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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 178 (244)

nica sadia e sempre rejuvenescida, que tem dado os mais elevados exemplos de cordura, acatamento e respeito pelos nobres princípios em que se alicerça a vida a Nação.
Entendo que procede inteiramente quanto se alega na bem elaborada e profundamente compreensiva exposição da direcção da Associação Académica de Coimbra dirigida ao magnífico reitor da sua Universidade e nesta Assembleia distribuída, especialmente na parte onde afirma que a Associação Académica de Coimbra requer uma especialização e uma descentralização no capítulo da sua orgânica interna.
Nada mais ajustado com as realidades e nada mais francamente possível nas actuais circunstâncias.
E tem de ser essa especialização que deve estender-se aos restantes órgãos do governo da Academia de Coimbra, que ditará não a sua substituição mas antes o fortalecimento da sua acção moralizadora e tutelar, sempre facilmente controlável pelo prelado universitário, que, com a sua incontestada autoridade, poderá completar sem qualquer ostensivo dirigismo a superior orientação governativa de valorizar cada vez em maior grau o já valioso capital humano que o universitário especialmente representa entre os melhores valores da Nação.
Há, portanto, Sr. Presidente, que ter em atenção todo o conjunto de asperezas que o aludido Decreto-Lei n.º 40 900 apresenta, colmatar as suas lacunas e atender às particularidades da vida associativa estudantil, que não foram efectivamente consideradas.
Este trabalho, porém, pode fazer-se sobre o propósito firme de servir os mais altos interesses da juventude, sem lhe menosprezar as qualidades de iniciativa e de decisão ou minimizar as suas qualidades, em que tem de depositar-se a mais lata confiança.
O Ministério da Educação Nacional mostra-se empenhado em que os jovens de hoje, muitos dos quais serão os governantes de amanhã, ocupando postos de comando nos vários sectores da administração, os possam assumir com a mais alta garantia de eficiência.
Louva-se e compreende-se tão patriótica atitude e a seu serviço se procurará aperfeiçoar o sistema contido no Decreto-Lei n.º 40 900, até ao ponto de o fazer inteiramente harmónico e coincidente com as realidades da vida em que pretende basear-se.
Para tanto, Sr. Presidente, não poderá esta Assembleia ratificar pura e simplesmente esse diploma legal, mas fazê-lo seguir a tramitação que a lei e o Regimento desta Casa impõem para que nele venham a ser introduzidas as emendas que forem reputadas mais aconselháveis.
Na mais louvável das intenções, é o próprio legislador quem assim o deseja na clara urdidura da sua douta nota oficiosa.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Galiano Tavares: - Sr. Presidente: a recente publicação do Decreto-Lei n.º 40 900, oriundo do Ministério da Educação Nacional, provocou alarme nos meios universitários, de que Coimbra é viva e lídima expressão.

(Reassumiu a presidência o Sr. Albino Soares Pinto dos Reis Júnior).

Não há vida de relação associativa que, entre nós, se lhe compare.
Ë um verdadeiro e útil espírito de auxílio mútuo.
Todos deploramos a falta de unidade e espírito de colaboração nos demais centros universitários.
A experiência esclarecida transforma os adolescentes em homens, e por homem se pretende significar o futuro profissional e o cidadão.
Não é o grupo que escolhe o chefe (Caput), mas o chefe que se impõe ao grupo: decisão, rapidez, golpe de vista e sentido de organização. A actividade gregária manifesta-se já nas próprias crianças, tal o caso dos jogos colectivos.
Os dominados jamais serão elementos de progresso da vida espiritual, diz-se. Assim é; porém, em certa medida.
Viver enclausurado é a maior desgraça. E o espírito também se aprisiona, o espírito também se enclausura, porque clausura é a monotonia dos dias que se sucedem, sempre iguais e sempre frios, quando nos não aquece a labareda de um ideal construtivo.
O homem só, o homem solitário, de nossos dias não é já o homem forte das concepções de outrora. Espectro de si próprio, o homem solitário não se sublima pelo abandono, antes se degrada pelo egoísmo.
A vida dos meios pequenos, isolando os homens dos grandes incidentes que amanhã hão-de ser factos históricos, tira-lhes a possibilidade de bem compreender o que seja o gozo moral ou intelectual de os ter originado, privando-os até, pela distância, da suprema graça de bem os poder sentir.
A cada passo ouço lamentações pelo que a vida é e pelo que a vida será.
Puerilidades! Exigi de uma árvore frondosa que não dê sombra, do mar que não tenha vagas, do rio caudaloso que suste a sua torrente. Lamúrias. A rota dos acontecimentos os homens a preparam e a modificam, os homens a alteram e a orientam !
A harmonia universal resulta da própria desarmonia das aspirações dos povos, como no domínio da vida física a força centrífuga se opõe à força centrípeta e as atribulações sinceras por que passam certos espíritos ingénuos provêm, precisamente, da acanhada órbita da sua vida de relação.
Elevemo-nos acima da vulgaridade, porque a pobreza dos nossas concepções é que limita e enclausura o nosso hesitante poder da vontade. Façamos da vida igual e monótona de todos os dias a vida rica e opulenta do movimento, da aspiração forte, da vontade enérgica que se impõe e se « expõe» sem esse nefasto receio de ser diferente dos outros.
Vida social e universitária só intensamente se sente e observa em Coimbra. Também, por outro lado, é corrente apreciar-se aquilo que geralmente se não conhece bem.
A individualidade não se enriquece pela adopção de convenções arbitrariamente fixadas, diz-se.
E quando se diz «arbitrariamente» talvez se devesse dizer antes «artificialmente» e este pode ser o aspecto frágil da providência. Não se trata do critério do mau político: «Sou o chefe, logo tenho de os seguir».
Seria a adopção do princípio da irresponsabilidade. Coimbra é Coimbra; Coimbra é a tradição.
A Universidade influenciou notavelmente a vida de Oxford em Inglaterra a partir do século XIII.
Cambridge é conhecida em todo o Mundo pela sua Universidade fundada em 1229 e cujas origens datam de uma escola que a antecede.
A intenção do Ministério da Educação Nacional não traduz, porém, a meu ver, qualquer má vontade. A iniciativa do diploma é genericamente orgânica.
As nossas Universidades careciam de criar, de estabelecer, princípios de vida associativa dos alunos entre ai, dos professores para com os alunos, de uns e outros com a Nação.