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952 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 221

O Orador: - No pensamento e na palavra sempre viva e sempre exacta do Sr. Presidente do Conselho a Revolução tem de continuar enquanto em terras de Portugal houver um lar sem pão, que o mesmo é dizer, uma família sem os meios necessários para bem cumprir a missão que a Providência, lhe marcou. E Revolução, aqui, não é senão esforço dedicado, vivo e persistente de renovação social, como se impõe e é mister.
O problema da habitação, pela sua fundamental importância, não pode deixar de ocupar lugar de particular interesse nos cuidados do nosso espírito e do nosso coração. Para, a sua conveniente solução temos, pois, de contar com a boa vontade de todos os que, por favor da Providência, tem na vida uma situação de maior felicidade e por isso mesmo de maior responsabilidade também.
E quando se fala de iniciativas particulares não podemos evidentemente esquecer essas admiráveis instituições que são as nossas Misericórdias, de tradição tão gloriosa e tão rica de benemerências. Elas têm aqui, na solução do problema em questão, um lugar que ninguém pode usurpar-lhos. E é ver o que neste campo algumas levam já realizado. As autarquias locais e às Misericórdias, como a tantas outras instituições empenhadas em colaborar na solução deste magno problema (a Obra da Rua e o Património dos Pobres, do apostólico P.e Américo, a União Católica, dos Industriais e Dirigentes do Trabalho - UCIDT, as Conferências de S. Vicente de Paulo e muitas mais), não pode o Estado deixar de prodigalizar com largueza uma assistência, generosamente estimulante e substancialmente supletiva.
Não o fazer ou fazê-lo timidamente seria inutilizar preciosas iniciativas e, consequentemente, comprometer o desenvolvimento e êxito desta salutar cruzada, em que se empenham tantas boas vontades.
Entre os organismos que eficientemente podem e devem colaborar na solução deste problema, merecem especial referência as Casas do Povo, que são, sem dúvida, a mais linda o interessante modalidade de toda a nossa organização corporativa.
Bem orientadas e devidamente amparadas, as Casas do Povo serão, certamente, prestimoso elemento de protecção e defesa do nosso trabalhador rural.
Mas há algumas ou muitas Casas do Povo que não realizam os objectivos que lhes foram determinados?

culpa não é, positivamente, das esferas superiores, onde se trabalha com inexcedível interesse e inteligente decisão.
Um dia se conhecerá, em toda a sua extensão, o que vai já feito no sector corporativo e previdência! O que já se conhece dá bem a medida do esforço despendido e dos frutos que se estão colhendo e que se impõem já à admiração e reconhecimento de todos os portugueses de boa fé.
Só o não vêem os que não querem ou não sabem ver. Porque também aqui, Sr. Presidente, há teimosas cegueiras que surpreendem a nossa devoção patriótica.
Mas insistamos, especialmente, nas Casas do Povo. Para que elas vivam realmente em toda a largueza dos seus benefícios só é preciso que os que a elas presidem saibam viver apaixonadamente a sua função e se disponham a dar-se-lhes com a alma toda e sem outros objectivos que a defesa e protecção das classes trabalhadoras, que bem merecem de todos nós.
Sr. Presidente: seja-me concedido repetir neste momento as afirmações que já tive oportunidade de fazer aqui.
As Casas do Povo carecem de direcções com competência e sobretudo com alma para dar e para dar-se. Só assim elas poderão realizar plenamente os fins que por lei lhes foram marcados.
Há nos meios rurais duas entidades que, por força da sua própria missão, não devem, como regra, estar aumentes das direcções das Casas do Povo: são o pároco e o professor.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O pároco é, por imperativo do seu mesmo ministério, o grande condutor de almas, o homem destinado a todos os combates e a todos os sacrifícios. O professor é, também pela sua função, o grande educador, o primeiro cultivador da inteligência a abrir, o valioso seleccionador de valores para o futuro, a quem tantos devem o que na vida são.
Pároco e professor têm nas suas mãos a vida intelectual e a segurança moral dos meios rurais. Não deverão, pois, ser eles os grandes orientadores, a alma mesmo das Casas do Povo?
Parece que é o odioso encargo da cobrança das quotas que impede estas duas entidades de darem às Casas do Povo a sua valiosa e benéfica colaboração.
Mas não será possível instruir um processo de cobrança que coloque as direcções ao abrigo de situações desagradáveis?
O Sr. Ministro das Corporações, a cuja inteligente actuação e inexcedível zelo patriótico me é sobremaneira grato render aqui a melhor homenagem, toda feita de admiração e reconhecimento, saberá encontrar fornia de resolver convenientemente o assunto, que, na verdade, merece ser considerado atentamente.
Repito: só com boas, competentes e dedicadas direcções se poderá conseguir que as Casas do Povo realizem plenamente a sua função e se tornem prestimosos agentes de progresso locais, isto é, «cooperadoras efectivas nas obras de utilidade comum», como se diz no notável diploma que as criou.
E entre tantas iniciativas que lhes compete tomar não terá lugar de especial importância a construção de casas para as classes trabalhadoras?
Sr. Presidente: eu sinto que já estou abusando da cativante benevolência de V. Ex.ª e da Câmara. Seja-me, no entanto, permitido tocar ainda um ponto, que julgo de particular interesse.
Será de recomendar e de aprovar que a construção de casas para trabalhadores e para pobres continue a fazer-se em sistema de bairros?
Este sistema importa necessariamente uma acentuada separação de classes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Será bem? Convirá isso a um melhor futuro que queremos preparar?
Um dos grandes males do nosso tempo é o isolamento das classes pobres, que em cada dia se verifica mais acentuado. Em certos meios e em certas regiões esse isolamento é tão grande que parece viver-se em autêntico regime de castas, como se o pobre não precise do rico e o rico não precise do pobre.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Membros de uma e mesma comunidade, com aspirações e fins idênticos, poderemos nós desconhecer-nos, isolar-nos, sem perigo sério para a segurança colectiva?
E poderá a comunidade realizar os seus naturais objectivos sem a cooperação, o bom entendimento e o dedicado sacrifício de todos e de cada um?
Em que se tornarão as classes trabalhadoras, abandonadas a si mesmas, em desastroso afastamento das classes categorizadas e, portanto, longe da salutar influên-