12 DE JUNHO DE 1959 925
concedida para efeito da ocasião, mas de perene actualidade, pelo saudoso Prof. Fezas Vital, inteligência rasgada e subtil, coração de ouro, têmpera de aço em corpo infelizmente frágil.
Comentando a Constituição política vigente dizia então aquele sábio mestre de Direito Público e que antes fora presidente da Câmara Corporativa:
Ora a verdade ó que a crise política nacional - tenho-o dito várias vezes.- só nas instituições, tradicionais devidamente adaptadas aos tempos de hoje encontrará solução definitiva. As restantes serão sempre provisórias ou de emergência, serão paliativos cuja periculosidade dia a dia se agrava.
Nesta singela fórmula se acha encerrado o essencial do problema que preocupa a todos os portugueses, cônscios dos riscos nele implícitos; problema que, quase a prazo certo, como dito foi, volta à cena para ver se ó possível dar-se-lhe solução melhor, tal como doente acamado mudando constantemente de posição à cata daquela que lhe traga alivio.
Os comentários, quanto à generalidade da proposta de então, foram sobremaneira glosas largamente fundamentadas e sempre convergentes àquela conclusão tão simples e lúcida. Só posso aconselhar aos que me escutam a leitura dos textos desses discursos no referido folheto, em vez de recorrer à dispersão das Actas.
À face do acontecido como aquelas verdades ganham relevo de luz rasante!
Não altera a nova projectada fornia de eleição - de directa e universal para indirecta e restrita - a matéria de fundo posta: mais um daqueles paliativos de que falava o professor Vital.
Os comentários dos Deputados de hoje, que o foram de então, e bem assim os daqueles a quem assiste igual critério, só vêm continuando a glosar com reforçada amplitude o convincente dictamen.
É também o que me proponho fazer, embora em termos limitados, atendendo às sábias orações proferidas por alguns dos Srs. Deputados que mo precederam, nomeadamente os Drs. Cancella de Abreu, Cortês Pinto e Abranches Soveral; com larga proficiência esmiuçaram já o assunto em convergente rumo de ideias. Perfilho no essencial das suas considerações; evitarei quanto possível repeti-las, e antes preferirei destacar outras facetas que me ocorreram, também ilustrativas desta inesgotável matéria.
Sr. Presidente: antes, porém, de me aventurar no fundo da generalidade em discussão penso tenha por dever de consciência definir perante vós, Srs. Deputados, como quem se confessa alto, os rumos e razoes do meu pensamento e comportamento político.
Isso o devo à geração a que pertenço, geração que tão decisiva quão desinteressadamente contribuiu para o influxo das ideias-força dos novos destinos da Pátria.
Ainda bem que, entre outros, o Sr. Deputado Proença Duarte a este propósito aqui soube fazer justiça, há dias, ao movimento do Integralismo Lusitano, que, quando jovem, como disse, muito influiu no seu espirito.
Segundo a chave dessa doutrina, a Pátria Portuguesa tem de constituir, na ordem das coisas temporais, o valor essencial que nos empolga e a que nos submetemos.
Nesta ordem de valores sou primeiro um nacionalista que tende pelo raciocínio subordinadamente à monarquia como o ferro ao íman. Franquista quando estudante, fiz parte, após o regicídio, dos corpos dirigentes do Centro Monárquico Académico - o Dr. Cancella de Abreu pode testemunhá-lo. Companheiro em Campolide do Dr. Pequito Rebelo, condiscípulo em Coimbra de António Sardinha, de Hipólito Raposo, de Monsaraz, acompanhei quase de inicio o Integralismo.
As circunstancias anárquicas do tempo, de que quis perscrutar as causas, conduziram-me ao estudo de certas influências políticas clandestinas, difusamente internacionalizadas, que tiveram de longe larga responsabilidade da acção subversiva desencadeada dentro dos quadros nacionais. A agitação portuguesa - carbonários, anticlericalismo maçónico, regicídio, revolução republicana - nelas mergulhavam as raízes e lhes bebiam a seiva. De igual sorte as contemporâneas revoluções na Turquia, na Catalunha, na China. Daí sobe-se genealògicamente pelos antecedentes até à Revolução Francesa. Taine, completado pelos trabalhos decisivos de Augustin Cochim, viera justificar com dados decisivos em relação a ela as teses da conspiração, de aparência abraca-dabrante, desenvolvidas por Barruel e outros, seus contemporâneos, surgiram em sequência as internacionais: o mazinismo, o socialismo, comunista com Marx e anarquista com Bacunine.
A primeira guerra mundial e a subsequente revolução soviética vieram evidenciar perturbante aproximação dos respectivos princípios comunistas com as doutrinas da seita dos simulados, alemães do ultimo quartel do século XVIII, acusada já de infiltrações na Maçonaria e nos clubes revolucionários franceses de 1789. Lembre-nos Babeuf. Todo este panorama subterrâneo, ou de bastidores, não pode deixar de imprimir a quem o vislumbre particular maneira de encarar a política.
Desse visionismo passei a sofrer desde então. Sobre a vastíssima matéria cheguei a publicar o sucinto apanhado introdutório: «Unidade e pensamento mundial».
Ainda bem - e cumpre não esquecê-lo - para nós católicos a análise desses problemas não noa deve conduzir às portas do desânimo e da renúncia, temos por nós, compensadoras, as forças de Cristo e da sua Igreja: La seule Internationale gui tienne, na feliz expressão maurrasiana.
Regressemos ao actual.
O Sr. Presidente do Conselho no seu último luminoso discurso -e reconfortante pelo animo sereno, mas decidido, com que se mostra disposto a enfrentar os perigos - põe em relevo a acção mundialmente coordenada das forças ocultas de subversão, demonstrada pela simultaneidade do lançamento de idênticos slogans que possam servir os seus desígnios nos mais distantes e imprevistos pontos do globo.
A observação desta orquestração foi também inteiramente bem perceptível cá dentro, na recente campanha de boatos, a correr iguais de lês a lês do Pais, como o salientou o Sr. Ministro da Presidência na impressionante reactivação de fé nacional que significou há dias o banquete no Porto.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Ainda bem que conclusões destas se acham radicadas no espirito dos que têm o duro ofício da responsabilidade do Governo.
O Sr. Presidente do Conselho, no mesmo discurso, pôs em relevo os perigos revolucionários que nos ameaçam, já como ocupantes de parte da Península Ibérica, já como participantes na ocupação da África - através do nosso ultramar.
Na estratégia moscovita de guerra fria - por enquanto apenas fria só também por estratégia- constituímos alvo da maior importância.
Particularmente desde 1930, com a proclamação da República Espanhola - infiltração comunista subsequente o a guerra civil-, pela convicção radicada pela análise dos factos e pelo estudo passei a considerar-me nesta nossa esquina do planeta como simples morador de uma praça sitiada. E desde então até hoje nada de substantivo se me desenhou no panorama internacional que me auto-