11 DE ABRIL DE 1956 765
Neste espírito, podemos notar que o alargamento da estatística dos nossos visitantes estrangeiros não teve o turismo puro como factor exclusivo.
Quero dizer que, do número apreciável de estrangeiros que passam anualmente por Portugal -em 1955 o seu número excedeu as duas centenas de milhares-, uma notável percentagem veio tratar de negócios, resolver problemas de Estado, assistir a congressos, como ainda agora se verificou com a efectivação de duas importantes manifestações científicas - a reunião da Association dês Anatomistes e o II Congresso Luso-Espanhol de Cardiologia.
Sendo assim, não me parece suficiente confinar o nosso esforço nesta matéria a determinadas zonas classicamente consideradas de turismo. Pelo contrário, é indispensável promover em mais larga escala tudo quanto possa tornar o País apto a fazer turismo sob qualquer dos aspectos considerados - de prazer ou utilitário.
Limitando-nos a aperfeiçoar o que está e confinando-nos a certas regiões mais bem dotados para turismo, será limitarmo-nos a um critério de turismo de prazer, que não basta, tanto mais que todos os que viajam, seja por prazer, seja por obrigação ou profissão, fazem um pouco de turismo. E não podemos exigir que se viaje apenas nessas regiões de facto privilegiadas pela acção do homem.
Por isso, devemos envolver num mínimo de aspirações turísticas, desejável e possível, a parte restante do País, isto é, dotá-la de um mínimo de comodidades turísticas indispensáveis.
Já. não quero falar nos transportes e comunicações; confino-me aos limites da indústria hoteleira.
Por exemplo: parecer-me-ia razoável que as vantagens concedidas, pelos artigos 12.º a 16.º da Lei n.º 2073 (excepto o artigo 14.º - isenções aduaneiras) fossem extensivas à parte do País fora .das zonas de turismo, com uma especificação de exigências menores do que as Consignadas na classificação hoteleira para os estabelecimentos poderem ser considerados de utilidade turística.
E isto, claro está, atendendo às duas espécies de turismo - utilitário e de prazer-, dadas as condições em que essa parte do País se encontra geralmente.
Quem viajar por prazer ou necessidade através da planície imensa que é o nosso Alentejo depara com este confrangedor panorama: Portalegre, Évora e Beja -as suas principais cidades - sem um hotel.
O Sr. Bartolomeu Gromicho: - Évora não tem realmente hotel há cinco anos, e, embora deploremos esse facto, posso afirmar, paradoxalmente, que talvez fosse um benefício para o turismo em Évora essa falta de um hotel.
O antigo Hotel Alentejano estava assoberbado com um problema jurídico complicado, e durante quatro ou cinco anos, devido ao encerramento desse hotel, um benefício enorme resultou para as pensões, que estavam em péssima situação e que assim puderam realizar grandes melhoramentos. Além disso, abriram em Évora alguns restaurantes, três dos quais são dignos de estar em Lisboa, melhoramento este que não se faria se houvesse em Évora um hotel a funcionar.
Parece que a providência se encarregou de resolver o problema, beneficiando todas as pensões de Évora e dando lugar à criação de três ou quatro restaurantes. E agora está nas mãos do Sr. Ministro das Obras Públicas o estudo do hotel, que uma empresa particular se propõe construir e virá a ser a cúpula do problema.
O Orador: - Rejubilo muito com isso. Creio que Eivas "tem dois, razoáveis, mas eu conheço apenas um; Estremoz um, sofrível.
Nesta extensa região de gente rica, com as suas cinco cidades, mais de quatro dezenas de vilas e grande número de aldeias, não se encontra mais nada em condições de receber e alojar pessoas medianamente exigentes.
E não se diga que não há que ver nesta província. Bastará, para não ir mais longe, o magnífico património artístico de Évora, justamente considerada cidade-museu; nem tão-pouco faltam motivos de ordem utilitária para viajar por esta riquíssima região, que, com propriedade, se chama o «celeiro de Portugal».
Nas Beiras interiores e Trás-os-Montes o panorama é mais desolador ainda, abstraindo as cidades de Castelo Branco e Guarda, com os seus magníficos hotéis de turismo.
Ao referir-me a estes dois hotéis, que, sem exagero, podemos considerar de francamente bons, sob qualquer aspecto que se encarem, e que tornaram possível visitar e permanecer nestas duas cidades com agrado e prazer, injusto seria se deixássemos sem uma referência a feliz iniciativa do Governo quando, em 1940, delineou e pôs em execução o plano das pousadas oficiais.
Como o douto parecer da ilustre Câmara Corporativa assinala, as pousadas que já hoje existem são franco motivo de orgulho para o turismo nacional, e não têm deixado de merecer, tanto a nacionais como a estrangeiros, os mais rasgados elogios e a mais franca simpatia, servindo eficazmente o prestígio nacional.
Com certeza foi intenção do Governo, ao lançar as bases deste plano, oferecer ao País as condições mínimas indispensáveis para estender as possibilidades turísticas a todo o País.
Tendo sido levado a pensar que este plano tinha perdido muito do seu interesse inicial, verifico, com particular agrado, que, por despacho de S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho, foi deferido um novo plano de construção de doze pousadas em diferentes pontos do País.
Rejubilo com o facto, tanto mais quanto é certo que a proposta de lei em discussão vai facultar aos diversos órgãos do turismo nacional as condições financeiras indispensáveis, senão para o levar a efeito, pelo menos para tornar exequível a sua exploração eficiente.
O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Infelizmente o despacho já tem mais de dois anos, pois é de Dezembro de 1953.
O Orador: - Por isso me referi ao parecer da Câmara Corporativa.
Ao verificar a indicação dos lugares previstos para a construção dessas doze pousadas, lamento que não tivesse sido considerada a serra da Boa Viagem, junto à Figueira da Foz, cuja beleza panorâmica em nada fica a dever ao que há de mais expressivo na costa portuguesa, situada no centro do País, com excepcionais condições de vida e agora valorizada com um importante empreendimento industrial - o couto mineiro do Cabo Mondego. Faço votos para que ainda esteja a tempo de ser incluída.
Além do mérito que as pousadas oficiais em si encerram, não devemos esquecer que a elas se deve também o estímulo que levou alguns particulares e corpos administrativos a seguir a mesma esteira.
E assim, para citar alguns exemplos, temos unia boa pousada em Macedo de Cavaleiros, creio que devida à iniciativa de um particular generoso, e as pousadas de Figueira de Castelo Rodrigo e de Alijo, levadas a efeito pelas respectivas Câmaras.
A esta de Alijo - Pousada Barão de Forrester - desloquei-me um dia só para conhecer pessoalmente o seu fundador, José Rufino.