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726 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 204

que os tempos de misérias financeiras constituíam apenas dolorosa reminiscência do passado.
Provar a existência de recursos naturais susceptíveis de economicamente poderem sor utilizados parecia ser nessa época uma das primeiras condições de progresso nacional.
Se examinarmos as circunstâncias em que vive o Mundo desde o fim da primeira grande guerra, verificamos logo que os últimos quarenta anos são caracterizados por intensivo trabalho de investigação económica. As quantias gastas em quase todos os países atingem somas enormes e os resultados da investigação transformaram o sentido da própria economia neste curto espaço de tempo.
Já no século passado se acentuara a importância da potencialidade económica na vida política do concerto das nações. A sua influência na medida em que se iam desbravando novos países, desenvolvendo novos recursos, adoptando novos processos de trabalho, aplicando novas descobertas do ciência pura e aplicada, tornava-se cada vez maior e trazia à superfície riquezas colectivas que eram imediatamente postas ao serviço d u ideia política. A potência económica, pouco a pouco, fortaleceu o poder político, a ponto de o último conflito ter sido resolvido mais pela força dos instrumentos de produção e aproveitamento de recursos naturais, em escala que ultrapassou todas as expectativas, do que pela própria habilidade dos exércitos em campanha ou até do seu poder em forças humanas.
O aspecto político da vida duma nação apontava a necessidade de aproveitamento dos recursos materiais.
Mas um outro aspecto grave e sério emergia, da primeira grande guerra e tomara corpo no período que decorreu desde então até hoje. Quero referir-me às exigências alimentares e de melhor nível de vida He. vastas populações em quase todos os recantos do Globo e aos anseios cada vez mais intensos das populações de países de alto nível de vida, que desejavam usufruir em escala cada vez maior dos produtos que o progresso térmico podia pôr ã sua disposição.
Eram forças humanas irresistíveis, que exigiam compartilhar dos desenvolvimentos materiais - umas gozar o bem-estar oferecido pelo uso de coisas supérfluas. do que não constituía necessidade imediata; outras desabrochavam para a exigência do essencial à vida em condições normais.
Estas duas forças tendiam para, maiores produções - exigiam maiores e mais variados consumos. Os processos usados para criar um meio social propício a osso fim levaram, como é do conhecimento de todos, a grandes modificações na estrutura política do vasto Mundo, ato na estrutura política que presidira durante os anos pacíficos dos meados do século XIX até 1914 no desenvolvimento gradual da civilização humana.
A tendência para melhores níveis de vida nos países que já haviam atingido um grau do progresso elevado o nos ainda subdesenvolvidos e subalimentados foi a característica mais notável do último meio século.
Todas estas razões levaram o parecer das contas desde o seu inicio a indagar das possibilidades económicas do País, de modo a procurar destruir, se possível, a ideia fatalista e desorientadora da sua pobreza em recursos materiais.
O problema tal como se aposentava nesse momento era diferente do problema, no aspecto económico, de cem anos atrás.
Durante o século XIX os combustíveis sólidos formavam. uma das bases mais firmes ida estrutura económica do Munido.
Na terceira década do século actual o progresso no domínio das forças hidráulicas e dos combustíveis líquidos atingira, tanto em teoria como em aplicação directa, um grande aperfeiçoamento, que começava, a produzir frutos ubérrimos em cento animem de países.
Ora a energia é a base em que se movimenta o mundo moderno. Seja qual for o aspecto em que se apresente, é sempre possível transformá-la- em forma eléctrica e transmiti-la a grandes distâncias. Hoje, como há vinte anos, a energia eléctrica é a forma mais acessível, mais conveniente para uso em quase todos os processos que convergem para a produção do bens de consumo e de bens duráveis.
Era mister, pois, saber se as forças hidráulicas que se perdiam nos rios nacionais poderiam ser dominadas; e convertidas economicamente no fluxo eléctrico a utilizar nos centros de consumo.
Um exame superficial do sistema hidrográfico português mostrou logo as possibilidades de grande produção de energia eléctrica. Por isso, desde o início da publicação dos pareceres das contas se insistiu por um inventário das disponibilidades energéticas nacionais que compreendesse o seu quantitativo potencial e a parcela desse quantitativo susceptível de ser aproveitada economicamente; e desta parcela se poderia deduzir uma escala de prioridade por forma a permitir que se iniciassem os aproveitamentos por aqueles que assegurassem menores preços compatíveis com a continuidade de produção, isto é, com a garantia de abastecimento em todas as horas do dia e de noite, de Verão e de Inverno. E. seguindo os princípios mais progressivos, era indispensável aproveitar no rio todas as suas potencialidades - as relativas à rega, ao domínio das cheias, à energia, n navegação, de modo a reduzir o custo de cada uma.
Num pais como o nosso, formado por estreita faixa no sentido leste-oeste, que drena para o Atlântico, no dizer de alguns, mais de metade das águas que caem na Península Ibérica, com a configuração orográfica conhecida, era quase certa a probabilidade de relativamente grande potencialidade energética.
Apesar da desoladora falta de elementos e de estudos, os pareceres de 1942 e 1943 concluíram por uma existência mínima de energia potencial, nos anos muito secos, nos rios nacionais da ordem dos 9 biliões de kilowatts-hora. Para a população dessa data a capitação das possibilidades energéticas nacionais era superior u dos consumos de grande maioria dos países mais progressivos do Mundo, até considerando a energia disponível nesses países sob outras formas.
Portugal não era assim um país pobre em disponibilidades energéticas: era um país que não soubera aproveitar os dons nesta matéria com que a natureza prodigamente o dotara.
A cifra foi discutida, impugnada, considerada utópica por muitos. Uma pequena minoria, infelizmente reduzida, aceitou-a como base de estudo e pouco a pouco vieram à superfície elementos mais pormenorizados. Embora ainda hoje se não tenha realizado oficialmente o inventário, muitas vezes sugerido nos pareceres, a cifra de 9 biliões está apreciavelmente ultrapassada, e não será exagero dizer que a capitação energética dos recursos nacionais neste momento ultrapassa bastante os 1000 kilowatts-hora a que se aludia em 1943. 15 o suficiente para servir de base a consumos essenciais em qualquer programa que tenha o objectivo de elevar o nível de vida do País.
Mencionou-se este exemplo, como poderiam citar-se outros, para mostrar que, pelo menos num aspecto, a ideia de pobreza é mais uma imagem corrosiva da vitalidade nacional do que um facto real. O País não é pobre em recursos energéticos - a imaginação firmada em ociosidade descrente induzira a crer que o era.
Outros recursos apareceram depois nos aspectos agrícolas e industriais da economia. A existência de vastas