816 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 111
África e da América do Sul, de partidos comunistas poderosas capazes de conquistar o poder e, simultaneamente, fomentar revoltas nos territórios colonizados em apoio intenso aos partidos nacionalistas, mesmo burgueses, que reclamam a independência.
Não há nada de novo nesta política que Estaline tinha fixado no alinhamento da sua doutrina, traduzida em pensamento de realização completa - que era, aliás, o seu programa - da maneira seguinte: a exploração dos territórios coloniais deu aos países ocidentais numerosas vantagens, permitindo-lhes aumentar o nível de vida dos seus operários, dar-lhes conforto e facilitar-lhes uma cultura de burgueses; se o Mundo Ocidental for privado do benefício das suas colónias, são reduzidas as vantagens do capitalismo, abaixado o nível de vida das massas operárias, e, consequentemente, serão facilitadas as fundações de um movimento revolucionário; sendo de realização difícil, se não impossível, o ataque directo, sob forma militar, contra a Europa, convirá tentar a execução por uma manobra envolvente através da Ásia e da África. Certo que são directivas enunciadas no passado, mas elas conservam o significado da actualidade e correspondem à programação da manobra de envolvimento que está em curso ao longo da terra africana.
A mudança do comando não alterou os traços gerais da manobra; Khrustchev assegura o prolongamento do programa e esquematiza as suas directrizes segundo uma ordem determinada, rigorosamente concretizada por demonstrações de realidades:
Desenvolvimento ao máximo da infiltração comunista em todas as regiões da África;
Cooperação intensa de todas as organizações comunistas existentes com as manifestações provocadas que ensaiam plano de independência;
Apoio completo a todos os movimentos revolucionários, independentemente da sua natureza ou aspecto, ainda que sejam baseados no fanatismo religioso.
A responsabilidade de condução de tão volumosa tarefa foi atribuída a Suslov, que estabeleceu plano de execução conveniente, fundamentado em certos trabalhos que se escalonam pelas fases da preparação e da realização.
Procedeu, primeiramente, à criação de escolas de treino para agitadores e instrutores, que são recrutados em todas as regiões de África, tanto nos territórios franceses, como nos belgas, ingleses e portugueses, e que são submetidos a uma preparação intensa, que se apoia na guerra psicológica e na exploração profunda dos relatos das numerosas e variadas intervenções realizadas no desenvolvimento do plano; regressados ao seu meio, estes, elementos são investidos na responsabilidade de uma missão que tomara no mais alto sentido de obrigatoriedade e fixam em pleno significado do dever: procuram ocupar determinadas posições de evidência no seio das administrações e das assembleias políticos ocidentais e interessam-se por criar situações vantajosas para empreendimentos futuros; devem ensaiar e praticar as modalidades de apoio a todos os movimentos de independência, às manifestações de racismo ou às expressões de sentimentos populares que criem o ódio pelos brancos, auxiliando e colaborando nas exibições de slogans simples, como «África para os africanos», «Fora com os estrangeiros», «Restituam a terra», «Justiça para os negros» ou «Igualdade total com os brancos», cuja prática representa sucesso garantido e efeito assegurado sobre as massas de fraco espírito crítico que procuram influir na consciência da sua pobreza e iludir com esperança de um futuro melhor realizado pelo comunismo, que poderá significar, em tempo, a idade do ouro.
Juntamente com estes orientadores são enviados exploradores, rigorosamente treinados e devidamente integrados na missão de estabelecer, a coberto de expedições científicas, redes de informações e de recrutar espiões; são especialistas de toda a ordem que tanto realizam a infiltração pacífica como promovem movimentos revolucionários em esquema organizado de guerrilhas, que eles conhecem perfeitamente.
Resultados tão volumosos como extensos talvez tenham surpreendido os próprios condutores desta vasta manobra. A evolução foi rápida e a transformação é profunda. Debruçados sobre a carta de África, na execução do exame minucioso e cuidado sobre os horizontes variados e referido às coordenadas de tão vasta como imprecisa extensão do conjunto euro-ásio-africano, que Mackynder denominou «ilha mundial», o espírito cauteloso e ponderado reconhece e evidencia, certamente, interesse especial pela referenciação dos numerosos e variados movimentos identificados naquela parcela do conjunto.
A África do Norte foi organizada segundo novos esquemas, estabelecidos em princípios já referidos em trabalho anterior, mas não conseguiu realizar o objectivo fixado, vem alcançar a harmonia que se impunha; distribuída por várias nações independentes de formação recente, aquelas terras transitaram da influência de orientação dos povos europeus civilizadores para uma determinação própria que se ensaia em processos difíceis e arriscados; somente a Argélia se conservou, por decisão própria, integrada na comunidade francesa, ainda que a acção característica e manifesta do sentido comunista insista em fomentar atritos e em organizar resistência porfiada que se reveste de todos os aspectos de violência e ferocidade.
No outro extremo da África, precisamente na vizinhança do cabo da Boa Esperança, cuja empresa de transposição significou página brilhante da história pátria, manifesta-se, um princípio de agitação permanente, que tanto reveste formas de luta no plano de racismo, como adquire aspectos de choques de correntes políticas no sistema do governo local.
A actividade principal localiza-se, porém, nas terras de África situados entre os desertos; está empenhada numa luta permanente pela posse da África negra.
A batalha começou e as operações têm desenvolvimento em ritmo acelerado, sendo certo que a vantagem se decidiu a favor do comunismo nesta corrida pela posse do envolvente exterior que Mackynder definiu como última linha de objectivos para a segurança do estado-fulcro que a sua teoria esclarecida identifica com a posição geográfica e com a situação de domínio da Rússia.
Efectivamente, no desenvolvimento da acção conduzida pelo comunismo, que se concretiza pelo planeamento cuidado e pela realização vigorosa, a estrutura política de África foi completamente transformada, sofrendo translação larga e valiosa para benefício do movimento agitador: a Guiné Francesa decidiu assumir a responsabilidade da sua orientação política, tal como decidiram os territórios do Daomé, o Togo, os Camarões, a República do Congo e, de certo modo, Madagáscar, na outra costa africana; o facto origina uma situação de extrema delicadeza para os interesses nacionais, no âmbito do organismo superior das Nações Unidas, onde o número das unidades membros decide o resultado da decisão de qualquer problema que for confiado a pensamento devido à contagem da uma votação.
A admissão ultimamente autorizada de mais uns tantos estados membros compromete o equilíbrio que era