DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 65 62
neste assunto, como madeirense, dos que mais se utilizaram dos serviços aéreos, na minha opinião é de expectativa, como Deputado pela Madeira só encontro motivo para reafirmar o que nesta Assembleia tenho dito há quatro legislaturas consecutivas. Sinto, porém, verdadeiro pesar em invocar a favor da minha tese uma tragédia que custou a perda de trinta e seis vidas.
Os hidroaviões prestaram assinalados serviços e transportaram em nove anos mais de sessenta mil passageiros. Todavia, do que a Madeira e o Porto Santo necessitam é de campos de aviação onde os quadrimotores possam, com segurança, levantar e pousar regularmente.
A construção desses aeródromos está prevista no novo plano de Fomento, mas o que os Madeirenses desejam é que as obras comecem o mais ràpidamente possível e se vençam todas as demoras da burocracia e da técnica, para que seja uma realidade breve, aquilo que é esperança e sonho de tantos anos.
Muitas vezes o Governo estuda os problemas e resolve-os. Mas vêm depois os chamados trâmites normais, a elaborarão dos projectos e anteprojectos, as delongas da consulta de repartição para repartição, a falta ou a ausência de técnicos e peritos, e quando a solução, afinal, vem, o espírito público já está cansado para a receber com o interesse e com o júbilo que eram devidos.
Sr. Presidente: tenho procurado nesta tribuna interpretar sempre as aspirações do povo da Madeira, na convicção de que; desempenhamos um mandato político o temos o dever imperioso de honrar a confiança dos que nos elegeram para sermos Deputados da Nação. Mas, se o tenho feito com entusiasmo e desassombro, nunca deixei de confiar no Governo e no estadista que é o mais alto símbolo dos anseios de progresso do povo português. E com a mesma confiança com que daqui apelei para o Sr. Presidente do Conselho para a solução do problema do porto e para o seu prolongamento, para a instalação do apetrechamento destinado ao fornecimento de óleos à navegação e pura assuntos de interesse fundamental para a economia do arquipélago, apelo, de novo, para que S. Ex.ª ponha o alto valimento da sua função e da sua personalidade ao serviço da rápida execução de um empreendimento ao qual tem dedicado tão grande interesse e carinho.
Os anos vim passando, mas em todos os aspectos importantes da vida portuguesa, no plano nacional ou no plano regional, sempre que há uma dificuldade a vencer, todos nos voltamos para Salazar, como o estadista que tornou possíveis, neste país, as grandes realidades da mossa época, desde a paz que usufruímos ao progresso material que alcançamos.
A Madeira, que deve ao Sr. Presidente do Conselho a solução dos seus problemas fundamentais, mais uma vez confia inteiramente no impulso que S. Ex.ª dará à construção dos aeródromos da Madeira e do Porto Santo e tem a fundada esperança de que o Sr. Ministro das Comunicações, a quem desejo prestar as minhas homenagens, pela sua competência e pelo alto valor do seu espírito, ligará o seu nome no prosseguimento da acção da anterior titular daquela pasta, a um empreendimento cuja execução imediata corresponde a uma aspiração geral e unánime do povo da Madeira.
Sei bem, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que me torno incómodo e maçador perante VV.Ex.ªs e talvez impertinente perante o Governo levantando frequentemente a minha voz nesta Câmara sobre o problema das comunicações para a Madeira. Mas continuarei a faze-lo enquanto o julgar do meu dever, e essa voz que aqui se levanta para pedir, para lembrar, para renovar argumentos e razões será a primeira que se levantará, quando chegar a oportunidade, para exprimir o sincero reconhecimento de todos quantos desejam ver a ilha da Madeira valorizada, como terra de turismo de recursos e possibilidades excepcionais, que não são só do património da ilha, mas que constituem património e verdadeira riqueza da Nação. Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem !
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Nunes Barata: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: no passado dia 29 de Novembro proferiu a sua «última lição», na Universidade de Coimbra, o Prof. Doutor D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
O profundo significado desta ocorrência, a que o altíssimo mérito do Prof. Gonçalves Cerejeira emprestou excepcional brilho, merece, em meu entender, assinalada referência nesta Câmara.
Ouso levantar a minha frágil voz para deste local me associar às homenagens prestadas a quem tem sido sábio entre os mestres e virtuoso entre os justos, na convicção de que todos os membros desta Assembleia Nacional comungam nos mesmos sentimentos, na respeitosa estima e veemente admiração, por um dos mais insignes entre os varões ilustres de Portugal.
Para mim, Deputado por Coimbra, cidade onde o Prof. Gonçalves Cerejeira consumiu vinte anos de labor intenso e radioso e profícuo; para mim, antigo estudante de Coimbra, há pouco chegado à vida activa, mas desde sempre, beneficiário de um ambiente de paz e renovação cristãs que o sacrifício da geração do Mestre que agora dobra os 70 anos ajudou a conquistar; para mim filho indigno da Igreja Madre, que resplandece suas glórias na púrpura dos eleitos, constitui comovido regozijo ver celebrado um homem notável pela doutrina, piedade e prudência.
Recordo as palavras que ele próprio proferiu, vai para quarenta unos:
Há cultos que honram não só quem os recebe, mas também quem os presta. Celebrar o talento e o saber é no fim de contas, um acto de fé no valor do Espírito.
Sr. Presidente: quando, há dias. o cardeal Cerejeira transpôs a Porta Férrea da velha Universidade, por certo que lhe vieram à mente evocações sugestivas de um passado construído em harmoniosa beleza, na projecção quotidiana de formosas imagens, todas feitas de generosos anseios.
Recolhamos-nos nós, um momento, sobre esse passado e no depoimento de páginas da época colhamos a certeza de que essa geração coimbrã teve rapazes que, devotados a Deus e à Pátria, confessaram orgulhosos a crença de seus pis, doaram-se incondicionalmente a tudo o que era bom, grande e belo, souberam amar, lutar e se preciso, morrer, deram, enfim, testemunho «de um incêndio infinito de sublimes ideais»,
Aos que discordarem deste convite á leitura das folhas amarelecidas pelo tempo gostaria de recordar as palavras de outro mestre estremecido em Coimbra - o Prof. Doutor D. Manuel Trindade Salgueiro:
Os escritos do passado ressuscitados para o público pela devoção de fervoroso admiradores, valerão sempre como documentário precioso. Por eles se descobrem os longos caminhos percorridos por nobres espíritos, na sua laboriosa evolução intelectual o moral, o florescimento e a frutificação do talento e da virtude, e as qualidades mestras que, no futuro, vieram a tomar formas definitivas e vitoriosas.