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1084 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 227

modalidades de turismo, e não projectos de utopias e de castelos no ar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O que se fez mal ou deficientemente em tempo da improvisação permanente devemos agora revê-lo e reconstruí-lo com o espírito científico que a indústria do turismo permite e impõe.
Após a aprovação dos planos e conseguidos os necessários investimentos em colaboração com os interessados imediatos, seguir-se-á a obra de restauração, ampliação e construção de hotéis, pousadas e outras iniciativas indispensáveis ao equipamento do turismo regional e nacional.
Entretanto, será estudada a forma mais eficaz e económica da propaganda nos mais importantes centros de provável proveniência de turistas.
Com a reorganização turística dos serviços de turismo, o estudo e traçado dos planos de acção turística e o início e execução progressiva das obras julgadas indispensáveis nós teremos dado um passo decisivo na solução de um problema que, à semelhança de outros já resolvidos, assinalará na História a época de Salazar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: para concluir, vou referir-me, embora de forma muito sucinta, ao problema do turismo do distrito de Viana do Castelo.
São inegáveis as condições de turismo daquele distrito. Quem o visita, seja português ou estrangeiro, volta sempre maravilhado, com recordações que nunca mais esquecerá. Viana do Castelo constitui, de facto, no País, uma capital do turismo português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não só as belezas naturais nos deslumbram, mas também a doçura de viver, a harmonia das coisas e o carácter e horizonte moral de um povo acolhedor, que canta e reza, apegado profundamente à terra como as raízes de um roble, mas capaz de calcorrear o Mundo, sempre com a ideia de regressar um dia ao paraíso da sua infância.
E toda essa beleza - de valor aprazíveis, de rios povoados de lendas, de montes azulinos à tardinha, da orla branca das praias se acha, por assim dizer, sobrenaturalizada por uma rede de ermidas, capelas e igrejas, com campanários rumo ao Céu, sumptuosos santuários, os cemitérios, as alminhas dos caminhos, os cruzeiros - enfim, as fornias espaciais do culto que, na expressão de um filósofo moderno, constituem o conjunto da terra santificada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Entre o Minho e o Lima - um a namorar a Espanha, o outro que «de correr parece que se olvida» - que viveiro de poetas para interpretar a paisagem das coisas e das almas, desde Diogo Bernardes, Frei Agostinho da Cruz, até António Feijó, que «no domingo triste, protestante e frio» da Suécia suspirava
pelos

... Domingos de outros anos
Adro da minha igreja, alameda do rio
Dias Santos de Sol católicos romanos ...

Viana pode, pela sua posição turística, proporcionar aos que a visitam itinerários incomparáveis. Entre outros, não devo deixar de mencionar os passeios pelas margens dos seus rios, a subida, ao lado do Minho, por Caminha, Valença, até Monção e Melgaço, e a descida do Vez e do Lima pelos Arcos, passando por Ponte da Barca e Ponte de Lima, as digressões a Paredes de Coura, ao Bom Jesus de Braga - a terra arquiepiscopal - e à Penha de Guimarães - berço da nacionalidade - e as viagens à Galiza das maravilhosas rias ...
Com a restauração e ampliação do hotel de Santa Luzia - obra actualmente em curso, graças à rasgada compreensão e boa vontade do Sr. Ministro das Obras Públicas -, o seu apetrechamento e abertura, o estabelecimento de um modesto mas indispensável plano de realizações, a orientação e coadjuvação de iniciativas privadas, não será difícil dotar o distrito com os instrumentos de turismo necessários à satisfação dos que, em número crescente, percorrem a região.
Julgo que os esforços despendidos na valorização turística do distrito representam, quer no aspecto moral, quer material, capital colocado a muitos por cento, dada a atracção que Viana exerce no espírito não só dos estrangeiros que dela ouvem falar e a visitam, mas, sobretudo, no dos portugueses do continente e dos minhotos espalhados por todos os cantos do Mundo.
Sr. Presidente: só me resta pedir perdão pela forma desataviada desta minha intervenção (não apoiados), que não corresponde ao harmonioso arranjo da terra que nesta Assembleia represento.
Eu pretendi apenas chamar a atenção de quem me queira ouvir para um filão de ouro que ainda não foi inteiramente descoberto.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. presidente: acabamos de ouvir sobre turismo uma bela dissertação, perfumada pelo maravilhoso canteiro do jardim minhoto que é Viana do Castelo - «filão de ouro que ainda não foi inteiramente descoberto», como muito bem lhe chamou o ilustre Deputado Sr. Engenheiro Silva Dias.
Não desejo, neste momento, analisar a questão em toda a sua amplitude, mas quero afirmar, desde já, em resposta às hesitações que, de quando em vez, tenho observado sobre se o turismo deve ou não considerar-se útil à vida do País, que, em minha opinião, seria sórdida avareza, bem contrária aos sentimentos da alma lusíada, guardar e esconder os bens com que Deus nos dotou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mesmo seguindo a sã doutrina, só merecemos possuí-los considerando-nos como seus fiéis depositários e na medida em que tais riquezas possam servir o bem comum.
Assim, em plena concordância com o Sr. Deputado Silva Dias, entendo que o problema do turismo deve merecer o melhor interesse do Governo e julgo urgente o estabelecimento de medidas que convenientemente o impulsionem o orientem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por agora desejo sómente vincar a necessidade de quanto antes, se olhar para tão melindroso assunto - também, em meu entender, do maior interesse para o País - com um simples, apontamento.
Diz-se que a região de turismo mais importante de Portugal é a dos Estoris.
Já tive ocasião, há dias, de mostrar como ali se despreza tudo o que às populações mais pode interessar - luz, água, estradas, esgotos, policiamento, etc. -,