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9 DE DEZEMBRO DE 1954 (153)

O Orador: - Assistimos, pois, ao aparecimento oficial da comunidade luso-brasileira - já existente em potência e agora, por vontade expressa dos dois Governos, prestes a existir em acto. Já a vimos aliás, em noto, quando há poucos meses, mal se desenhou a traiçoeira e injustificável agressão contra a soberania portuguesa no Estado da índia, logo o Brasil se colocou ao nosso lado e nos deu provas inesquecíveis da solidariedade mais espontânea e mais fraterna.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E ó u altura de encararmos a segunda pergunta formulada atrás: que poderá trazer ao Mundo actual a comunidade luso-brasileira?
Atravessa justamente o Mundo uma das suas maiores crises de todos os tempos, crise de tal forma intensa e complexa que será difícil abarcar-lhe toda a amplitude. Salazar condensou num dos seus grandes discursos:

O que Está em crise e provoca a crise são os conceitos básicos do homem e da sociedade, o desgaste, esquecimento ou inobservância das regras que se impõem à vida humana, o desmoronamento a armadura moral da civilização . . .

Temos aqui uma daquelas sínteses tão lúcidas a que nos habituou o Chefe do Governo. Há decerto - ninguém o ignora ou o contesta - sérias questões de ordem política, de ordem social, de ordem económica. Todas, em última análise, encontram a sua origem e encontrarão o seu remédio nos «conceitos básicos do homem e da sociedade». A chave das grandes oposições que se verificam no panorama universal não estará, acima de tudo, nas diversas maneiras de interpretar e considerar essas noções fundamentais?
Daí achar-se o Mundo convertido, embora sob as aparências de uma paz que ninguém julga sólida e duradoura, num campo de batalha - seja ou não, segundo a expressão de um parlamentar americano, «batalha sem tiros».
Um dia, nus vésperas da primeira grande guerra do nosso século, Jacques Bainville resumiu nestes termos o seu alarme de francês ante as ameaças que supunha ver avolumarem-se além-Reno: «Kant é mais perigoso do que Krupp». O fabricante de canhões afigurava-se-lhe menos perigoso do que o fabricante de utopias. E bem o mostram as lições da história: o mal é que as heresias nasçam nos domínios do espírito; uma vez nascidas e divulgadas, encontram sempre exércitos para se porem ao seu serviço. A «maior heresia da nossa idade», como Salazar lhe chamou, tem ao seu serviço porventura o maior de todos os exércitos. E apetece repetir, no entanto, à maneira de Bainville: Marx e Lenine são mais perigosos do que os laboratórios e os generais soviéticos - as forças de destruição material, por terríveis e devastadoras que sejam, nunca chegam a ser tão nocivas como as forças de destruição espiritual e moral do materialismo totalitário.
E é aqui, precisamente, que melhor será lícito avaliar o papel que nos cumpre desempenhar na imensa batalha do nosso tempo. Que nela nos cumpre desempenhar - a nós e ao Brasil.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aludi à importância material -pela soma das suas superfícies e populações, pelo volume dos seus recursos, pela conjugação das suas velhas glórias e dos seus impulsos novos - da comunidade luso-brasileira. E é bom que a tenha, já que estamos numa época dominada pela formação de vastos conjuntos internacionais.
Entre esses vastos conjuntos a nossa comunidade não deixará de ocupar lugar de relevo - ainda maior se lhe somarmos a Espanha, ligada a Portugal por tantos elos e pelo tratado de amizade que deu origem ao bloco peninsular.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acima, porém, da sua importância material, digna de respeito e atenção, mas que nem de longe se compara às enormes coligações dos Três Grandes ocidentais ou da Rússia e seus satélites da Europa e da Ásia, o que a comunidade luso-brasileira, juntamente com o bloco peninsular, pode trazer ao Mundo atormentado e incerto suo as armas decisivas contra o seu inimigo maior.
A negação total do comunismo, em todos os campos, só se pode responder com uma afirmação total. Essa afirmação total apenas é capaz de inteiramente a encarnar e a viver a catolicidade de Portugal, do Brasil e da Espanha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há que reanimar, adaptados a outras exigências e a outras circunstâncias, aquele espírito de cruzada e aquele espírito de missão que nos dirigem e transfiguram desde que aparecemos na história.
Mantemo-nos fiéis - nós, Portugueses - aos princípios e valores então proclamados. E dentro da ortodoxia nos fortificamos de novo, em plena crise, para fazer frente às heresias de qualquer espécie. A constelação de ideias mestras que nos guiam oferece aos males do século os únicos remédios eficazes, se tais ideias forem reforçadas, revitalizadas, e não adulteradas ou enfraquecidas.

Cada dia nos obriga com maior clareza a abandonar transigências, hibridismos, compromissos, e a merecer a salvação por uma fé sem limites e uma coragem sem reservas. À negação total do comunismo, que quer ser materialismo deicida, a afirmação total que opomos é u do espiritualismo teocêntrico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E todo o resto virá por acréscimo. Porque, mo fundo, quanto a mim -e sem ignorar o que dignificava, quando foi apresentado no título do livro famoso de Henri Massis, o lema da «defesa do Ocidente», hoje adoptado pelas assembleias internacionais-, a posição de simples defesa será insuficiente, ficará abaixo das responsabilidade* espirituais e históricas dos que, certos da verdade absoluta em que crêem, devem levar o Ocidente a retomar, em seu nome, a iniciativa e a ofensiva.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Nessa luta invisível de que hão-de defender os destinos da humanidade talvez para séculos - e em que o choque das forças armadas, a dar-se, constituirá, unicamente o aspecto visível- Portugal e Brasil, portadores de uma fidelidade que nada abala ou destrói, ocuparão um posto de vanguarda e serão exemplo e estímulo para os outros povos. Só pela doutrina que professa-mos -na qual, sob o primado do serviço de Deus, se inserem as normas éticas e políticas de uma autoridade forte e estável, da garantia das liberdades justas a todos e a cada um, da colaboração social na disciplina e na jerarquia -, só por esta doutrina se pó-