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7 DE ABRIL DE 1956 745

talmente, matérias-primas gratuitas - que outra coisa não são as riquezas naturais, ou artísticas, que servem de principal motivo das deslocações-, é a menos custosa e a mais lucrativa das exportações.
E consideradas assim, sumariamente, estas razões de ordem geral, parece-me que, se atentarmos no significado da matéria, em relação ao nosso país, não será ousado afirmar-se que nele se destacam, reunidas a um tempo, com uma multiplicidade que foi dom do Criador, precisamente aquelas condições principais que costumam presidir ao desencadeamento da, actividade turística, constituindo fontes de chamamento e de atracção para estrangeiros e, por outro lado, preciosa sugestão aos próprios habitantes das fronteiras nacionais!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na verdade, conquistada a paz e a tranquilidade política da gente lusitana, pelo esforço comum do trabalho, como maior valor por que vale a pena lutar todas os dias, Portugal beneficia de clima regular e temperado, que um sol excepcional afaga, derramando tonalidades calmas nas cambiantes das estâncias e das paisagens; não lhe falta o simbolismo da história, marcado, aqiii e além, -por artísticos monumentos e por lugares lapidares - essa história- índice perene daquele universalismo cristão e civilizador que «deu ao Mundo novos mundos» e que sobre o ser sua, arreigadamente sua, é também história de muitos povos..., primeiro, na origem das descobertas, depois, no fermento moral e na evolução emancipadora, que os trouxe, pelo espírito e pelo sangue português, às relações civilizadas da vida.
Deste modo, os povos cultos não poderão facilmente desprender-se da curiosidade destas fronteiras, na medida em que elas foram cadinho de muitos ciclos, em que a humanidade se definiu e se ergueu.
Por outro lado, a índole da sua gente, se é bondosa e vontadeira, assume aspectos étnicos curiosos, que vão de Miranda a Monsanto, de Barroso ao Paul.
Abundante em praias de tipicidade variada, respeitam preferências o cosmopolitismo dos Estoris, â vastidão da Oaparica e da Figueira, o pitoresco da Nazaré, com o particularismo das suas gentes, o aconchego repousante da de S. Pedro de Moei, a calma de mar de S. Martinho do Porto, em que os contrafortes da «concha» são braços da natureza, a compreender o irrequietismo infantil, e tantas outras praias, como a de Moledo do Minho, vizinha da ilha dos Amores, e a da Rocha, de finíssimo piso, e ainda com aquele mar que nos faculta como que um arco-iris horizontal! Não nos falta a majestade das montanhas! Além o Marão, reflectido, como que íntimo, o Caramulo sonhador, e, mais para o centro, as dimensões imponentes da Estrela, hino de Deus cantado ao orgulho dos homens, que assim, junto dela, melhor meditarão na sua transitoriedade. E recorde-se o manto branco que envolve os seus pontos mais altos durante a maior parte do ano, dando-nos depois, com o sol a pino, a euforia entusiástica dos chamados desportos da neve!
E que dizer da variedade de termas espalhadas por todos os recantos de Portugal, cujas propriedades terapêuticas conduzem aos melhores resultados? Geres, Monte Real, Pedras Salgadas, Monfortinho, Unhais da Serra, etc., são pontos experimentados com êxito pelos que de suas propriedades tiveram necessidade de se socorrer.
No entanto, Sr. Presidente, apesar deste quadro de condições excepcionais, desta, riqueza natural de assuntos que podem despertar seriamente em Portugal o
desenvolvimento do turismo, osso não basta, não é suficiente, para que ,se vejam atingidas objectivos constantes e permanentes em assunto de tal espécie.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A vida moderna requer outras exigências com as quais aqueles motivos têm de andar perfeitamente a par. Exige, em tudo, um mínimo de garantias de conforto nos alojamentos, de solicitude dos serviços, de razoabilidade de preçários e, sobretudo, planeamento regrado de objectivo;» que anunciem e dêem certezas a quem se desloca de seus lares e dos seus costumes habituais!
E ala-se na necessidade de propaganda! Mas sabe-se que esta é cara - ao menos quando se procure exercer no plano internacional -, e que, por isso, nem sempre caberá aia modéstia dais nossas disponibilidades. Pois, eu creio, Sr. Presidente, que, quando o turismo no País estiver a recolher as beneficiações hoteleiras de que já se promulgaram medidas, tiver devidamente articulado e ao serviço um plano de realizações indispensáveis, com pessoal adestrado e a saber conscientemente o que faz e porque o faz, talvez sejam dispensáveis muitas dessas cifras altas que a todo o passo se ajuízam para gastos de propaganda! E porquê? A resposta é óbvia. Porque a propaganda mais útil e mais eficiente, porque também a mais autorizada, partirá, naturalmente, daqueles primeiros que tiverem beneficiado da aparelhagem completa daquilo que importa fazer.
E antes de essa máquina estar devidamente montada, oferecendo garantias sérias, penso que seria imprudente organizarem-se campanhas intensivas de publicidade. Estas, em ordem ao futuro, poderiam dar resultados contraproducentes. Sucederia o invés da esperança que acima anunciei. Seria dinheiro deitado à rua, com a agravante de no espaço, conduzir a resultados contrários ou, pelo menos, prejudiciais aos fins que directamente se tinham em vista alcançar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: seja-me permitido mais um comentário.
Os problemas que se ligam com o turismo, para terem resolução capaz, não necessitam apenas do mútuo entendimento daqueles esforços que directamente a eles se dedicam. Estes, sem dúvida, terão de andar de mãos dadas. Mas não é o suficiente. Requerem mais. Requerem uma conjugação mais ampla, a conjugação de todas aquelas actividades que, não obstante viverem imediatamente para a execução de realizações de outra espécie, devem, no entanto, estar preparadas para, sempre que isso seja possível, favorecer a manifesta compatibilidade dessas realizações com as dos fins turísticos, dando assim nobre exemplo de harmonia de acção dos respectivos departamentos.
Requerem um estado de espírito de conjugação que não conheça pormenores de contrariedade a outros objectivos, quando uns e outros puderem ser respeitados e cumpridos.
A montagem do apetrechamento turístico do País tem de ser obra de cooperação de vários sectores, os sectores imediatos e os sectores mediatos. Ora, se cada um puxar para o seu lado, resultará então obra de campanário, obra de satisfação do amor próprio, obra egoísta, mas não será, com certeza, a obra que todos desejamos - obra intangível de crítica perante o interesse, ou, melhor, perante os interesses conjuntos da Nação.

(Nesta altura assumiu a Presidência o Exmo. Sr. Augusto Cancella de Abreu).