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66 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 65

diminuído pela manutenção do estado do saúde ou de doença.
Uma e outra são factores básicos de influência decisiva na vida económica e social da população, facto que os economistas no estudo das suas incidências colocam no mais alto lugar pela sua rentabilidade. Impunha-se, pois, a criação do Ministério da Saúde, que marca na vida médica do País o dealbar de um novo período, em que o sacrifício, a inquietação e o desengano se substituem por um clarão da ansiada esperança.
De facto, o fosso que se desenhava e poderia revestir aspectos de lamentável gravidade sumiu-se, para dar lugar a um espírito de indispensável compreensão e útil colaboração, que os médicos nunca negaram, mas do qual eram afastados, num acto de verdadeira e bem patente injustiça. Nunca a classe se negou a trabalhar devidamente pela causa da saúde do povo português, como necessidade pública indispensável à vida, ao bem comum e ao império da justiça social, que a humanidade espera ver um dia realizada.
Acima de tudo, o cumprimento do dever era, e continuará a ser sua divisa.
Mas perante a classe iam-se esquecendo aquelas liberdades que são sua pertença, que lhe são próprias, no uso das quais assenta inteiramente a base das suas plenamente justificadas exigências. Pelo Ministério da Saúde vão certamente efectuar-se largas reformas, para as quais foi já pedida a nossa colaboração, colaboração que não podíamos negar, tal é a soma de problemas exigindo o parecer da nossa Ordem. Negá-la seria atraiçoar a nossa missão, esquecendo a alta consideração e o respeito que bem merecidamente devemos ao Sr. Ministro da Saúde e Assistência, pelo valor e vontade já demonstrados, como personalidade detentora de um espírito que se tem afirmado eloquentemente em todas as suas manifestações perante a classe médica, possuindo em larga medida envergadura e coragem para a realização de uma obra a que se vem dedicando com o maior interesse e a que nós, médicos, damos inteiro apoio e franca colaboração.
Sr. Presidente: posto que o Estado haja realizado uma notável obra de assistência médico-social, despendendo vultosas quantias - alguns milhões de contos - na construção de hospitais, sanatórios, dispensários e tantos outros empreendimentos destinados ao mesmo fim, obra a que sempre tenho patenteado, como é de inteira justiça, o mais sincero e caloroso louvor, manda a verdade dizer que para a sua realização esqueceu quase sempre o seu melhor colaborador, o médico, obreiro esforçado e sacrificado no combate permanente contra a doença, vivendo intensamente a vida hospitalar, lutando pelo bem da humanidade no alívio da dor e do sofrimento, jamais se afastando daquele sentimento que o guia e a que cegamente obedece, quer por educação, quer até por instinto.
Medidas e providências de grande amplitude e projecção se impõe na hora que passa: no respeito pela ética profissional ditada pelo estatuto que nos rege e na compensação justamente remuneradora dada ao trabalho daqueles que nunca perderam o assentimento de caridade inerente à profissão que querem exercer com toda a independência.
Esquecemos agravos, ingratidões, injustiças, na tentativa de um aviltamento de
Classe, que repudiamos, exigindo o reconhecimento de direitos a todos quantos praticamos a nobilíssima arte de curar, dentro do maior respeito pela dignidade humana. Nunca os médicos faltaram ao integral cumprimento das suas obrigações, mas querem e exigem o reconhecimento dos seus direitos.
O relatório que a Ordem dos Médicos apresentou ao sr. Presidente do conselho, pelo seu ilustre bastonário, é documento claro no seu conteúdo, demonstrando com toda a eloquência da verdade a situação angustiosa da classe, assoberbada com a responsabilidade do seu intenso labor profissional, mas esquecida e diminuída na sua vida social, relegando-a para um plano de insuficiência e inferioridade, que não se coaduna com o nível que lhe é exigido e lhe é inteiramente devido.
Sr. Presidente: por formação profissional e ainda por um sentimento inerente ao meu próprio carácter e ao meio onde o meu espírito evoluiu e se preparou para a vida, os problemas da saúde e os problemas da educação e ensino despertam em mim, desde os tempos longínquos de uma mocidade distante, o maior interesse e a melhor atenção. Problemas de saúde, de formação profissional e técnica, de intensa conjugação com a elevação do nível intelectual e moral do povo português, têm sido motivo da minha tão humilde como despretensiosa acção nesta Assembleia, tratando-os dentro da apertada limitação da minha experiência e do meu saber.
Estes problemas revestem no distrito que aqui represento - o Porto - uma especial acuidade, uma notável importância, tornando-se objecto de justificadas atenções e motivo de constantes e sentidas inquietações.
É o Porto - todos o reconhecem - uma grande metrópole comercial e industrial, extraordinariamente movimentada e progressiva, aspirando cada vez, com maior energia e vontade, ao seu engrandecimento, na tarefa intensamente realizadora o construtiva a que com afinco se dedicam os seus habitantes. Mas é também, e acima de tudo, uma grande urbe, onde frutificam e vicejam as mais altas virtudes humanas, no topo das quais refulge, em todo o seu esplendor e beleza, a acção e o sentimento cristão da caridade. E não há obra de reconhecida benemerência lançada no seu meio que não seja carinhosamente aceite e levada à sua finalidade, quando se demonstre a necessidade da sua vida, da sua existência.
A assistência hospitalar no Porto tem vindo a ser feita através dos séculos pela própria ciciado, pelas suas actividades, pela iniciativa particular dos seus habitantes. Os institutos assistenciais, as várias ordens, multiplicam-se, vivendo do esforço colectivo da sua gente, sempre disposta, sem enfado e sem sacrifício aparente, a dar protecção e amparo a todos aqueles que deles precisam.
A rainha D. Leonor, pioneira dessa grande virtude que é a caridade, desse nobre sentimento, fonte de carinho, amparo para todos quantos dele necessitam, legou à cidade do Porto essa virtude nobilitante, de sagrado exercício, que a sua alma infinitamente bondosa e para recebeu magnificamente da omnipotência divina.
A obra das Misericórdias é a sua eterna e refulgente, coroa de glória e a Santa Casa da Misericórdia do Porto é, através dos séculos, a mais magnificente instituição de caridade que Portugal possui. Desdobra-se em múltiplas actividades, praticando todas elas a caridade nos seus mais variados aspectos, nas suas mais diversas modalidades.
Pode bem dizer-se que o Estado não teve durante um largo período de tempo necessidade do dedicar à assistência da velha cidade atenção especial, porque o Porto, com a sua comprovada generosidade, não olhando a sacrifícios, desprezando interessou materiais, com altivez e orgulho, soube sempre bastar-se a si pró-