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13 DE MARÇO DE 1957 335

à administração pública, tem forçosamente de prometer muita coisa que não lhe é possível cumprir. É claro que me refiro exclusivamente aos políticos de qualidade. Se os melhores políticos cumprissem rigorosamente tudo o que prometeram, não teriam chegado a meio das suas carreiras e os seus países teriam perdido com isso. O estado do espírito de um político que prometo é por isso muito especial e sujeito a todas as reservas. Mas quando um homem que apenas fala perante os seus alunos ou assembleias científicas se encontra um dia, inesperadamente, perante um microfone ligado para o seu país, sente um terrível choque e dá ao seu acto um significado quase religioso, em que domina o sentimento do cumprimento rigoroso do que disse.
E em obediência a esses princípios que abordarei de novo, daqui a poucos dias, a questão do Hospital-Faculdade de Lisboa, para concluir sobre a evolução que sofreram as múltiplas questões nela contidas.
Julgo que V. Ex.ª concordará comigo que este reavivamento do significado do aviso e das condições em que o levantei e o conduzi posteriormente constitui uma introdução necessária à, revisão final a que vou proceder.
Disse.
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: -V. Ex.ª dá-me licença que levante uma frase que acaba de proferir?

O Orador : - Faz favor.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Parece-me que V. Ex.ª no modo genérico como falou, foi porventura além do meu pensamento quando disse que os políticos têm de prometer muitas coisas tendo a certeza de que não as realizam. Permita-me que não dê o meu apoio a semelhante afirmação.

O Orador : - Posso responder?

O Sr. Paulo Cancella de Abreu : - Faz favor.

O Orador: - Um verdadeiro político tem forçosamente de prometer muita coisa que não lhe não é possível cumprir.
Isto pude interpretar-se nos dois sentidos, mas foi-o, evidentemente, no sentido do que isso pode acontecer.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Foi nesse sentido que me pareceu que V. Ex.ª interpretava, mas convinda esclarecer.

O Sr. Manuel Vaz: - Sr. Presidente: nos últimos dias da semana finda recebi de Chaves várias comunicações, entre as quais dois telegramas dos Grémios da Lavoura e do Comércio daquela cidade, expondo a situação desesperada em que se encontram os produtores de batata de consumo da região, sobretudo os médios e pequenos produtores.
De facto, a situação dessa pobre gente é verdadeiramente aflitiva. E não falta já quem politicamente especule com o caso. A actividade económica, do concelho movimenta-se à volta de duas culturas essenciais, devido às condições geofisicas regionais, que outras não permitem: a do centeio, extremamente pobre, que lhes não dá qualquer margem de lucro, e a da batata, que lhes permitia, outrora um certo desafogo económico, enquanto esta cultura se não tornou extensiva a todo o País.
A grande distância a que se encontram dos mercados consumidores e a magreza das terras, que não consente produções unitárias elevadas, colocam a região em manifesta situação de inferioridade, quanto à colocação deste produto, em relação aos demais centros produtores, mais próximos daqueles mercados e do ponto de vista agrícola, melhor dotados. O clima agreste, da chamada terra fria, impossibilita os lavradores da região de se dedicarem a quaisquer outras culturas. Não têm por onde escolher. Hão-de cultivar batata em rotação com as sementeiras de centeio. Daqui não há que fugir, embora debalde, o procurem fazer.
Até aqui ainda podiam contar com duas circunstâncias favoráveis, que, até certo ponto, atenuavam as apontadas condições de inferioridade, a saber: a óptima qualidade do produto, sem dúvida do melhor do País, e a particularidade de se tratar de uma produção do tarde, a colocar nos mercados quando as produções de outras regiões já se haviam esgotado e, portanto, já não havia concorrência.
Mas até mesmo esta situação se modificou radicalmente, impedindo as produções da terra fria de encontrarem normalmente fácil colocação ou escoamento.
Por um lado as condições climatéricas de certas zonas agrícolas do País permitem-lhes fazer duas e até mais culturas anuais de batata.
De forma que produzindo estas no cedo e no tarde ficando mais perto dos centros consumidores, tendo maiores produções unitárias e muito menores encargos de cultura e transportes o escoamento e consumo da batata do Nordeste do Pais torna-se pràticamente inviável, por via destes factores que lhe impedem a concorrência.
Por outro lado, no jogo do interesses que a comercialização do produto necessàriamente provoca, não só entre produtores, mas principalmente entre os seus distribuidores, vem a desenhar-se há já alguns anos, uma intensa embora subterrânea, campanha do descrédito quanto à qualidade das produções do Norte, que, como agora, são acusadas do se apresentarem manchadas, negras e esfareladas. Ora a verdade é que há algumas variedades de batatas que devido a circunstâncias ainda hoje tècnicamente desconhecidas. se apresentam em alguns anos com manchas escuras que, sem dúvida alguma, comercialmente as prejudicam.
Mas não é menos verdade que estes inconvenientes ou defeitos não são privativos das produções nortenhas, mas extensivos, pelo menos, às demais produções do País e resultam, em grande parte, do facto de o seu consumo doméstico ser tardio, obrigando ao desgrelamento.
Acresce até que uma dessas variedades, a especial rasteira, uma das que mais frequentemente se apresenta manchada, quase não é cultivada na região de Chaves, se a não contundirmos com a valenciana à qual muito se assemelha.
Cultiva-se ali, entre outras variedades, a bonner, que em certos anos apresenta, em escala reduzida, os mesmos defeitos. Mas quanto às outras variedades que ali se cultivam já o mesmo não acontece. Porque será, portanto, que se nota um especial interesse em desacreditar a batata de Chaves, quando se verifica que o mesmo, e em mais amplas proporções, acontece noutras regiões do País?
Tenho feito a mim mesmo esta pergunta algumas vezes e só encontro uma explicação:
Talvez que a razão esteja na conveniência, para alguns, de maciças importações de batata, rotulada de semente, e que devido ao seu tamanho - ela não vem calibrada como se exige entre nós - é utilizada para consumo, em lugar de ser plantada.
Isto parece ser tanto mais plausível quanto é certo que todos os anos se tem encontrado uma grande resis-