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17 DE JANEIRO DE 1957 (247)

se liga exclusivamente à minha posição de Deputado, o que quer dizer, claramente também, que exclusivamente a situo no terreno político; mas, se é certo que, neste momento, imposições constitucionais me interditam as funções de professor e me desligam de muitos dos seus deveres, não negarei que é o mexi espírito de universitário, que encara a Universidade como a mais nobre e prestigiosa e altiva das corporações, que me confere uma total alergia a quanto possa sacrificá-la em tradições, entusiasmo e vida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: as associações dos estudantes universitários têm a sua existência legal e devidamente reconhecida pelo Decreto n.º 21 551, de 30 de Julho de 1932, e não há dúvida que o Decreto n.º 21506, de 3 de Agosto desse ano, que o regulamentou, deu ao Ministério da Educação e a entidades dele dependentes a indispensável competência em tudo quanto respeita às suas constituição e fiscalização; e aí se impõe também que a aprovação ou a alteração dos estatutos vigentes depende do reitor da Universidade ou do director da escola, como da sua aprovação da mesma forma depende a efectivação de muitas iniciativas daquelas associações.
E porque nesse decreto igualmente se previu a proibição do seu funcionamento, na hipótese de desvios estatutários ou das disposições legais, os estudantes puderam viver associativamente até hoje numa satisfatória liberdade de acção e de iniciativa, sem prejuízo dum mínimo de condicionalismo que a razão de Estado pudesse porventura impor.
As novas condições de orgânica e de funcionamento associativo em que o Decreto-Lei n.º 40 900 pretende assentar quanto às associações dos estudantes, e que particularmente respeitam às suas assembleias gerais, às reuniões dos seus órgãos, ao grau discricionário da nomeação de comissões administrativas, às possibilidades da sua extinção, que se aparentam a exceder as previstas no Decreto n.º 21 566, de 3 de Agosto de 1932, a uma burocracia de relações que compromete a possibilidade dum contacto directo da juventude académica com o Ministro e parece limitá-la nas relações entre si, etc., enfraquecem substancialmente aquele grau de independência que, até hoje, se mostrou proveitoso e eficaz, transformando o ambiente associativo e quebrando-lhe, consequentemente, a sua projecção e o seu interesse.
Qual a vantagem, qual a razão desta mudança, que está causando nos meios universitários do País uma perturbante confusão?
O estudante que acorre à Universidade casa- mãe, por excelência, das élites, do pensamento e da ciência- não pode buscar só nela uma preparação técnica ou uma bagagem científica, esquecendo que a vida amanhã o acolhe, pondo à prova - e a prova dura! - sobretudo a sua personalidade e a sua formação; e, se quiser vir a ser, na verdade, um homem do seu meio e do seu tempo, se quiser vir a ser um elemento actuante e influente duma elite que conduz, tem de se habituar a saber ter iniciativas e a pugnar por elas, tem de saber lutar pela defesa dum princípio, duma doutrina ou duma ideia, tem de saber bater-se, conscienciosamente, pela ética que aceita como determinante da sua forma de ser, tem de saber estar presente ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... discutir, esclarecer, analisar, nos momentos em que se ponha á prova a linha de condução por onde quer ver seguir a sua vida e a do meio social em que se integra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Cube-nos a nus, é certo, mais experientes, mais velhos -e por natural obrigação-, pôr a nossa experiência e a nossa idade ao serviço dessa causa, que é, pela própria transcendência do seu meritoso alcance, uma causa eminentemente nacional; e, nesse sentido, tudo quanto da lição da nossa vida lhes pudermos dar constituirá um relevante serviço àqueles a quem a vida sedutoramente ainda oferece perigosos enganos, que a mocidade pode inexperientemente transformar em normas de condução.
Mas temos de actuar acautelando desvios, impedindo interpretações que possam desvirtuar ou comprometer aquilo que, na realidade, se pretende, sabendo sobretudo aproveitar o respeitar na gente nova quanto ela de melhor possui para realizar esse trabalho delicado, de que há-de. em grande parte, depender mais tarde a vida e o valor da Nação.
Isto é: cabe-nos facilitar-lhe os caminhos por onde ela melhor se possa conduzir, sem nunca, e em circunstância alguma, a limitar por um comodismo de processos, por uma falta de confiança incompreensível ou por rígidas peias burocráticas, que lhe quebrem, numa rotina sem alma, a sua iniciativa e a sua devoção.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É inexperiente a gente nova, é certo, e por isso mesmo facilmente penetrável por propagandas perigosas, que têm quase sempre uma roupagem tão frágil que não podem aguentar-se perante a comezinha verdade que o senso da mais idade, que a experiência dos mais velhos descobrem naturalmente só por si; mas oferece, em contrapartida, a gente nova um entusiasmo que, infelizmente, depois se vai perdendo pela vida fora, um desejo sem limites de actuar e de servir, uma dedicação sem fitos de recompensa àquilo que a apaixona, que deixa caminho aberto a todas as causas nobres e que. por isso mesmo, a poderá entregar a tudo quanto de aliciante e de digno lhe saibamos realmente oferecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E é aqui, e por aqui, que o trabalho dos mais velhos se justifica e se impõe, se quisermos, na verdade, trabalhar para formar, em vez de nos limitarmos a trabalhar para instruir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esclareçam-na, informem-na, ajudem-na, compreendam-na nas suas dúvidas, conduzam-na nos seus anseios, defendam-na dos perigos e das mentiras que a cerquem, mas deixem-na ser diferente das rotinas que entorpecem, libertando-a, por princípio, de toda a peia que a amorteça ou desinteresse; pelo contrário, facilitem-lhe, sem a deixar tender para quanto possa reverter em prejuízo da manutenção do equilíbrio do ambiente escolar, o hábito de discutir abertamente e de pugnar entre si pelos seus pontos de vista, de ter a iniciativa construtiva das soluções da grande parte dos seus problemas dominantes, de trabalhar directamente pelo, mais alto nível das suas relações e do seu meio, de ser útil a si própria e de viver, integrando-se entusiasticamente no espírito da corporação a que pertence, de ser franca, ousada e combativa pela verdade que aceita, de ser, enfim, um conjunto de