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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132 1178

No momento presente verifica-se que são apenas noventa e dois os inscritos no sindicato respectivo e que desses só em Lisboa prestam serviço cinquenta e nove de várias categorias, no Porto dezoito, em Coimbra sete e apenas oito em mais cinco localidades, a saber: Évora dois, Batalha um, Leiria três, Tomar um e Setúbal um.
Em Évora há realmente um, porquanto o segando reside em Lisboa e só ali vai aos domingos, que eu saiba.
O único que reside em Évora é ao mesmo tempo, e acima de tudo, funcionário da Repartição do Turismo, pelo que não pode acompanhar visitantes durante as horas da Repartição.
Quer dizer que, além de outro guia não sindicalizado e que é também funcionário da Comissão Municipal de Turismo, não há guias-intérpretes em número que, de longe, satisfaçam as exigências da enorme afluência de turistas que, de automóvel, de comboio ou de autocarro, demandam aquela maravilhosa cidade. Era, pois, necessário que se alterasse o citado Decreto n.º 10 292, especialmente no rigor do seu artigo 1.º, que estabelece sanções drásticas e injustas para os acompanhantes que não tenham licença de guias, actualmente sindicalizados.
É que a pena mínima é de prisão de quinze a trinta dias, não remível, e multa até 300$!
É sabido que em cidades menores, onde todos se conhecem, é descabido tal rigor de sanções. Bastaria que a lei autorizasse as comissões municipais de turismo a aceitarem a inscrição de voluntários que a título gratuito se prestassem a acompanhar turistas, com visível vantagem para a boa impressão que os visitantes colheriam da lhaneza e hospitalidade dos habitantes.

O Sr Costa Ramalho: - V Ex.ª dá-me licença?

O Orador: -Faz favor!

O Sr. Costa Ramalho:- Penso que V Ex.ª está a referir-se a possibilidade de utilizar estudantes como guias. Convirá, nesse caso, que eles estejam devidamente informados sobre a história e a arte locais, para não fazerem tristes figuras perante estrangeiros, que esperam de um estudante um pouco mais de cultura que de outro indivíduo qualquer.
E convirá também que sejam pessoas honestas e de recta intenção, para não divulgarem entre os estrangeiros - como em alguns casos do meu conhecimento - historietas fantasiosas e mal-intencionadas ...

O Orador: -É precisamente como V. Exª diz!
Na verdade, o turismo é uma rendosa indústria, que não pode confinar-se à frieza dos limites do interesse lucrativo, mas tem de ter na base a arte de bem-receber, que é, de facto, a mola propulsora e o íman irresistível para o seu natural e humano desenvolvimento.
Em muitas cidades e vilas há organismos culturais de carácter particular que procuram colaborar com as autoridades no campo turístico e da valorização dessas terras.
O Grupo Pró-Évora manteve em vários anos cursos de cicerones com a finalidade de angariar voluntários que acompanhassem os visitantes nacionais ou estrangeiros.
Anos houve, antes de 1936, em que esses cicerones eram os únicos acompanhantes possíveis.
Além desses cicerones poderiam também ser autorizados estudantes, que teriam o beneficio de aperfeiçoar os seus conhecimentos de línguas estranhas.
Oxalá que o anunciado decreto em estudo preveja e resolva estas dificuldades, que emergem da aplicação hirta e drástica do mencionado Decreto n.º 10292, de 1924.
Para terminar, consinta V. Ex.ª, Sr. Presidente, que aproveite o ensejo de estar no uso da palavra para felicitar Montemor-o-Novo pela conquista justa e necessária da sua escola comercial e industrial e para agradecer, como deputado do distrito de Évora, ao Sr. Ministro da Educação Nacional, o benefício que acaba de conceder àquela importante terra alentejana.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi, muito cumprimentado.

O Sr. Peres Claro: - Sr Presidente: na sequência de uma política de expansão do nosso ensino técnico,
que nesta Camará encontrou eco muito favorável aquando a discussão do II Plano de Fomento, acaba de ser anunciada ao País a criação de mais três escolas industriais e comerciais e de uma outra técnica elementar.
Quatro novas escolas é, porém, ainda muito pouco para satisfação das necessidades do País em mão-de-obra especializada, para satisfação dos anseios, angustiantes até, em que algumas terras vivem quanto ao futuro dos seus filhos, mas elas representam, sem dúvida, para além do esforço financeiro, que só em construções e apetrechamento será da ordem dos 50 000 contos, um acrescer de preocupações para o Ministério da Educação Nacional, pois, apesar das diligências feitas, e em curso, para ser debelada a crise de professores -a quê tantas vezes se tem referido o ilustre titular da pasta-, ela continua aguda e não sei se em piores perspectivas.
É que, Sr. Presidente, a falta de professores, que começam por não se formar ao ritmo das necessidades, agravando-se assim, ano a ano, o problema, não está apenas -e a prova começa a ser tirada ante a ostensiva atitude burocrática de alguns-, não está apenas, dizia, numa questão de dinheiro. É certo que, no que respeita ao ensino técnico, todos os anos as escolas são sangradas dos seus melhores provisórios pelos liceus, porque nestes o serviço recebe muito melhor remuneração. É certo que, limitados os quadros de efectivos e os seus acessos, muitos licenciados, ante as perspectivas de uma vida de professor provisório sem pagamento de férias, preferem basear noutro lado aquele assento de vida por que todos ansiamos e em que facilmente, e com menores responsabilidades, auferem mais do que ensinando.
Haverá, pois, nesta crise da falta de professores, tão debatida, mas parece que não a fundo estudada, uma forte causa económica, mas eu diria, analisando preferências e ocorrências, que ela está sobretudo dependente de uma causa moral.
A profissão de professor continua a ser uma profissão de devoção. O professor tem de sentir em si o prazer de criar - o que implica sérias responsabilidades, porque a criação será de caracteres e de inteligências - e tem de sentir em si um sempre renovado entusiasmo, para no inicio de cada ano lectivo recomeçar uma, tarefa que ele nunca acabará e que, se lhe dá por vezes a sensação de rotineira, tem para os alunos, sempre, o encanto da novidade, que não pode deixar de ser viva, e assim o deve compreender sempre o professor.
Sem querer repetir frases feitas, embora tradutoras de uma realidade efectiva, não há dúvida de que nos tempos de hoje quase todos procuram conseguir o máximo de proventos com o mínimo de trabalho e de responsabilidades. Escolher a profissão de professor significa ter de se abdicar desse princípio cómodo, significa ter de se abandonar este fascínio das grandes cidades de Lisboa e Porto, onde não há vagas a preencher ...
Esperemos os resultados dos tentativas de captação que estão em curso, ou estão em mente, e que visam