30 DE ABRIL DE 1955 1083
O Orador:
Infelizmente, esse grande condutor da juventude já não nos poderá dar novas vozes de comando.
E o caminho a trilhar é ainda tão ingrato, embora alguns, desconhecendo a grandeza do engenho necessário para tão difícil empresa, teimem em julgar tudo pelo diminuto do seu valor.
E então consideram que, como por encanto, se poderia já ter transformado, o que é consequência da aridez do meio, em paisagem rica de terras feracíssimas, dominando para tal as incertezas dos meteoros. E como as miragens foram e serão sempre miragens, vá de afirmar que a lavoura portuguesa é rotineira e que há falta de espírito de luta entre os técnicos responsáveis u quem compete a elevada missão de esclarecer e de educar.
E como o trabalho a levar a cabo necessita de muita confiança, para que possa haver continuidade de acção no remover dos escolhos, dos muitos que dificultam ainda, como dissemos, tão penosa caminhada, todos compreenderão decerto o ingrato da missão.
Deixemos, porém, estes «velhos do Restelo», na sua arenga desmoralizadora, e continuemos, sob a égide do espírito desse grande condutor que foi Henrique Linhares de Lima, a lutar, seguindo sempre o seu lídimo exemplo de honrado português e perfeito homem de bem, cuja única ambição, na vida foi ser útil à sua pátria e à sua grei.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Para o muito que há a fazer na restauração económica da Nação concorda também com o ilustre relator das Contas Gerais do Estado sobre a necessidade de velar pelo máximo aproveitamento das economias do privado ma prática de investimentos, reprodutivos. Mas, quanto a este aspecto, que não se deixe largas ao fisco, por forma que se possa inutilizar o trabalho de decénios de atracção de capitais que andaram durante muitos anos arredios da valorização do nosso património. Isto mão significa que não se aproveitem, maiores-valias para gerar outras maiores-valias. Mas nada de acrescer serviços públicos que não sejam capazes também de as gerar.
Não é este decerto o caso do ensino técnico, como também não o é essa admirável luta contra o analfabetismo, que vem sendo desenvolvida pelo ilustre Subsecretário de Estado da Educação Nacional. E quanto ao ensino técnico há que ter em couta que já se encontra iniciada a fase da industrialização do País e que a maior parte das nossas escolas técnicas não dispõe ainda de pessoal docente e de material suficientes e mão tem também à sua disposição, como acontece em outros países industriais, fábricas onde possam realizar-se os estágios dos seus alunos.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E estes serão os grandes responsáveis pelo sucesso da restauração económica baseada na industrialização das nossas actividades: agrícolas e industriais.
Também, decerto, terão carácter eminentemente reprodutivo as Acerbas que se gastem em dar ao departamento da agricultura os meios de organizar sem demora a- rede completa das estações, postos agrários e campos experimentais, de estudo e divulgação das boas normas duma agricultura progressiva.
Bastará observar os resultados conseguidos nos poucos estabelecimentos desta natureza hoje existentes e a acção que têm exercido na agricultura das regiões agrícolas onde exercem a sua influência, para concluir que serão altamente reprodutivos os capitais empregados em empresas dessa índole.
Não será necessário para tal grandes luxos de instalação, mas que não faltem depois com as verbas indispensáveis para que se possa realizar, com o devido rigor, todo o trabalho experimental que a lavoura aguarda para que se possa continuar, por forma segura, a obra de contínua valorização desta terra de características tão diversificadas e normalmente tão difícil de tornar mais fecunda.
Os problemas das melhores forragens para o sequeiro e para os regadios, a rotação mais equilibrada para cada uma das regiões agrícolas, a continuação dos estudos sobre os melhores fertilizantes para cada região agrícola, estudo auspiciosamente iniciado com o estímulo do ilustre Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria, a forma como deverá ser compartimentada, por maciços florestais, u paisagem do aridez dos territórios planálticos do Sul e quais as espécies florestais a indicar para as montanhas erosionadas que cobrem milhares de hectares ao sul do Tejo, os melhores processos de conservação das forragens e as possibilidades de fomento pecuário, as condições em que se deverá levar ainda mais longe o esforço de mecanização e como todos estes factores poderão contribuir para a melhoria das condições de vida dos nossos rurais são tudo problemas fundamentais para a vida, da Nação e que poderão ser analisados e esclarecidos desde que se dêem os necessários meios técnicos e financeiros ao departamento de agricultura.
Falo com a experiência de ter vivido já uma época de intensa acção desses serviços, nos tempos calamitosos da última guerra, e por isso posso assegurar que, no decorrer da segunda fase do Plano de Fomento, fase já prevista, se poderá levar a agricultura nacional a acompanhar sem ressaltos o incremento das actividades industriais. E o que haveria a fazer ou, melhor, a completar nos trabalhos de prospecção agrária também não estaria arredado das nossas possibilidades.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Aliás, todos es técnicos estrangeiros que nos visitam e que têm percorrido o País de lês a lês são da mesma opinião optimista, desde que se siga a directriz que, em breves palavras, acabo de resumir nesta nota. Tudo o resto que ainda haveria a realizar no campo do agrário será consequente deste primeiro trabalho de estudo. Por isso permitam-me que remate esta nota com esta expressão, bem portuguesa, de significado que bem corresponde ao que se espera, ver realizar, e assim direi, apenas, mãos à obra.
De resto, a Administração, após dois anos de experiência, na. execução do Plano de Fomento, já nos veio dar, com aquela verdade que é timbre da idade nova, os razões do atraso da sua execução. E por elas se verifica que não se filia em falta de capital para os investimentos, mas tão-sòmente num desfasamento na projecção. E este defeito não é também só nosso. A grande e progressiva América, do Norte ainda recentemente verificou a mesma grave falta, resolvendo por isso constituir uma substancial reserva de planificação.
Por tudo que fica dito, dou o meu aplauso ao que se faça no sentido de tornar em realidade o que ficou referido quanto aos sectores apontados da energia e das actividades agrárias. Quanto ao sector industrial, que deverá absorver a nossa mão-de-obra excedente, evitando a sua inglória perda, quando ela se afaste para paragens distintas da comunidade lusíada, idênticos problemas poderia pôr. Outros mais competentes, porém, já o fizeram, e por isso apenas me limitarei a apoiar as