26 DE FEVEREIRO DE 1959 233
caros, excede em muito a eficiência de quadros baratos mas que não produzam.
Para que a nova instituição conquiste alto prestigio em poucos anos, interessa que encare com espirito objectivo e prático os múltiplos problemas e que as estruturas e os programas de investigação aplicados às indústrias correspondam verdadeiramente às suas necessidades e às da Nação, em que aquelas se integram.
Os temas de trabalho de interesse prático em que se veja um beneficio para a economia nacional e que sirvam insofismavelmente o Pais prestigiarão o Instituto e criar-lhe-ão autoridade. O seu papel na economia nacional será dia a dia mais importante.
Irá o Instituto Nacional de Investigação Industrial coordenar as actividades de vários dos nossos centros de investigação; sem esquecer o que existe e sem pretender fazer tudo de novo, evitará duplicações de equipamento, de temas de estudo, de esforços individuais, orientando-os de harmonia com os superiores interesses da economia nacional.
A coordenação geral dos esforços de investigação aplicada requer um conhecimento profundo da tecnologia industrial e uma apreciação muito lata dos problemas, das tendências e dos caminhos proveitosos às actividades industriais, profundidade de conhecimentos, a que se chegará com a experiência em íntima ligação com as actividades industriais e com os problemas práticos que lhe dizem respeito, profundidade de conhecimentos que levará a uma mútua compreensão e respeito e à criação de aberto, leal e interessado espirito de colaboração, para que todo o trabalho realizado nos diversos departamentos convirja para o mesmo objectivo.
Uma coordenação com vistas largas e sem asfixia ou supressão de iniciativas de vários centros portugueses de investigação dispersos promoverá e aperfeiçoará a cooperação entre centros de investigação e empresas afins e estreitará as relações entre a ciência e a indústria.
A larga divulgação e utilização dos resultados conseguidos pelas equipas de trabalho do Instituto fará dele um foco de irradiação e tornará a instituição conhecida e prestigiada; embora já se actue entre nós com certa eficiência na divulgação dos trabalhos dos nossos centros de investigação, convirá alargar e beneficiar essa divulgação, para tornar mais proveitosos e de mais fácil apreensão os elementos publicados.
A investigação cientifica é a força mais importante e mais dinâmica que está mudando a face da Terra.
Nos Estados Unidos da América a despesa anual com a investigação de todos os tipos aumentou bruscamente de menos de 1 bilião de dólares antes da última guerra para mais de 10 biliões em 1957, ano em que só na investigação industrial despenderam mais de 7 biliões de dólares.
Há todo o interesse em que a política fiscal do Governo oriente os investimentos para a investigação. Com essa finalidade, deveriam ser isentas de impostos as importâncias a gastai- na investigação pura e aplicada, quer pelos industriais, quer pelos particulares que se disponham contribuir com doações ou legados para o progresso cientifico e económico dê Portugal.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:- Alguns países, para estimular a investigação, reduzem a taxa de imposto sobre os rendimentos resultantes de inventos industriais de manifesto interesse público.
A política fiscal do Governo deve estimular um crescimento das despesas na investigação e facilitar a formação de capitais, para que sejam postos em prática os resultados dessa investigação.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:- A criação do Instituto Nacional de Investigação Industrial, pela alta importância e vincada projecção que virá a ter no nosso desenvolvimento industrial, ficará como padrão de glória de uma época, marca um gigantesco passo em frente no caminho seguro para o nosso progresso.
Tento dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Belchior da Costa: - Sr. Presidente: creio não ser aqui descabida uma palavra a sublinhar um acontecimento do maior interesse e da mais alta importância para as populações a que diz respeito, especialmente pura a lavoura das províncias de Entre Douro e Minho, a que pertencem alguns concelhos do norte do meu distrito e, nomeadamente, o meu próprio.
Quero referir-me, Sr. Presidente, à recente entrada em vigor do novo serviço de abastecimento de leite à cidade do Porto e concelhos vizinhos, da iniciativa dos grémios da- lavoura das zonas naturalmente interessadas nesse serviço, através da Federação dos Grémios da Lavoura de Entre Douro e Minho, conforme foi oportunamente anunciado e tornado público pela imprensa e demais órgãos de informação.
Vigora esse novo serviço de abastecimento apenas desde o dia 1 deste mês; e, apesar do pouco tempo decorrido, apesar de durar apenas há escassos dias, pode, no entanto, afirmar-se que já constitui um êxito.
Êxito para o Governo, que oportunamente publicou as medidas legislativas convenientes e necessárias a possibilitar a adopção do sistema e a sua entrada em funcionamento.
Êxito também para os serviços, que, desde a primeira hora, incentivaram e acompanharam o desenvolvimento progressivo dos esforços da produção em ordem ao estabelecimento definitivo da nova modalidade.
Êxito ainda para ã lavoura, que por essa forma vê realizada uma das suas mais antigas aspirações, qual seja a de eliminar intermediários que lhe sugam uma apreciável parte do seu trabalho e do seu lucro, ao mesmo tempo que vê valorizado e prestigiado um produto sobre que fundara, até então baldadamente, legítimas esperanças - o leite.
Êxito, finalmente, para as populações consumidoras de leite em natureza, nomeadamente para a população da. cidade do Porto e concelhos urbanos vizinhos, pela notável melhoria de condições de higiene e de salubridade, se não mesmo de preço, em que actualmente é feito o abastecimento e o fornecimento do leite para consumo público.
Seguramente, este último sucesso não é dos que devem ser menos encarecidos.
Sabe-se, com efeito, em que precárias condições de higiene e salubridade era, na sua generalidade, fornecido o leite & cidade do Porto e aglomerados urbanos vizinhos e como ainda hoje o é em vastas regiões do País.
Com excepção do leite fornecido em recipientes apropriados por algumas empresas de lacticínios, todo o restante leite consumido na cidade e concelhos limítrofes, porventura puro na sua origem, estava continuamente sujeito a todas as viciações, por vezes, com certeza, às mais grosseiras fraudes e sempre à absoluta carência de cuidados de tratamento e de higienização, constituindo, por isso mesmo, um permanente atentado contra a saúde dos consumidores.
Transportado este leite dessa sua origem em bilhas ou canados totalmente violáveis, e, por certo, muitas vezes violados, e depois desde improvisados postos de con-