30 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 171
A industrialização desses países origina, porém, graves problemas de adaptação das suas economias à da U.R.S.S.. E se, logo após o rescaldo da guerra, esta e os seus satélites estavam demasiado absorvidos pelos problemas de reconversão e reconstituição, para sentirem a necessidade de integração, a verdade é que dez anos após o termo das hostilidades se põem, cada vez com mais premência, as exigências dum desenvolvimento económico comum, e mais consentâneo com as reais possibilidades de cada país. E, de facto, a análise dos planos económicos de maior ou menor número de anos em que todos eles estão empenhados parece denotar uma direcção e um objectivo comuns: a integração económica dos satélites na esfera política da Rússia Soviética.
Os ajustamentos destas economias, inicialmente orientados por objectivos diametralmente opostos, não se fazem, porém, sem sobressaltos e, com frequência aparecem indícios de que a evolução se não processa sem grandes dificuldades.
Os incidentes quê de há dois ou três anos têm vindo a verificar-se e a intensificar-se nos diferentes componentes do bloco comunista não parecem ser apenas a resultante dum afrouxamento do domínio político da Rússia: consubstanciam decerto também crescentes dificuldades de adaptação das várias economias à ideia de um mercado único - estruturado pela Rússia mais em ordem à realização dos seus objectivos próprios e imediatos e não em benefício comum dos países dominados.
7. Os esforços feitorem Genebra pelo bloco do Leste para a intensificação, das trocas comerciais com o Ocidente e o movimento de expansionismo económico orientado no sentido das zonas subdesenvolvidas parecem ser, no entanto, já uma resultante da integração e consolidação económica dos países de economia socialista, que começa a conferir ao sistema bases mais largas de viabilidade e de luta perante os países de tipo capitalista, cujas economias têm de preparar-se para oferecer uma força séria de resistência à expansão do bloco soviético.
Isto justifica a atenção crescente que na Rússia se vem conferindo- ao problema dá «coexistência pacífica dos dois sistemas» e, assente nesta premissa, ao desenvolvimento do comércio internacional entre os países dos dois blocos.
Está nesta linha geral, de orientação a política, por ela defendida em Genebra quando apresentou o projecto de acordo pan-europeu de cooperação económica.
Este projecto é uma réplica tardia à cooperação económica que, após a guerra, a Europa Ocidental, com o auxílio dos Estados Unidos da América, se viu forçada a realizar sem a colaboração dos povos do bloco soviético.
A criação de um mercado livre que englobe todos os países da Europa, tal como agora a propõe à Rússia, é uma solução ambiciosa, mas que, antes de ser um objectivo russo, foi objectivo dos países do Ocidente europeu, ao criarem em 1948 a sua Organização de Cooperação Económica, à qual não aderiram nem a Rússia nem os países satélites.
O plano agora apresentado é menos um plano do que um projecto de carta onde se consignam objectivos de indiscutível sonoridade, mas onde se não cuida da solução dos problemas que se levantam à realização desses objectivos.
A experiência da 0. E. C. E. demonstra, à evidência, que, apesar das afinidades políticas, sociais, culturais e económicas que ligam os seus membros não foi ainda, possível realizar a unificação dos respectivos mercados.
A simples análise das diferenças de estrutura económica dos dois blocos patenteia a carência de conteúdo realista da sugestão russa para a criação imediata de um mercado comum.
A sua aceitação, por parte do Ocidente, sem a resolução de um sem-número de questões prévias e na impossibilidade, de garantias suficientes, não passaria de dispersão de forças e de objectivos e dificilmente poderia deixar de jogar a favor dá Rússia Soviética e dos seus satélites, cuja estrutura económica lhes consente uma mais. fácil adaptação às tácticas de infiltração e conquista de mercados.
Se quisermos (e queremos) desenvolver progressivamente às nossas relações com o Leste europeu, o processo mais eficiente, embora menos espectacular, será a da realização de arranjos de comércio, que, com base nos resultados e ensinamentos da sua execução, irão sucessivamente criando o alargamento das possibilidades reais de trocas.
Nesse sentido os países ocidentais iniciaram já a sua política: Portugal tem hoje acordos de pagamento com á Polónia, Hungria, Checoslováquia e Alemanha Oriental, que, como mais tarde se verá, não atingiram ainda os resultados desejados.
8. O ano de 1956 foi dominado nos países do Leste pela publicação do 6.º plano quinquenal russo, cobrindo-o período de 1956 a 1960 e a cujas linhas gerais todos os países satélites se procuraram ajustar.
Ao termo de um quarto de século de economia planificada, durante o qual a Rússia conheceu as vicissitudes da adaptação de um novo sistema político económico e as imensas destruições resultantes da segunda guerra mundial, o 6.º plano quinquenal apresentar-se com o objectivo ambicioso de lhe dar uma posição definitiva de avanço sobre os países da Europa Ocidental é de encetar desde já a competição com os Estados Unidos da América.
É certo que mesmo em termos de slogan - «alcançar e ultrapassar os Estados Unidos da América» - a aspiração não é nova, mas é diferente o facto de ela agora ser formulada em termos de maior calma e confiança em si própria e até com maior realismo do que nos planos anteriores; na verdade, á análise do 6.º plano revelou ao mundo ocidental que os objectivos foram traçados agora com maior segurança e de uma forma mais elástica.
É evidente que j sendo diferentes os sistemas económicos dos blocos concorrentes, não pode medir-se o alcance dos objectivos do 6.º plano russo pela simples comparação das cifras de produção nos sectores básicos da economia de um ou de outro. As diferenças de estrutura, e sobretudo os desequilíbrios internos da economia soviética, pouco sensíveis à análise das médias de produção, ou dos aumentos percentuais dessas produções, escondem na realidade e na maior parte dos casos desvios e insuficiências consideráveis entre os diferentes sectores da economia.
Não poderá, portanto, figurar-se o fosso económico que ainda separa os dois países pela simples análise das produções globais ou per capita de ambos; acresce ainda que, não sendo estagnante a economia norte-americana - não obstante, a sua estrutura capitalista a tornar mais permeável às crises e às soluções de reajustamento do que uma economia do tipo russo -, tudo leva a supor que ao atingir-se o ano de 1960 à economia , deste país sé situe ainda a distância considerável da do seu competidor, apesar dos progressos que venha a realizar durante o quinquénio.
9. Caracteriza-se o 6.º plano quinquenal pelo desenvolvimento prioritário concedido à indústria pesada, paralelamente a um largo esforço no campo da pró-