O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE FEVEREIRO DE 1959 245

mostram, mais; que o pequeno aumento de exportação que se vinha desenhando a partir de 1952 desapareceu e transformou-se de 1956 para 1958 numa baixa muito sensível - mais de 10 por cento; isto é, quando se esperava que a exportação continuasse a aumentar, sobrevêm uma baixa que anula o lento progresso das exportações que se vinha desenhando nestes últimos anos. Este facto provocou, como era natural, um certo desequilíbrio económico e mal-estar em todo o sector do vinho do Porto. A que se deverá atribuir o actual declínio de exportação do nosso primeiro vinho e quais as causas que lhe não permitiram retomar nos mercados externos a posição que ocupara antes da última guerra? Parece-me que o Sr. Secretário de Estado do Comércio respondeu lapidarmente a estas perguntas no seu memorável despacho de 2 de Outubro do ano findo, de que transcrevo as seguintes palavras:

O nosso comercio de exportação, de uma maneira geral, não revelou capacidade técnica e financeira para a conquista dos novos mercados.

Acrescentou ainda:

O comércio de exportação patenteou a sua fraqueza e incapacidade técnica, pois, em vez de todos se unirem para a conquista dos mercados, escolheram o caminho de se guerrearem entre si.

Mais adiante ainda acrescentou:

O Fundo de Fomento de Exportação vai ser reposto no plano em que foi colocado quando da sua criação, isto é, apoio financeiro de uma decidida política de exportação, mas sem funções orientadoras.

Sintetizando: o nosso feitio individualista não tem permitido que os exportadores se unam numa frente comum para a conquista dos mercados. Antes, pelo contrário, como muito bem disse o Sr. Secretário de Estado, digladiam-se numa feroz concorrência, desorientando os compradores. Torna-se portanto necessário, para a expansão da nossa exportação do vinho do Porto, que esse estado de coisas se modifique.
Uma outra causa a que se tem atribuído o declínio da nossa exportação do vinho do Porto é de não termos sabido acompanhar a evolução e o gosto dos mercados. Se é essa a cansa, fácil será remediá-la, pois o nosso vinho do Porto, como tantas, vezes se tem dito, não é um tipo de vinho, mas sim um produto regional nascido e criado na região demarcada do Douro e amadurecido em Gaia.

O Sr. Costa Ramalho: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador:- Faz favor.

O Sr. Costa Ramalho: - Nada sei de vinhos e ainda menos de vinho do Porto. Todavia, quando frequentei a Universidade de Oxford, de 1947 a 1949, nos drinking-parties que os rapazes lá celebravam só era conhecido o xerez, e que lá se chama sherry. Vinho do Porto ninguém o bebia, porque o pouco que lá se encontrava era mau e muito caro. Inversamente, o sherry, mais barato, era vinho de excelente qualidade...

O Orador:- Como tal, a gama de tipos de vinho do Porto é muito extensa, desde o extra-seco ao muito doce, do tinto ao branco, passando por uma variedade grande de matizes, e, finalmente, com graduações alcoólicas muito variadas. De comum todos têm o mesmo maravilhoso aroma, que o envelhecimento acentua e que levou a denominá-lo, em tempos passados, vinho de cheiro.
A sua longa e secular história provou que ele se soube adaptar à evolução dos mercados. Assim, de semidoce passou a seco e depois a doce. A sua graduação alcoólica, assim como a sua cor, também sofreram, no decorrer dós tempos, evolução marcada. Nestas condições, com uma marca regional com estas potencialidades e que, portanto, pode apresentar uma tão grande variedade de tipos, não me parece difícil acompanhar a evolução dos mercados.
O que se imporá então fazer para arrancar á exportação do vinho do Porto da posição em que hoje se encontra e fazê-la retomar a situação que ocupava antes da última guerra e em seguida fazer com que ela progrida, de acordo com o aumento do nível de vida verificado em todo o mundo civilizado?
Parece-me que um comércio de exportação fortemente unido e capaz, bem disciplinado, auxiliado por uma propaganda intensa e permanente muito bem orientada, poderá vencer a crise em que nos encontramos. Fundos para a propaganda não devem faltar, se o Fundo de Fomento de Exportação desempenhar a missão para que foi criado.

O Sr. Dias Rosas: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador:- Se faz favor.

O Sr. Dias Rosas: - Eu permitia-me perguntar a V. Ex.ª se conhece as diligências que o Governo tem procurado levar a efeito relativamente a solução deste problema.

O Orador:- Conheço algumas. Nesta Assembleia há três ou quatro anos foi abordada aqui a necessidade de se fazer a campanha do vinho do Porto.

O Sr. Carlos Moreira: - Há quinze anos ou mais. Eu próprio já aqui levantei o problema várias vezes.

O Sr. Dias Rosas: - Eu pedia apenas concretamente a V. Ex.ª que me dissesse se pode responder à pergunta que fiz: V. Ex.ª conhece as diligências feitas pelo Governo e pelo Fundo de Fomento de Exportação ?

O Orador:- Posso dizer a V. Ex.ª que o Governo tem várias questões que lhe foram sugeridas, nomeadamente a necessidade de realizar propaganda na América.

O Sr. Dias Rosas: - Nesse aspecto da propaganda é larga o vem de longe a parte que sempre tem cabido no vinho do Porto no conjunto das campanhas que o Fundo de Fomento de Exportação tem financiado. E quanto à propaganda na América em especial, sabe certamente V. Ex.ª muito bem que se continua a aguardar que o comércio exportador queira organizar-se com eficiência para enfrentar um mercado com a extensão daquele.
Sem que este esforço de organização, que cabe fundamentalmente à actividade comercial, se realize não vale a pena pensar ha penetração eficaz dos mercados através de propagandas que não podem estribar-se depois no fluxo comercial da exportação com o devido poder de negociação.

O Orador:- Se V. Ex.ª me dá licença, direi que conheço os assuntos a que V. Ex.ª se referiu; mós, como V. Ex.ª os apresentou, talvez pudesse haver uma pequena dúvida ou engano.
Conheço os esforços do Governo nesse sentido. Deveriam ter sido feitos sob uma certa reacção da parte do comércio perante essa necessidade de realizar a propa-