O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

740 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 108

para, de algum modo, poderem dar alento a esta obra sinistra de perturbação e desnorteamento.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Não há o direito de correr o risco de aviltar os louros e as glórias, muitas vezes bem ganhos, nos altos domínios do pensamento, da erudição, da arte ou da ciência, usando-os de maneira que pareçam conspurcar-se no mar revolto das paixões de baixa política.
A missão do intelectual é servir ideias e dominar paixões, não é pôr as ideias ao serviço das paixões.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A grandeza do intelectual, na hora de confusão dos espíritos, é resistir, esclarecer e orientar, não é, de algum modo, parecer que mistura a sua voz ao tumulto dos demagogos e dos agitadores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E dever s glória da inteligência manter-se sobranceira aos ódios, permanecer serena e lúcida, nas horas de desvairamento e de exaltação.
Só assim honra e prestigia a sua alta realeza. Só assim é fiel à sua grande missão.
O contrário é verdadeiramente a degradação do espírito, a profanação da cultura, a prostituição da inteligência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que os agitadores deixem em paz o País, que moureja e trabalha.
E, neste grave passo da história, ao Estado incumbe imperativamente, mais do que nunca: prosseguir, e ainda se possível com mais afã, Jia grande obra de renovação e engrandecimento; rectificar desvios e emendar erros.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Integrando-se cada vez mais na pureza da nossa doutrina política. ^

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estar vigilante e firme, frente à desordem, confiando sempre os postos de orientação e de comando a homens de boa formação ideológica, consciência limpa, ânimo forte e mão segura e rija.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Cuidar a sério da formação da mocidade - penhor do futuro, garantia de projecção e continuidade do nosso esforço renovador; cuidar, também a sério, da informação e formação da opinião pública.
E à Nação incumbe olhar seriamente a gravidade desta hora e, também mais do que nunca, reafirmar a excelência e a fé na nossa doutrina; proclamar bem alto a imponência da nossa obra e o nosso propósito inquebrantável de prosseguir o que para- nós não é apenas continuar, é subir mais alto no afã incontido de criar, na ânsia insaciável de mais e de melhor; manter e apertar, ainda mais, a nossa unidade, condição decisiva de salvação e de continuidade; intensificar, cada vez mais, a nossa combatividade e a nossa acção.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente:- Vai passar-se á

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei relativa ao plano director do desenvolvimento urbanístico da região de Lisboa.
Tem a palavra o Sr. Deputado Vasques Tenreiro.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Sr. Presidente: está em discussão a proposta de lei n.º 14, referente ao plano director do desenvolvimento urbanístico da região de Lisboa. Trata-se de um projecto grandioso; as considerações que acerca do mesmo se façam não hão-de passar de simples estímulos a sua realização plena e o mais de harmonia com as concepções da técnica moderna e as necessidades das gentes.
Um projecto grandioso e complexo que vem de encontro a problemas reais, isto apesar de a consciência me dizer que há muito se fazia esperar. Mas, como vale mais tarde que nunca, chegou o momento de nos dedicarmos à tarefa melindrosa da arrumação de uma parcela da terra portuguesa; estão em jogo os destinos de uma grande aglomeração, como o futuro daqueles que vivem ou procuram na cidade e sua esfera de influência uma vida ainda mais sã e feliz.
As minhas considerações, Sr. Presidente, terão por fundo o minucioso parecer da Câmara Corporativa, uma vez que o projecto de lei se mostra demasiado conciso na apresentação de problema tão complexo. Pouco acrescentando àquele excelente relatório, procurarei tratar o tema sob um novo ângulo de visão, que é de meu jeito e gosto: o geográfico.
Quem tenha viajado da sua aldeia para uma cidade ou, vivendo nesta, percorrido o campo do seu país, tem imagens concretas acerca do que é um aglomerado urbano. E, em primeiro lugar, um grande conjunto de casas de vários andares, ligadas entre si e que se alinham em ruas ou se abrem em largos; um local de muitas gentes, onde as pessoas só se conhecem em círculos fechados de vizinhança, como os membros de uma habitação colectiva, de um pequeno bairro, de antigo e modesto clube desportivo, de uma mesa de café onde se discute arte e sempre política, de uma associação comercial, de um escritório ou repartição publica, etc.
Sempre que grandes acontecimentos públicos se realizam (uma parada, um desafio de futebol, uma sessão cinematográfica ou reunião política) são mais os indivíduos que se não conhecem do que aqueles que se conhecem; a cidade é ainda centro de comércio intensivo, de política directiva, de alta finança, de indústria de uma ou várias destas funções, onde os mais ambiciosos se batem por todas as oportunidades; é centro de diversão para uns e para alguns de perdição - aí os laços familiares parecem mais frouxos, as mulheres tomam-se independentes, os vícios imperam.
A cidade opõe-se, portanto, ao campo, pela extensão (muita gente vivendo num espaço exíguo), pelo aspecto, frouxidão dos laços familiares e relações de vizinhança, altas oportunidades e frequência de desvios dos padrões morais.
A cidade é, em linguagem corrente, progresso ou retrocesso e o campo rotina ou tradição salutar. E assim que pensa o homem comum, foi assim, sentimentalmente, que Eça de Queirós julgou a cidade e as serras ...
As características de uma cidade incluem duas ordens definidas de factos: os que resultaram da implantação do aglomerado em função de um local, que lhe 'imprime a forma e o traçado, e os que advêm das vicis-