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4 DE DEZEMBRO DE 1954 63

guida de homens do Ocidente. Lutamos por que, sem agravo para ninguém, Goa continue a ser o padrão dos descobridores portugueses e pequeno foco do espírito ocidental do Oriente, o qual, para se manter vivo, precisa estar ligado às origens como fio de água à nascente».
Sr. Presidente: e o patriotismo desses, indo-portugueses que aqui desempenham as mais variadas funções, tão portugueses nos seus deveres como nos seus direitos, bem eloquentemente foi demonstrado na mensagem que em 28 de Abril levaram ao Sr. Presidente do Conselho.
Demos à Índia civilização e cultura, deixando inconfundível marca da nossa acção em todos os cantos do Oriente, caldeados com o nosso sangue, regados pelas nossas lágrimas, continuado e engrandecido pelo esforço insuperável dos nossos navegadores, dos nossos soldados e dos nossos missionários.
Portugal decobriu, conquistou, mas, sobretudo, educou, evangelizou. A acção missionária e civilizadora de Portugal, a extensão do seu Padroado, tendo Goa como capital -a Roma do Oriente-, levaram luz onde só havia trevas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Existe na brilhante e completa exposição do Sr. Presidente do Conselho um capítulo que chamou muito especialmente a minha atenção. Porque não dizé-lo? - experimentei, na intimidade do meu ser, profundo desgosto na confirmação de factos que em parte eram já do meu conhecimento. Este meu sentimento é filho das minhas crenças, da minha educação religiosa, da minha formação católica; filho dos preceitos em que fui criado.
Trata-se da maneira como por certos elementos da Propaganda Fide tem sido encarado o problema do nosso Padroado, à luz de certas conveniências, que o meu espírito não pode aceitar, e contra as quais, como católico e como português, deixo aqui bem lavrado o meu sentimento de protesto. Que católicos pouco conhecedores dos princípios do Evangelho, e que pretendem acordar com o comunismo a mistura das leis da Igreja com os seus princípios, criando-se até uma subordinação aos princípios doutrinários do marxismo, estejam ao lado da União Indiana não é motivo para grande estranheza da minha parte.
Mas que elementos da Propaganda. Fide esqueçam que Portugal soube sempre usar a espada na defesa da Fé, pondo acima de todo o interesse material os interesses morais e espirituais dos povos que educou e cristianizou, ou que finjam esquecer essa alta e inigualável cruzada do nosso Padroado no Oriente, cuja acção nunca poderá ser apagada, é revoltante prova de ingratidão que não pode conceber-se. Quem, como nós, trabalhou, dentro do maior desinteresse e da maior espiritualidade em favor do crescimento do mundo católico não pode admitir, Sr. Presidente, conveniências políticas ou religiosas justificativas da absorção da Índia pela União Indiana. Esse facto e outros, que seria preciso evitar poderão levar a Índia a destino que tornará difícil, senão impossível, a conservação do Cristianismo que os Portugueses pregaram e difundiram por tão vastas regiões.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Salazar restituiu aos portugueses a consciência da sua grandeza de povo que à causa da civilização e à humanidade deu todo o valor da sua actividade. Sem qualquer esforço, numa argumentação simples e clara, mas sólida e perfeita, ele demonstra, pelo direito, em que é mestre - e grande lição de direito internacional deu ao Mundo inteiro -, que a Índia é Portugal.
O direito permanece direito, mesmo que não haja força bastante para impô-lo ou que razões geográficas impeçam o seu uso em toda a plenitude; o dever permanece dever, mesmo quando cumpri-lo representa um sacrifício inútil, na escala corrente dos valores.
É sempre o mesmo, igual a si próprio, galvanizando as almas lusíadas e reacendendo a chama de patriotismo que Deus iluminou e purificou. E Portugal será eterno porque o Deus de Ourique, Fátima e o Apóstolo dos Índias, S. Francisco Xavier, velam por nós.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É preciso que afirmemos agora e sempre que Goa é relíquia sagrada da nossa epopeia, santuário a heroicidade do nosso crer. Goa é e será eternamente portuguesa, afirmava Afonso de Albuquerque, o grande capitão, homem de génio, fundador do nosso grande império, que com a sua larga visão pensou e realizou todos os problemas respeitantes à sua manutenção e à sua defesa. O mundo ocidental tem em Goa o seu sacrário de ideal comum, relíquia do génio que o formou e o génio é ocidental, é europeu.
O problema de Goa, que é o mesmo que dizer o problema da Índia Portuguesa, é um problema do mundo ocidental, da civilização cristã; problema dos povos que gozam ainda o benefício da liberdade, afirmou Plínio Salgado. Roubá-la a Portugal seria insulto dirigido ao mundo livre e à história da civilização.
«Esses territórios distantes são Portugal, onde habitam Portugueses com os mesmos direitos e os mesmos deveres dos que em Lisboa nasceram», disse-o Salazar.
E Salazar é a mais alta, mais nobre, mais digna expressão do pensamento ocidental, que ele encarna, com a fé do maior e mais ilustre português de hoje, como exuberantemente acaba de demonstrá-lo.
Sr. Presidente: Portugal ressurgido deu com a sua atitude de serenidade, firmeza e prudência uma grande lição, não o intimidando violências ou ameaças, e denunciando ao Mundo esse repugnante acto de cobarde agressão realizado à sombra de uma campanha de insídias e de mentiras. A essas investidas criminosas, violentas e trágicas, em que o sangue dos heróicos soldados de hoje se misturou com a terra sagrada pelo sangue vertido por portugueses de outrora, responde o Mundo livre apoiando Portugal nos seus vibrantes protestos, nos seus direitos sagrados de soberania, reprovando a acção nefasta, criminosa, de quem esquece, viola e ultraja a história do povo que lhe deu alma, civilização, cultura e fé em Deus, que renegaram.
O Governo da Nação, firme nas atitudes tomadas, sente plenamente a confiança, o apoio sincero de todos os portugueses; e Salazar afirma «que o direito tem de prevalecer acima de todas as tiranias, de todas as violências, como amparo e salvaguarda do Mundo e como manancial da liberdade humana».
Sr. Presidente: o nosso esforço, a nossa vontade, o nosso ânimo são inquebrantáveis. Saberemos lutar para sabermos viver.
«Não somos porque fomos, nem viveremos só por termos vivido. Tivemos para bem desempenhar a nossa missão, e perante o Mundo afirmarmos o direito de cumpri-la».
Eis uma exortação de Salazar. Saibamos compreendê-la e segui-la, para honra da Pátria.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.