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20 DE ABRIL DE 1957 775

A viagem do Chefe do Estado ao Brasil é uma nova afirmação da profunda amizade que une os dois povos e, ao mesmo tempo, do tradicional sentido atlântico que informa a política externa portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Atlântica é a nação mais velha aliada de Portugal, atlântica e vizinha a nação que, em perfeita solidariedade connosco, primeiro denunciou os graves perigos que ameaçavam uma civilização comum, atlântica é a maior potência do Mundo, com a qual criámos relações da melhor colaboração e amizade, e atlântico é também esse grande país que o Chefe do Estado agora visita e que nos deu, entre tantas, a glória imperecível de poder falar-se para sempre a língua portuguesa nesse extenso e rico continente da América do Sul.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos de reconhecer que, se o Atlântico foi, no passado, o campo vasto da expansão do Ocidente, continua a ser, hoje, o mais firme guardião da sua civilização e do seu espírito.
Sr. Presidente: estamos a antever a manifestações calorosas que vão rodear o Chefe do Estado durante a sua estada no Brasil, as saudações de que vai ser alvo, os aplausos que o vão cobrir. Brasileiros e portugueses, os portugueses nascidos em Portugal, muitos já nascidos no Brasil, todos, sem distinção de condição ou nascimento, ricos ou pobres, poderosos ou humildes, acorrerão, em massa, para saudar o Chefe do Estado. como se o coração do Brasil fosse, nesses dias, o próprio coração de Portugal. Leva o Chefe do Estado, por direito próprio, a mais alta representarão da Nação Portuguesa e é portador, também, de uma mensagem especial de agradecimento ao país nobilíssimo que demonstrou conhecer a amizade e ser fiel a ela, tanto nas horas de esplendor com os momentos difíceis de ansiedade e de injustiça.
Trará, no regresso, o Chefe do Estado uma impressão inesquecível desta viagem, as mensagens oficiais de simpatia, a recordação das grandiosas homenagens que lhe vão ser prestadas. E trará também para Portugal as lembranças dou que emigraram para o Brasil. para ali se fixarem o viverem, mau nem um só dia esquecem a terra onde nasceram e que permanentemente vive no seu afecto e na sua saudade.
Façamos votos pelo êxito da viagem do Chefe do Estado e pura que ela corresponda, inteiramente, aos altos objectivos dos Governos do Portugal e do Brasil.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sebastião Ramires: - Sr. Presidente: S. Ex.ª o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil transformou em oficial o convite que pessoalmente fizera a S. Ex.ª o Presidente da República quando em 1956 visitou Portugal.
Fosse apenas um acto de cortesia ou a retribuição de uma visita, e isso bastaria para nos regozijar e publicamente manifestarmos o nosso reconhecimento.
A projectada visita de S. Ex.ª o General Craveiro Lopes ao Brasil reveste-se, porém, do uma transcendência que a coloca em lugar à parte na convivência internacional.
O Brasil ocupou sempre um lugar privilegiado nos nossos afectos e é, em si menino, a mais bela floração da nossa raça. Nele se fundiram duas forças: a que vem do passado no sangue português e a que recebeu no vasto e ardente meio onde se desenvolve.
Na época perturbada em que vivemos, quando se debatem diferentes concepções de vida e se propagandeiam peregrinas e perigosas fórmulas de renovação política e social, o Brasil afirma-se herdeiro e continuador do génio português no mundo americano.
Fm realmente Portugal que lhe formou a alma e lhe ministrou o baptismo do civilização.
A primeira missa constitui o início da nacionalidade brasileira.
O português de Quinhentos quando se lançou à aventura das descobertas levava consigo a Cruz, e com a Cruz um património de cultura e o facho do seu primado espiritual.
Quem será mais brasileiro do que o jesuíta português, o franciscano ou o missionário que 'acompanharam os bandeirantes, penetraram nos sertões e foram abrindo clareiras de luz na inteligência dos nativos e que ao Brasil inteiramente se votaram em cuidados e canseiras, entregando-lhe até a sua própria vida?
Quem será mais brasileiro do que o transmontano, o minhoto, o ilhéu ou o alfacinha que fizeram do Brasil a sua segunda pátria e por ela trabalharam e lutaram, fazendo por cidades e vilas larga sementeira de hospitais, de hospícios, creches e maternidades, onde se exerce a verdadeira caridade cristã, sem que se cuide da filiação ou apelido dos que a elas se acolhem?
Os portugueses vivem no Brasil em perfeita comunhão de bens e o entrelaçamento de família com os brasileiros natos é tal que se tornaria impossível a separação dos referidos interesses.
Criou-se no Brasil uma unidade política - na imensa vastidão do seu território a quarta ou quinta nação do Mundo em extensão territorial e com riqueza e possibilidades quase ilimitadas; assumiu com a mesma língua a mesma civilização católica que floresceu na opulência de uma nacionalidade nova.
Antes de nas chancelarias se falar em Tratado de Amizade já existia, e de há muito, a comunidade entre os dois povos, gerada pela História. Desta forma o novo Tratado de Amizade e Consulta mais não é do que a tradução em textos oficiais das realidades do passado, mas abre novas e grandes perspectivas a uma larga acção política no futuro.
Portugal e o Brasil, unidos pelo Atlântico, vão estreitar ainda mais os seus laços tradicionais e concertar uma política internacional de amplo entendimento. Assim a América existirá na Europa e a Europa estará presente na América.
Sempre os Portugueses se regozijaram e se felicitam com o desenvolvimento, o progresso e com os êxitos do Brasil como se fossem seus e também o Brasil sempre comungou connosco nos bons e maus momentos.
Quando do caso de Goa o Governo e o povo brasileiro vibraram ião intensamente como nós próprios com os agravos da União Indiana e sempre afirmaram a sua preocuparão com a segurança de Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mais recentemente, quando fomos vítimas de uma cabala na Comissão das Curadorias, o Brasil esteve- decididamente ao nosso lado pela voz eloquente e erudita do seu ilustre representante, o eminente Dr. Donatelo Grieco.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É que o Brasil sente que questões desta natureza tocam uma história que é também a sua história e o seu património moral.