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20 DE MARÇO DE 1953 949

vas casas realmente baratas de que se faz mister prover o nosso país.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi minto cumprimentado.

O Sr. Santos Carreto: - Requeiro a generalização do debate.

O Sr. Presidente: - Concedo a generalização do debate.
Tem a palavra o Sr. Deputado Santos Carreto.

O Sr. Santos Carreto: - Sr. Presidente: o problema da habitação, que o nosso ilustre colega Sr. Deputado Amaral Neto acaba de trazer a esta Câmara, é sem dúvida de permanente e flagrante actualidade.
Desde há muito que o Governo da Nação, em perfeita inteligência da sua gravidade, decidiu enfrentá-lo com vivo e feliz empenho.
E gratíssimo nos é verificar que também neste campo se multiplicam pelo País fora realizações magníficas, que, pelo que são e pelo que representam em esforço despendido, temos de louvar e bendizer.
Pergunta-se, porém: é possível fazer mais ? É possível fazer melhor?
Sr. Presidente: a insatisfação é virtude verdadeira a valorizar a natureza humana. Há no homem tendência constante e premente para a perfeição, mas para a perfeição absoluta, que, por muito que se queira, não logramos atingir sobre a Terra.
Não, não podemos atingi-la; mas somos fortemente impelidos a trabalhar e lutar como se isso fosse possível. É a sede do bem absoluto que incessantemente nos toma e nos tortura.
Bendita insatisfação esta, que é forte estímulo para o mais e para o melhor! Mas insatisfação, verdadeira e legítima, não é, não pode ser, febre de maldizer nem cerramento de olhos e de coração para não ver e para não sentir.
O que era e como era a vida portuguesa de há vinte e cinco anos atrás?
Sem recursos e sem crédito, sem ordem na administração pública, sem prestígio- no exercício do Poder, sem tranquilidade nos espíritos e na rua, sem estímulos e sem esperanças, a vida portuguesa arrastava-se tristemente entre desalentos e ruínas desastrosas que por toda a parte se amontoavam e eram a nossa desonra e a nossa desventura.
Isto há vinte e cinco anos. E hoje?
Hoje, retomados os rumos da sua vocação histórica, recuperada a consciência da sua dignidade e das suas possibilidades, Portugal, por graça de Deus, sabe reagir, sabe lutar e sabe vencer. A sua vida vai-se desenvolvendo entre maravilhas de iniciativa e de realização, que, honrando-nos e dignificando-nos, fazem surpresa ao mundo inteiro e são para os outros povos testemunho vivo de quanto é capaz a alma lusitana.
A face da terra portuguesa anda a renovar-se e a transformar-se em ritmo de encantamento. Acaso? Não. Milagre verdadeiro do céu que mais uma vez nos salvou.
Só o não vê quem não tenha olhos para ver. Só o não sente e não reconhece quem já não tenha coração para sentir nem alma para reconhecer.
Inteiramente satisfeitos ?
Decerto que não. É sempre possível e mesmo necessário fazer mais e fazer melhor.
Mas, repito, insatisfação não é pessimismo, não é derrotismo.
É estímulo para mais, é inspiração para melhor.
Sr. Presidente: um aviso prévio - parece-me - não pode ser inspirado senão no maior bem colectivo e a sua efectivação tem de colocar-se indefectivelmente no plano do superior interesse nacional.
De outra forma verificar-se-ia um lamentável desvio patriótico - coisa verdadeiramente estranha a surpreender e a confranger a nossa alma de portugueses sem mistura.
É que, Sr. Presidente, perfeitamente conscientes da alta responsabilidade do nosso mandato, todos sentimos que não é ao serviço de interesses particulares ou de nós mesmos que estamos aqui, mas tão-somente ao serviço da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-O aviso prévio que o ilustre Deputado Engenheiro Amaral Neto promoveu é informado de tanta dignidade e elevação patrióticas que não hesitei em subir a esta tribuna para dar-lhe o meu pobre contributo e também o meu decidido apoio nas suas linhas gerais.
Sr. Presidente: nesta modesta intervenção minha não irei certamente repetir os argumentos que sobre este magno problema foram, por forma tão emocionante, desenvolvidos pelo nosso distinto colega.
Quero apenas, por imperativo da consciência, trazer aqui o meu testemunho, que, embora obscuro, é o testemunho de quem no exercício do seu grave ministério, tem consumido seus anos apaixonadamente debruçado sobre tantos problemas que envolvem a vida do homem e profundamente lhe interessam.
Sr. Presidente: a habitação, a que a alma portuguesa prefere chamar lar doméstico, é verdadeiramente o berço, o asilo, o refúgio da família.
E se a família é a célula viva e fundamental da sociedade, e se do seu valor depende absolutamente o valor não só da colectividade mas também do próprio indivíduo, temos de concluir que a casinha que se habita é para o indivíduo o que o solo, o clima, a luz e o calor são para a vida de todas as coisas.
Na verdade, é ali que se criam as condições essenciais da vida, porque é ali, naquele recinto quase sagrado, que nascem e se desenvolvem os mais altos sentimentos que tomam a alma do homem em anseios de generosa e reconfortante solidariedade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Legítimo é. pois, afirmar que cuidar do lar doméstico, para que realmente ele seja um ninho do amor a prender os espíritos e os corações, é dever grave que urge cumprir com carinhosa e apaixonada solicitude.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Louvar o Governo, pelo muito que neste campo leva já feito e pelo mais que se propõe realizar, não é senão acto singelo de justo reconhecimento e de patriótica congratularão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pelo Sr. Engenheiro Amaral Neto foram focados com inexcedível inteligência os mais importantes aspectos do problema. A mim só compete apoiar o reforçar as suas afirmações, salientando, sobretudo, a premente necessidade de estender até às populações rurais os benefícios do ingente esforço que, nesta cruzada bendita, louvavelmente se está a despender.

Vozes: - Muito bem, muito bem!