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14 DE DEZEMBRO DE 1955 175

O Sr. Alberto Cruz: - Sr. Presidente: muitas vezes aqui, neste lugar, e pessoalmente também, com certa insistência, junto dos responsáveis dos vários departamentos do Estado, tenho pugnado pelo estudo e rápida resolução do vários problemas que afectam gravemente a economia de Braga e por consequência, a economia da Nação, de que a mesma terra é importantíssima parcela.
Nem sempre as minhas palavras têm recebido piedoso acolhimento por parte dessas altas personalidades, e, por isso, sou forçado a ter impertinente, roubando precioso tempo a V. Ex.ª Sr. Presidente, para lhe pedir o seu alto patrocínio a favor dos assuntos que, em duas palavras, se põem à consideração da Assembleia Nacional.
A população de Braga, superior a 30000 habitantes, tem necessidade de empregar a sua actividade, a fim de poder viver com a mediania a que de há muito está habituada.
Em tempos já recuados Braga vivia da pulverizada lavoura do seu concelho e das suas indústrias tradicionais: chapéus, calçado e cutelarias. Mas, mais que tudo isto, pesavam na sua economia os cruzeiros que os seus filhos iam ganhar, u custa de heróicos sacrifícios, em terras do Brasil. A emigração para o Brasil era o grande escoadouro do seu excedente demográfico. Com o andar dos tempos, e mercê de vários factores, as indústrias definharam de tal maneira que pouco representam nessa, terra e os cruzeiros do Brasil só cá chegam em muito pequena escala.
Ainda a juntar a estas infelicidade. Braga foi vítima, em tempos, de outras desgraças, principalmente a perda, das suas unidades militares: batalhão de caçadores n.º 9, regimento de cavalaria n.º 11 e a sede do batalhão da Guarda Nacional Republicana, que policiava as províncias do Minho e Trás-os-Montes e parte do Douro.
A indústria principal da terra - a dos chapéus-, que fazia a relativa felicidade de um dos mais populosos quem percorrer, com olhos de bom observador, esses tristes bairros, outros prósperos e felizes, e tiver coração humano para sentir os malefícios alheios perderá a tranquilidade de espírito perante a miséria física e moral que lá se alberga.
A tuberculose e o alcoolismo, indesejáveis inquilinos dos tugúrios em que essa gente habita, assentaram lá os seus arraiais e a seu modo, de braço dado com a morte, lá vão resolvendo os problemas dos operários desse ramo industrial. E, no entanto, alguma coisa se poderia ter feito se fossem ouvidas e ponderadas as nossas intervenções, e julgo que ainda, embora tardiamente, algo se pode fazer.
Sr. Presidente: têm sido por vezes avisados os Ministério do Interior, da Economia e das Corporações de que as duas fábricas existentes estavam necessitadas de amparo e que os operários trabalhavam poucos dias por mês e também era urgente lançar olhos misericordiosos sobre as soluções apresentadas já em tempos pela (omissão reorganizado da chapelaria, estipendiada por essa mesma indústria para estudar durante muitos anos a resolução dos seus problemas. Propôs ela uma concentração de toda a indústria com uma fábrica em Braga e duas ou três em S. João da Madeira.
Essas fábricas dariam trabalho diário a todos os operários existentes. Esse estudo, segundo me informam, há muito já se encontra no Ministério da Economia, mas nunca teve a sorte de ser devidamente apreciado por esse departamento do Estado. Actualmente Braga tem uma fábrica encerrada desde o dia 24 de Março do corrente ano e outra trabalhou sessenta e cinco dias desde o dia 1 de Janeiro a 30 de Novembro próximo passado.
Os operários que contribuíram largos anos para as caixas de previdência perderam a fé nas virtudes do listado Corporativo, e ainda não morreram de fome porque é inextinguível a caridade daquele bom povo, por intermédio das Conferências de S. Vicente de Paulo, auxiliadas pelas autoridades citadinas, que fornecem sopas que vão atenuando em pequena escala a grave crise que atravessam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: pedi e de novo peço aos Srs. Ministros do Interior, da Economia e das Corporações que enviem a Braga e S. João da Madeira pessoas esclarecidas que estudem localmente e com a rapidez que o caso requer o problema que se expõe e as soluções que urgentemente necessita.
Portugal está sofrendo uma grandiosa transformação com a execução do grandioso Plano de Fomento, que tanta prosperidade tem levado a muitas terras do País. O comércio de Braga também sentiu uma certa euforia com as somas gastas nos empreendimentos hidroeléctricos de Caniçada, Salamonde Rabagão, durante os trabalhos da sua execução; mas a cidade não foi directamente beneficiada com a criação de novas indústrias, como seria para desejar, atendendo à sua área, sua população e até à índole do seu povo.
Sr. Presidente: os jornais noticiam quase diariamente a saída, para o estrangeiro e províncias portuguesas espalhadas pelo Mundo, de numerosas comissões de estudo, que vão naturalmente adquirir conhecimentos úteis à solução dos nossos numerosos problemas. Gasta-se com isso muito dinheiro e julgo que nem todo ele é bem aproveitado. Porque se não hão-de mandar comissões de gente bem seleccionada e competente, que há, estudar pelo País, e tudo que é nosso, as condições económicas de todas as terras, as suas necessidades, os seus problemas e a forma de remediar todos os males que as afligem?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Inquirir tudo o que lhes diz respeito, junto de todos os organismos, ouvindo-os directamente, porque muitas vezes há-de valer a pena aproveitar as suas sugestões. Julgo que seria dinheiro abençoado o que se gastasse com esse alto objectivo de resolver os problemas de todas as terras de Portugal com equidade e justiça. Foi também por esse alto objectivo que acamaradei com os revolucionários do 28 de Maio, em 1926.
Os Ministros, por intermédio desses informadores, ficariam mais perto do povo e mais ao corrente dos assuntos das suas pastas, solucionando, tanto quanto possível, os problemas locais, dentro do grande interesse nacional, que outro não é senão o de dar relativa felicidade a todos os portugueses e continuar a prestigiar o nome de Portugal dentro e fora das suas fronteiras, como orgulhosamente lemos nas páginas dos jornais portugueses e nas dos mais importantes jornais dos países do Mundo.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.