisões.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Alberto Cruz:- Sr. Presidente: proferi há dias nesta Assembleia algumas palavras referentes ao problema da habitação no nosso país o muito especialmente na região que me honrou com a sua representação neste alto organismo do Estado.